2º Trimestre/2016
Texto Base: Romanos 14:1-6
“Porque o Reino de Deus não é comida
nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo (Rm 14:17).
INTRODUÇÃO
Estudaremos nesta Aula os capítulos 14 e 15
da Epístola aos romanos. Em Romanos 12, o apóstolo Paulo abordou nosso relacionamento
com Deus (Rm 12:1,2), com nós mesmos (Rm 12:3-8), com nossos irmãos (Rm
12:9-16) e com nossos inimigos (Rm 12:17-21); no capítulo 13, ele trata do
relacionamento com as autoridades constituídas (Rm 13:1-7) e com a lei (Rm
13:8-10); nos capítulos 14 e 15, Paulo trata do intrincado problema do
relacionamento entre irmãos na fé que pensam de forma diferente em algumas
questões espirituais. Paulo classifica esses irmãos em dois grupos distintos:
os fortes e os fracos na fé. Ambos eram crentes em Cristo e ambos eram salvos
por Cristo. Embora esses dois grupos pertencessem à família de Deus e
participassem da mesma igreja, não estavam de acordo acerca de alguns pontos da
vida cristã como comida, bebida e dias sagrados. Segundo John Stott, os fracos
seriam, em sua maioria, cristãos judeus, cuja “fraqueza” consistia no fato de
permanecerem, de sã consciência, comprometidos com as regras judaicas
concernentes a dieta e dias religiosos. Ou seja, eles continuavam observando as
normas alimentares do Antigo Testamento, comendo apenas coisas previstas na
Torá (Rm 14:14,20). Quanto aos dias especiais, observavam tanto o sábado como
os festivais judaicos. A atitude conciliatória de Paulo com relação aos “fracos”
(não permitindo que os ”fortes” os desprezem, intimidem, condenem ou
prejudiquem) manifesta-se também no fato de ter respeitado o decreto do
Concílio de Jerusalém, que fora designado justamente para controlar os “fortes”
e salvaguardar a consciência dos “fracos”. Paulo buscava um ponto de equilíbrio
a fim de que a obra de Cristo não sofresse nenhum dano.
I. UMA IGREJA HETEROGÊNEA (Rm 14:1-12)
1.
A natureza da Igreja. O grande triunfo da igreja é ser
chamada de Corpo de Cristo, ser alicerçada na sua ressurreição e,
principalmente, fazer parte de uma unidade homogênea. Embora constituída por
pessoas de grupos diferentes, ela una e indivisível, ela forma um só corpo, o
Corpo de Cristo (1Co 12:27a); ela é chamada de “a
universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus”
(Hb 12:23a). Portanto, não há judeus e nem gentios, mas a Igreja de
Jesus Cristo. Desta feita, os crentes judeus e gentios em Roma deveriam se conscientizar
de que problemas de natureza local não poderiam sobrepor-se à universalidade da
Igreja. Essa exortação é atemporal.
Ao iniciar o capítulo 14, Paulo dá-nos conta
de que, na igreja do Senhor, existem os “enfermos na fé”, os “fracos”, ou seja,
as pessoas se diferenciam na igreja não só pela função que tenham, mas, também,
pelo seu nível de espiritualidade. Há pessoas que estão mais elevadas do que
outras no seu relacionamento com Deus.
A vida espiritual exige o crescimento, o
progresso do indivíduo e, como nem todos crescem de igual modo e na mesma
velocidade na vida material, o mesmo se dá em relação ao relacionamento com
Deus. Há, portanto, aqueles que crescem mais do que os outros espiritualmente,
crescimento este que, ao contrário do crescimento na vida física, não está
relacionado com o tempo, vez que se trata de um relacionamento com Deus, que
está fora da dimensão temporal.
Paulo admite a existência destes diferentes
níveis de espiritualidade, que são diferenças que nada têm que ver com a
salvação, pois, lembremos, o crescimento é um fato que ocorre após o
nascimento, ou seja, só cabe falar sobre diferentes níveis de crescimento
depois que a pessoa nasceu, ou seja, o apóstolo está a falar de pessoas salvas,
justificadas pela fé em Cristo. Tanto assim é que, em Romanos 14, em mais de
uma oportunidade na sua argumentação, Paulo mostra claramente que tanto os
“fracos” quanto os “fortes” são salvos e servem a Deus.
Portanto, a primeira nota do relacionamento
entre os cristãos é a inclusão, ou seja, um comportamento que busca trazer a
pessoa para o grupo, que procura integrar a pessoa, fazê-la se sentir
participante e integrante da igreja local, ainda que ela apresente uma
espiritualidade débil, fraca, ainda que seja um “menino em Cristo” ou alguém
que “mesmo devendo já ser mestre pelo tempo, ainda necessite de que se torne a
ensiná-lo quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus”.
Lamentavelmente, o que se verifica, nos nossos dias, é que raramente se tem
este comportamento inclusivista.
2.
Os fracos na fé. Quem eram os crentes fracos? É consenso
geral que os crentes chamados fracos eram oriundos das fileiras do judaísmo, os
quais, embora tivessem depositado sua fé em Cristo, ainda viviam comprometidos
com as regras judaicas concernentes à dieta (Rm 14:6,14,20) e aos dias
religiosos (Rm 14:5). Não tinham plena compreensão de que esses ritos
dietéticos e focados em calendários religiosos eram meras sombras do evangelho
de Cristo, aos quais pela obra expiatória do Filho de Deus estavam desobrigados
de cumprir. A deficiência de conhecimento os tornou crentes julgadores,
carregados de muitos escrúpulos. Além de observar os ritos relacionados ao
culto judaico, eles queriam que os gentios convertidos fizessem o mesmo. Situações
semelhantes ocorreram com os crentes de Corinto (1Co 8:1-13), da região da Galácia
e Colossos. Aos dois grupos de crentes de Roma – judeus e gentios -, Paulo
recomendou que agissem com amor e respeito mútuo. Na recomendação de Paulo
podemos ver três princípios fundamentais.
- O
primeiro princípio é da tolerância. O que é tolerância? É
qualidade de quem é tolerante. Mas o que é ser tolerante? É aquela pessoa que
sabe respeitar as opiniões contrárias à sua; é aquela pessoa que sabe desculpar
as falhas, ou fraquezas de seus semelhantes. Para nós tolerância tem o sentido
de suportar, ter paciência, tolerar as falhas daqueles irmãos que, por diversas
razões, ainda não chegaram a uma compreensão do que é a vida cristã e como ela
deve ser vivida. Em sendo assim, e assim é, podemos resumir em uma única
palavra a condição para que um crente seja tolerante: ser cheio do Espírito
Santo.
Os cristãos podem ter comunhão mesmo sem
concordar sobre questões não essenciais. É o que Paulo recomenda em Rm 14:1: “Ora, quanto ao que está enfermo na fé,
recebei-o, não em contendas sobre dúvidas”. O irmão que desfruta plenamente
a liberdade cristã crê, com base nos ensinamentos do Novo Testamento, que todos
os alimentos são puros, pois são santificados pela Palavra de Deus e pela
oração (1Tm 4:4,5). O irmão com consciência fraca pode ter receio de comer
carne de porco ou qualquer outra carne. Pode ser vegetariano. É o que o
apóstolo Paulo diz em Romanos 14:3: “Porque
um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes”.
- O
segundo princípio é o da aceitação mútua. O cristão maduro
não deve desprezar seu irmão mais fraco. O irmão mais fraco não deve considerar
pecado quem come presunto, camarão, lagosta ou carne e porco. Deus o acolheu;
portanto, ele é membro legítimo da família de Deus. É o que Paulo diz em
Romanos 14:3: “O que come não despreze o
que não come; e o que não come não julgue o que come; porque Deus o recebeu por
seu”. Aqui, Paulo mostra o ponto de equilíbrio – o respeito pelas
convicções de cada um. Paulo não entra em juízo de valor, decidindo por um dos
lados. Mas procura mostrar que acima de tudo a lei do amor fraternal deve
imperar nesses casos. O que comia carne não deveria desprezar o que não comia e
o que não comia carne também não deveria desprezar o que comia.
- O
terceiro princípio é do acolhimento dos irmãos e não de julgamento – “Quem és
tu que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai;
mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar”(Rm
14:4). De acordo com este princípio
todo cristão nascido de novo é servo do Senhor, e não temos direito de julgá-lo
como se fôssemos seus senhores. O crente precisa discernir o certo do errado;
precisa distinguir entre os falsos profetas e aqueles que trazem o fiel ensino
do Senhor. Contudo, Paulo condena a atitude de julgar um irmão, um servo de
Cristo, por este ter uma opinião diferente acerca de assuntos secundários como
dieta e calendário religioso. Nosso papel na igreja não é nos assentarmos na
cadeira de juiz para julgar os irmãos, mas acolhê-los em amor.
Paulo mostra que o objetivo do acolhimento
dos mais fracos é o fortalecimento na fé - “...
porque poderoso é Deus para o firmar”. O problema é que uma acolhida sem a
instrução trará como resultado final o mesmo que a rejeição: a destruição
espiritual da pessoa, pois o povo de Deus é destruído quando lhe falta
conhecimento (Oséias 4:6). Infelizmente, muitas igrejas locais, hoje em dia,
até superam o obstáculo da rejeição, acolhendo afetuosamente os fracos na fé
que chegam a elas, mas não completam o comportamento inclusivista, deixando de
dar a devida instrução ao fraco, para que ele se fortaleça, e o resultado disto
é a presença cada vez maior de crentes que, apesar do “tempo de casa”, não
conseguem se desprender dos rudimentos doutrinários, precisamente o estado
espiritual denunciado e reprovado pelo escritor aos hebreus (Hb 5:12-14).
3.
Os fortes na fé. Quem eram os crentes fortes? Eram aqueles
crentes, judeus ou gentios que, convertidos a Cristo, haviam compreendido com
mais clareza a liberdade cristã, desvencilhando-se dessa forma dos escrúpulos
dos rituais judaicos com respeito à dieta e ao calendário religioso. Os crentes
fortes eram a maioria da igreja de Roma, e Paulo com eles se identificava (Rm
15:1). Embora Paulo deixe claro que acredita que a posição dos fortes está
certa (Rm 14:14,20), estes não tinham o direito de desprezar os crentes fracos,
mas deviam acolhê-los.
II. UMA IGREJA TOLERANTE (Rm 14:13-23)
1. A lei da liberdade. O
crente não deve ser pedra de tropeço no caminho do irmão em Cristo. Devemos
amá-lo como ele é. Não se deve fazer julgamento precipitado, fazendo juízo de
valor sobre ele, acusando-o de estar em pecado, tomando como base nossas crenças
e convicções. Deve-se respeitar a lei da liberdade em Cristo Jesus. Paulo diz “...
que cada um de nós dará conta de si mesmo
a Deus” (Rm 14:12). Em vez de julgarmos nossos irmãos em Cristo quanto a
questões moralmente indiferentes, deveríamos tomar o propósito de jamais fazer
algo que atrapalhe um irmão em seu progresso espiritual. Paulo é bem explícito
sobre isso em Romanos 14:13: “Assim que
não nos julguemos mais uns aos outros; antes, seja o vosso propósito não pôr
tropeço ou escândalo ao irmão”. Aqui, Paulo mostra que em vez de ser um
tropeço no caminho uns dos outros, gerando problemas na igreja e escândalos
fora dela, os cristãos deveriam cuidar e amar uns aos outros.
Paulo sabia, como nós também sabemos, que
não há mais alimentos cerimonialmente impuros como havia para os judeus que
viviam debaixo da lei. Disse ele: “Eu sei
e estou certo, no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma imunda, a não
ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda” (Rm 4:14). O
alimento que ingerimos é santificado pela palavra de Deus e pela oração (1Tm
4:5). É santificado pela oração quando pedimos que Deus o abençoe para sua
glória e o fortalecimento de nosso corpo a seu serviço. Se, porém, um irmão
fraco na fé acredita que é errado consumir carne de porco, por exemplo, então é
errado. Se ele comer carne de porco, estará agindo contrariamente à consciência
que Deus lhe deu.
Observe, porém, com atenção o argumento: “...
nenhuma coisa é de si mesma imunda...”.
Devemos entender, aqui, que Paulo está se referindo apenas a essas questões
indiferentes. Muitas coisas na vida são impuras, como revistas, sites e filmes
pornográficos, piadas sujas e toda espécie de imoralidade. A Graça de Deus nos
justificou, abolindo o domínio do pecado e fazendo-nos livres em Cristo. Mas,
não devemos confundir liberdade em Cristo com libertinagem (antinomismo). A
liberdade em Cristo deve ser tratada com responsabilidade. Foi o que o apóstolo
Paulo disse aos em Gálatas: “Porque vós,
irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis, então, da liberdade para dar
ocasião à carne...” (Gl 5:13). Portanto, a declaração de Paulo deve ser
entendida dentro do seu contexto. Os cristãos não se contaminam cerimonialmente
ao ingerir alimentos declarados impuros pela lei de Moisés.
2.
A lei do amor. Veja a expressão de Paulo em Romanos 14:15:
“Mas, se por causa da comida se contrista
teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida
aquele por quem Cristo morreu”. Aqui, Paulo está dizendo para os crentes
que o amor fraternal, e não suas convicções dietéticas, deve ser o vetor de
suas ações.
Quando um crente forte na fé faz uma
refeição com um irmão mais fraco na fé, deve insistir em seu direito legítimo
de comer carne de porco ou lagosta, mesmo sabendo que ele considera errado
consumir esses alimentos? Se esse crente o fizer, não estará agindo segundo o
amor, pois o amor pensa nos outros, e não em si mesmo. O amor abre mão do
direito legítimo em benefício de um irmão. Um prato de comida não é tão
importante quanto o bem-estar espiritual de alguém “por quem Cristo morreu”. Se, no entanto, o crente considera forte
agir de forma egoísta, ele pode causar danos irreparáveis à vida do irmão
considerado fraco na fé. Quando lembramos que a alma do nosso irmão foi
comprada por um preço tão alto, isto é, o sangue precioso do Cordeiro de Deus,
vemos que não vale a pena impor nossos direitos. Falando sobre a atitude do crente
considerado forte em relação ao fraco, John Stott escreve:
“Se Cristo o amou a ponto de morrer por
ele, por que não podemos amá-lo o suficiente para controlar-nos, evitando
magoar a sua consciência? Se Cristo se sacrificou por seu bem-estar, que direito
temos nós de prejudicá-lo? Se Cristo morreu para salvá-lo, não nos importa se
vamos destruí-lo?”.
Entretanto, é bom ressaltar que, quando o
crente, considerado fraco na fé, supervaloriza a dieta alimentar pensando que
abster-se de certos alimentos o torna mais aceitável a Deus, comete um grande
equívoco, uma vez que “o Reino de Deus
não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”
(Rm 14:17). No reino de Deus, o que importa, de fato, não são as leis
alimentares, mas as realidades espirituais. Viver um cristianismo legalista é
inverter as prioridades, é colocar as coisas de ponta-cabeça, é deixar de
buscar as primeiras coisas primeiro.
3.
A lei da espiritualidade. Paulo conclui seu
argumento mostrando o modelo de espiritualidade que deve conduzir tanto os
crentes considerados fortes como os fracos na fé. Diz ele: “Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de
Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova.
Mas aquele que tem dúvidas, se come, está condenado, porque não come por fé; e
tudo o que não é de fé é pecado” (Rm 14:22,23).
Aqui, Paulo distingue entre o crer e o agir,
entre convicção pessoal e a conduta em público. O crente precisa ser
consistente para não falar uma coisa e fazer outra, não manter uma convicção e
agir na contramão dessa convicção. Hernandes Dias Lopes argumenta que se um
crente fraco, prisioneiro de seus escrúpulos, come carne contra suas convicções
para agradar os crentes fortes, nisso está pecando, porque essa conduta não
procede de fé.
Para o irmão mais fraco, é errado comer o
que sua consciência não aprova. No caso dele, o consumo desse alimento não
provém da fé, sendo, portanto, contrário à sua consciência. Todo ato que viola
a consciência é pecado. Como diz Paulo: “e
tudo o que não é de fé é pecado”. Isto significa que tudo o que não é feito
com convicção de que está de acordo com a vontade de Deus é pecaminoso, embora
possa ser em si mesmo certo. Este ensino aplica-se não apenas a alimentos, mas
a tudo. Se alguém estiver convencido de que algo é contrário à lei de Deus, e
apesar disso a praticar, é culpado diante de Deus, embora a coisa em si seja
lícita.
É bom desfrutar plenamente a liberdade
cristã e viver sem escrúpulos infundados. Mas é melhor abrir mão de direitos
legítimos que ter de condenar a si mesmo por escandalizar outros.
Bem-aventurado é aquele que evita ser tropeço para outros (Rm 14:22).
III. UMA IGREJA ACOLHEDORA (Rm 15:1-13)
Neste tópico estudaremos o capítulo 15. Aqui,
Paulo continua a discussão do capítulo 14 sobre como os crentes devem se
relacionar entre si, especialmente quando existem desacordos sobre assuntos
formadores de opinião. Não há dúvida de que a variedade de opiniões sobre
muitos assuntos estará bem representada em qualquer igreja local, e a igreja em
Roma não era uma exceção. Paulo usa os termos “forte” e “fraco” para descrever
os crentes. Os crentes “fortes” são aqueles que entendiam sua liberdade em
Cristo e são sensíveis às preocupações dos outros. Eles entendem que a
verdadeira obediência vem do coração e da consciência de cada indivíduo. Os
crentes “fracos” são aqueles cuja fé ainda não amadureceu a ponto de se
livrarem de certos rituais e tradições. Os crentes “fortes” podem operar numa variedade
de situações e exercer uma boa influência para o bem, enquanto os “fracos”
percebem que devem se manter afastados de certas situações a fim de manterem a
consciência limpa. Mas ambos ainda são crentes e ambos estão procurando servir
a Deus (Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal).
1.
O exemplo dos cristãos maduros (Rm 15:1,2).
Cristãos maduros são aqueles que são convictos de sua fé; nada o abala; nada o
tira do Caminho; é resiliente (Rm 8:35,36). São exemplos daqueles considerados
fracos na fé, ou seja, daqueles que não saíram ainda dos rudimentos da fé (Hb
6:1,2).
O crente maduro deve agradar aos irmãos na
fé, e não a si mesmo (Rm 15:1,2) - “Mas nós que somos fortes devemos suportar
as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos. Portanto, cada um de nós
agrade ao seu próximo no que é bom para edificação”.
O cristão maduro, isto é, o cristão forte, por
possuir uma fé mais substancial, deve servir de exemplo para aqueles que ainda
não alcançaram esse nível de maturidade. Nunca deve ser egoísta, mas deve estar
preocupado com o bem-estar da pessoa mais fraca que está ao seu lado na igreja.
A atitude de agradar aos outros deve ser tomada com um objetivo em mente:
encorajar e edificar o outro crente na fé.
Existe uma linha muito tênue em nosso
caminho, e o mais forte não deve forçar o mais fraco a mudar de posição antes
que este esteja pronto, nem deve servir de instrumento aos escrúpulos dos mais
fracos permitindo que estes se tornem regulamentos da igreja. Ao invés disto,
os crentes mais fortes devem ajudar os mais fracos na sua fé, e isso irá
beneficiar a igreja como um todo. Como bem disse o pr. José Gonçalves, “o
crente forte é responsável também pelo crescimento e amadurecimento do fraco,
mostrando-lhe com amor o que significa ser livre em Cristo”.
2.
O exemplo de Cristo (Rm 15:3). Paulo argumenta que se o
próprio Cristo não agradou a si mesmo, então por que os crentes que se
consideravam mais maduros na fé não poderiam agir da mesma forma? Cristo foi o
ser “mais forte” que já viveu, mas Ele não agradou a si mesmo - “Porque também Cristo não agradou a si mesmo,
mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam”.
Despojou-se de seus direitos e prerrogativas e veio para servir. Esvaziou-se e
tornou-se servo. Submeteu-se à vontade do Pai e suportou toda sorte de
sofrimento para salvar tanto os crentes fortes como os crentes fracos. Nenhum
sacrifício que fazemos pode equiparar-se ao do Calvário. Portanto, nós que
fomos chamados pelo seu nome, também devemos escolher agradar mais a Deus do
que a nós mesmos.
3.
O exemplo das Escrituras (Rm 15:4) – “Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para
que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança”.
Paulo adverte que as Escrituras Sagradas é o
principal instrumento aferidor da nossa espiritualidade. Ele exorta os crentes,
tantos os fortes como os fracos, dizendo que o ensino das Escrituras deve ter
um efeito prático em nossa vida. As Escrituras registram histórias daqueles que
agradaram e dos que não agradaram a Deus. Aqueles que erraram aprenderam com
seus erros. Devemos suportar, como Cristo suportou, e ser encorajados com os
exemplos de outros crentes. As biografias dos santos que venceram grandes
obstáculos servem de exemplo daquilo que pode ser feito com a ajuda de Deus (cf
Hb cap. 11). Isso nos dá esperança enquanto esperamos pacientemente pelas
promessas de Deus. O conhecimento das Escrituras afeta nossas atitudes em
relação ao presente e ao futuro. Quanto mais sabemos sobre o que Deus fez no
passado, maior será a nossa confiança no que Ele fará nos dias futuros. Devemos
ler diligentemente as Escrituras Sagradas para aumentarmos a nossa confiança naquilo
que Deus considera ser o melhor para nós. Jesus foi contundente ao dizer: “Examinais
as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de
mim testificam” (João 5:39).
CONCLUSÃO
Na Igreja, naquela chamada por Jesus de “a
minha Igreja”, o espírito de intolerância precisa ser banido. Sabemos, pela
Bíblia, que o Senhor nosso Deus, nesta dispensação da Graça, colocou à
disposição de seus filhos as condições necessárias para o viver a vida cristã.
Assim, podemos afirmar, com segurança, que o segredo para o crente que deseja
ser tolerante é o encher-se do Espírito Santo. Ninguém será tolerante,
principalmente, sem o amor, sem a humildade, sem a paz, sem a mansidão, sem a
longanimidade, para citar apenas alguns aspectos do Fruto do Espírito descrito
em Gl 5:22. Enfim, o objetivo maior de todo crente deve ser o crescimento do
Reino de Deus e a edificação da Igreja, por isso questões indiferentes e
irrelevantes em matéria de salvação devem ser toleradas na igreja local e os
“fortes” devem agir em relação aos “fracos” não com menosprezo ou orgulho, mas
com “calorosa recepção”, entendendo que é necessário receber o “fraco” e
instruí-lo para que ele, também, cresça e se torne um “forte” no futuro.
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível
no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia
de Estudo Pentecostal.
Bíblia
de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário
Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário
do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Guia
do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards
Revista
Ensinador Cristão – nº 66. CPAD.
Romanos – O Evangelho segundo Paulo. Rev. Hernandes Dias Lopes.
Hagnos.
A Mensagem de Romanos. John Stott. ABU.
Maravilhosa
Graça. José Gonçalves. CPAD.
Caramuru
Afonso Francisco. A Tolerância para com os fracos na fé. PortalEBD_2006.
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