2º Trimestre/2016
Texto Base: Romanos 15:20-29
“E desta maneira me esforcei por
anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar
sobre fundamento alheio” (Rm 15:20).
Nesta Aula, daremos continuidade ao capítulo
15 da Epístola aos Romanos, onde Paulo trata do respeito e amor que os crentes
maduros na fé devem ter para com os irmãos considerados fracos, aqueles que
ainda se detêm nos rudimentos da fé. Assim como fomos acolhidos pela
misericórdia de Jesus Cristo precisamos acolher aqueles que ainda não
adquiriram maturidade espiritual capaz de gerar convicção e firmeza na fé. Acolher
não somente estes, mas também os que ainda estão fora e precisam ouvir a
mensagem do Evangelho. Paulo foi, sem sombra de dúvidas, o maior missionário da
igreja de todos os tempos. Ele plantou igrejas nas províncias da Galácia, Macedônia,
Acaia e Ásia Menor. Em toda a parte, seu objetivo era pregar o evangelho onde
ele ainda não tinha sido anunciado. Tendo completado sua obra no Oriente,
olhava para o Ocidente e se propunha evangelizar a Espanha. Ele esperava que a
igreja em Roma o apoiasse nessa empreitada com oração e apoio logístico, pois,
sem a ajuda dessa igreja, ele não teria como continuar anunciando a Cristo aos
que estavam perdidos. Esta é a cosmovisão de quem é verdadeiramente vocacionado
para obra missionária: coloca o seu coração na miséria dos outros, acolhendo-os
ao redil do Senhor; ele visa o engrandecimento do Reino de Deus e não o engrandecimento
de si próprio.
I. A NECESSIDADE DE UMA COSMOVISÃO
MISSIONÁRIA (Rm 15:14-21)
1. O propósito da missão. “que eu seja ministro de Jesus Cristo entre
os gentios, ministrando o evangelho de Deus, para que seja agradável a oferta
dos gentios, santificada pelo Espírito Santo” (Rm 15:16).
Paulo tinha um propósito urgente e
essencial: a pregação do evangelho aos gentios. O propósito de Paulo é que os
gentios, ao apresentar no altar suas vidas convertidas e santificadas pelo
Espírito Santo, fossem como oferta aceitável a Deus. Paulo não era um pregador
pragmático. Não se contentava apenas com números. Não se deixava impressionar
por grandes movimentos. Ele queria vidas transformadas. Queria que os membros
da igreja fossem ofertas aceitáveis a Deus. É uma visão muito diferente do orbe
evangélico brasileiro! Ou estou enganado?
É uma grande tragédia que muitos obreiros na
igreja contemporânea tenham substituído o evangelho de Deus por outro
evangelho, sonegando ao povo o Pão verdadeiro, dando-lhe o farelo de doutrinas
engendradas no laboratório do engano. Pululam nos púlpitos falsas doutrinas;
florescem no canteiro do evangelicalismo brasileiro novidades estranhas.
Escasseia nas pregações e nas músicas contemporâneas o santo evangelho de
Cristo.
2.
O agente da missão. O Agente da obra missionária é o
Espírito Santo. Todo o ministério de Paulo foi marcado pela atuação do Espírito
Santo (1Co 2:1-4). O ser humano não tem o poder de persuadir e converter
ninguém dos seus vis pecados. Só ao Consolador foi dada essa missão – “E, quando ele vier, convencerá o mundo do
pecado, e da justiça, e do juízo” (João 16:8). Convence o homem do pecado,
pois o homem sem Deus não crê em Jesus e, pela atuação do Espírito Santo, passa
a crer que a Palavra de Deus é a verdade(João 17:17) e que existe o pecado que
faz divisão entre o homem e Deus(Is 59:2) e que somente Jesus pode derrubar a
parede de separação que existe(Ef 2:14), através do perdão dos pecados. A
atuação do Espírito Santo é indispensável para que o homem seja conscientizado
da justiça divina e que Deus, em Cristo, propiciou um meio de salvação para o
homem. Jesus não está mais entre nós, fisicamente, e, portanto, é necessário
que o próprio Deus se manifeste e demonstre a sua justiça, o que se faz
mediante a Pessoa do Espírito Santo. Por fim, deve o homem ser convencido a
respeito do juízo, ou seja, de que o mal e o pecado já foram julgados por Deus
e que estão aguardando apenas a execução da sentença, algo que somente Deus
pode fazer, através do Espírito Santo. Para que alguém seja salvo, dizem as
Escrituras, é preciso que nasça de novo, ou seja, que a pessoa se torne uma
nova criatura. Para que isto ocorra é preciso que a pessoa nasça da água e do
Espírito (João 3:5,6). Ninguém poderá alcançar a salvação se não houver uma
operação do Espírito Santo na sua vida, operação que é denominada pelos
teólogos de "regeneração".
3.
A esfera da missão (Rm 15:19.20) – “pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus; de
maneira que, desde Jerusalém e arredores até ao Ilírico, tenho pregado o
evangelho de Jesus Cristo. E desta maneira me esforcei por anunciar o
evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre
fundamento alheio”.
Em sua esfera missionária, Paulo se esforçou
por pregar o evangelho em territórios ainda não alcançados. Seu público era
constituído principalmente de gentios que não tinham ouvido falar de Cristo.
Assim, o apóstolo não edificou “sobre
fundamento alheio”.
Ao formar a base para pregação entre os
gentios, o ministério de Paulo cumpriu a profecia de Isaías 52:15, segundo a
qual os gentios que jamais haviam sido evangelizados veriam e os que jamais
haviam ouvido as boas novas compreenderiam e responderiam com fé autêntica - “antes, como está escrito: Aqueles a quem não
foi anunciado o verão, e os que não ouviram o entenderão” (Rm 15:21).
Começando em Jerusalém e expandindo seu raio
de atuação ao “Ilírico” (região da antiga Iugoslávia), Paulo havia divulgado o
evangelho de Cristo. A expressão “desde Jerusalém [...] até ao Ilírico” (Rm
15:19) descreve a extensão geográfica do seu ministério, e não a ordem
cronológica.
II. A NECESSIDADE DO PLANEJAMENTO
MISSIONÁRIO (Rm 15:22-29)
1. Estabelecer bases. O
planejado destino da próxima viagem de Paulo era a Espanha. Ele ansiava por visitar
Roma e se Deus quisesse, logo ele estaria lá (Rm 1:10-13); ele sabia que Roma
era a cidade mais importante do império, com uma influência que se espalhava
por toda parte; ministrar ali seria estratégico, no entanto, seus olhos
permaneciam na Espanha (Rm 15:24). O apóstolo já considerava cumprida a sua
missão no Oriente: Macedônia, Acaia, Galácia e todas as regiões onde havia
plantado igrejas. Seu interesse agora era o Ocidente. Mas, era necessário primeiramente
estabelecer uma base de apoio. Um dos princípios básicos da implantação de um
projeto evangelístico é feito primeiramente com o estabelecimento de uma base missionária,
um ponto de apoio. Roma seria o lugar onde o apóstolo receberia o apoio para
avançar com a obra missionária, depois de ter ido a Jerusalém (Rm 15:25).
Assim, Paulo cumpriria estrategicamente duas missões importantes: visitar
Jerusalém levando a oferta angariada nas igrejas da Macedônia e Acaia, bem
como, visitaria Roma, estabelecendo ali um ponto de apoio para a sua missão no
Ocidente - “quando partir para a Espanha,
irei ter convosco; pois espero que, de passagem, vos verei e que para lá seja
encaminhado por vós, depois de ter gozado um pouco da vossa companhia” (Rm
15:24). Certamente, esse apoio envolveria alimento, dinheiro, companheiros e
meios de viagens. Não se faz missões sem esse tipo de apoio.
2.
Estabelecer intercâmbio (Rm 15:26-29). Os cristãos na
Macedônia e na Acaia haviam contribuído de bom grado com a coleta voluntária e
oportuna feita em benefício dos cristãos pobres. Afinal, os que contribuíram
haviam sido espiritualmente beneficiados pela proclamação do evangelho a eles
por intermédio dos cristãos judeus. Não era demais, portanto, esperar que
compartilhassem bens materiais com seus irmãos na Judéia.
O Rev. Hernandes Dias Lopes, citando
Leenhardt, destaca que essa oferta econômica era uma expressão necessária do
amor fraternal. Também os fundos arrecadados foram dados de bom grado,
espontaneamente, e não extorquidos. Não se tratou de uma obrigação
desagradável, ou uma extorsão, mas de uma santa permuta, pois aquele que
recebeu é feliz em retribuir, sob outra forma. Ainda essa oferta foi uma
espécie de koinonia, uma comunhão, uma reciprocidade de serviços. Cada qual
dava do que tinha e recebia o que lhe faltava. Assim todos viviam
reciprocamente em dívida e “obrigados”. Enfim, a referida oferta foi um sinal
evidente de unidade da igreja. Ah se as igrejas locais brasileiras lutassem em
prol desse bem tão precioso, a unidade! Certamente, já teríamos influenciado
sobremaneira a sociedade brasileira! Quando há unidade na igreja local, as pessoas oram
mais umas pelas outras, são mais misericordiosas, ajudam-se e buscam sempre a
solução de possíveis conflitos, de forma que a igreja fica fortalecida. Mas se
uma igreja é dominada pelo espírito faccioso, não poderá crescer, mesmo que
seja rica em dons e manifestações espirituais, veja o caso da igreja em Corinto.
Igrejas unidas tendem a ser mais exitosas em seus intentos, mas igrejas
divididas não costumam ter força suficiente para alcançar desafios.
III. A NECESSIDADE ESPIRITUAL NA OBRA
MISSIONÁRIA (Rm 15:30-33)
Paulo não apenas cuida do rebanho, mas
anseia também ser cuidado por ele. Não apenas ora pela igreja, mas também roga
orações à igreja em seu favor.
1.
A necessidade da cobertura espiritual. Ser vocacionado
para obra missionária significa entrar numa batalha entre a luz e as trevas,
entre o mal e o bem, entre Deus e o Diabo. Desta feita, o missionário necessita
de cobertura espiritual. Paulo pede orações à igreja. Ele acreditava que Deus
age nas circunstâncias – “E rogo-vos,
irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que combatais
comigo nas vossas orações por mim a Deus; para que seja livre dos rebeldes que
estão na Judéia, e que esta minha administração, que em Jerusalém faço, seja
bem aceita pelos santos; a fim de que, pela vontade de Deus, chegue a vós com
alegria e possa recrear-me convosco” (Rm 15:30-32).
Segundo o Rev. Hernandes Dias Lopes, a
oração é uma batalha com Deus e contra o diabo, a carne e o mundo. Não há nada
de amenidade na oração; ela é uma luta acesa e renhida. A sonolência e a
indolência não combinam com a oração. Ela é uma luta que exige diligência e
esforço. As palavras “combatais comigo" trazem à mente um atleta dando o
melhor de si numa competição. Devemos ser tão fervorosos em nossa oração quanto
um atleta é dedicado em suas competições.
Paulo
faz quatro pedidos específicos de oração:
Em
primeiro lugar, pede que orem para ele se ver livre dos
rebeldes da Judéia que eram opositores fanáticos do evangelho, como ele próprio
havia sido. Ele sabia que a maior oposição ao seu ministério procedia desses
rebeldes. Eles consideravam Paulo um traidor. Eles pensavam que Paulo estava
pervertendo a religião judaica. Paulo pede orações à igreja de Roma para não
ser vítima de emboscada desses rebeldes em sua visita à cidade de Jerusalém.
Embora ele não tivesse medo de morrer, tomava precauções para não morrer.
Em
segundo lugar, pede que orem para os santos judeus
aceitarem de bom grado a oferta coletada entre as igrejas da Macedônia. Ainda
existiam fortes preconceitos contra os cristãos gentios e contra os que
pregavam o evangelho aos gentios. Havia a possibilidade de os cristãos judeus
se ofenderem com a ideia de receber “esmolas”. Muitas vezes é preciso mais
graça para receber que para dar. John Stott diz que, aceitando a coleta trazida
pelos apóstolos, os líderes cristãos judeus estariam endossando o evangelho que
Paulo pregava e sua aparente desconsideração pela lei e pelas tradições
judaicas. Se a rejeitassem, porém, isso seria uma verdadeira tragédia, que
aumentaria irrevogavelmente a rixa entre cristãos judeus e cristãos gentios. A
aceitação da oferta fortaleceria a solidariedade entre judeus e gentios no
corpo de Cristo.
Em
terceiro lugar, Paulo pede que orem para que o Senhor
permita que a visita à igreja em Roma seja repleta de alegria – “a fim de que, pela vontade de Deus, chegue a
vós com alegria...” (Rm 15:32). As palavras “pela vontade de Deus” expressam o desejo de Paulo de ser conduzido pelo
Senhor em todas as coisas. Diferentemente de alguns arrogantes e pretensiosos
obreiros contemporâneos, Paulo não ordena nem exige coisa alguma de Deus; antes,
submete-se à agenda de Deus e à sua soberana vontade. Concordo com John Stott
quando diz que o propósito da oração não é, de maneira alguma, submeter a
vontade de Deus à nossa, mas alinhar nossa vontade à dele (1João 5:14; Mc
6:10).
Em
quarto lugar, Paulo pede oração para que sua visita lhe
permita desfrutar refrigério em meio ao seu ministério tumultuado e exaustivo –
“[...]e possa recrear-me convosco” (Rm
15:32). Queria chegar à capital do império e visitar os crentes com alegria
para recrear-se no meio deles.
Paulo foi a Roma não conforme havia
planejado, mas como Deus havia planejado. Chegou preso e algemado, depois de
uma injusta prisão e um terrível naufrágio, mas o plano de Deus foi cumprido, a
vontade de Deus foi feita e a obra de Deus prosperou por seu intermédio.
2.
A necessidade do refrigério espiritual. Se tudo ocorresse
bem em Jerusalém, Paulo esperava visitar depois a igreja de Roma, para
finalmente ser capaz de se recrear com eles e se revigorar (Rm 15:32). Paulo
não fala à igreja do alto de uma arrogância prepotente, mas deseja estar
presente com os crentes e recrear-se no meio deles. Paulo necessitava de um
tempo de descanso e recuperação entre crentes maduros! No entanto, não
consegue! Sentenças e audiências, mais anos de permanência na prisão,
aguardavam por ele na Palestina!
Paulo foi impedido de ir a Roma no tempo que
queria ir e da forma que desejava. Porque não pôde visitar a igreja de Roma
dentro desse tempo planejado por ele, acabou escrevendo à igreja. Se Paulo
tivesse visitado a igreja, talvez fôssemos privados desse grande tesouro que é
a Epístola aos Romanos.
Quando nossos caminhos parecem fechados,
Deus está abrindo-nos uma porta maior. Os propósitos de Deus não podem ser frustrados.
Os caminhos de Deus são mais altos do que os nossos. Os impedimentos de Deus
estavam na agenda de Deus para um benefício maior, não apenas da igreja de
Roma, mas de todos os cristãos, de todos os tempos.
Contudo, a visita de Paulo a Roma não era
apenas sonho de Paulo; era também projeto de Deus. Quando Paulo foi preso em
Jerusalém, ao testemunhar ousadamente perante o sinédrio judaico, o próprio
Deus apareceu a ele numa visão e lhe disse: "... Coragem! Pois do modo por
que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que também o
faças em Roma" (At 23:11). O tempo de Deus não é o nosso.
CONCLUSÃO
Paulo conclui o capítulo 15 da Epístola
pedindo, em oração, a presença do Deus sobre os crentes: “E o Deus de paz seja com todos vós. Amém!” (Rm 15:33). Do começo ao
fim da Epístola, Paulo se preocupa com unidade entre judeus e gentios. Por
isso, conclui rogando que o Deus da paz fosse com todos eles. Em vez de falar
sobre a paz de Deus, o apóstolo fala sobre o Deus da paz. Quando temos o Deus
da paz, temos a paz com Deus e a paz de Deus. Deus é melhor que suas bênçãos.
Quando temos Deus, temos tudo o que Deus é e tudo o que Deus dá. Ele é a fonte
de tudo o que há de bom agora e eternamente. Amém!
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível
no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia
de Estudo Pentecostal.
Bíblia
de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário
Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário
do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Guia
do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards
Revista
Ensinador Cristão – nº 66. CPAD.
Romanos – O Evangelho segundo Paulo. Rev. Hernandes Dias Lopes.
Hagnos.
A Mensagem de Romanos. John Stott. ABU.
Maravilhosa
Graça. José Gonçalves. CPAD.
Prezado irmão, Deus continue te abençoando por esse maravilhoso conteúdo, usando-o para toda boa obra; vai me ajudar muito no ensino dessa lição. fica na paz.
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