3º Trimestre/2018
Texto Base: Levítico 10:1-11
“E disse
Moisés a Arão: Isto é o que o SENHOR falou, dizendo: Serei santificado naqueles
que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo. Porém Arão calou-se” (Lv.10:3).
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos do perigo de cultuarmos a Deus de maneira errada,
ou seja, de levarmos “fogo estranho diante de Deus”, que consiste em contrariar
os mandamentos divinos quanto à adoração. Nem toda adoração agrada a Deus; há o
perigo de trazermos “fogo estranho” diante do altar e do trono do Senhor (Lv.10:1,2).
O Livro de Levítico enfatiza que Deus é santo e exige santidade do seu povo e
de todos aqueles que são chamados para o seu serviço. Sem santidade ninguém
pode se aproximar dEle, atrair sua presença ou ver a sua manifestação no culto
que oferecemos a Ele. Nadabe e Abiú, filhos de Arão, não atentaram para isso, e
se apresentaram diante do altar do incenso de forma irreverente e irresponsável.
Pecaram deliberadamente contra o Senhor Deus de Israel. O juízo do Senhor foi
imediato: eles morreram, não apenas fisicamente, também espiritualmente. Isto
nos ensina uma lição: não apenas a adoração a falsos deuses é proibida, mas
também a adoração ao verdadeiro Deus de maneira errada (Ml.1:7-10; Os.6:4-6; Am.5:21).
Devemos, pois, estarmos cônscios de que Deus não se deixa escarnecer (Gl.6:7);
Ele exige santidade, pureza e reverência de cada um de seus filhos, quando
formos nos apresentar diante dEle, principalmente daqueles que fazem parte do
ministério eclesiástico e que estão sempre em evidência.
I. OS PRIVILÉGIOS DE NADABE E ABIÚ
Felizes são os pais cujos filhos são ajuizados. A Bíblia narra alguns
filhos que deram trabalho aos seus pais: Jacó e Esaú (Gn.25:28); Hofni e
Finéias (1Sm.4:11); Nadabe e Abiú (Lv.10:1,2). Trataremos, aqui, a respeito dos
filhos de Arão, Nadabe e Abiú. Eles eram filhos privilegiados, de classe social
nobre; tinham tudo o que queriam, mas eram desprovidos de prudência e
sobriedade. Na próxima Aula trataremos
da “Sobriedade na Obra de Deus”.
Vejamos, a seguir, algumas particularidades acerca dos privilégios que tinham
Nadabe e Abiú.
1. Ascendência levítica. Na Antiga Aliança, ser levita era não somente pertencer a uma classe
social privilegiada em Israel, mas também ser honrado por Deus como exclusivo
para a intermediação entre o povo e Deus. Os levitas foram escolhidos a dedo
por Deus. O próprio Deus havia dito: “Os levitas serão meus” (Nm.3:12). Quanto
privilégio ser vocacionado por Deus a cumprir uma missão especial entre o seu
povo! Nadabe e Abiú eram de ascendência levítica, escolhidas para exerceram o
ofício mais honroso de todo o Israel, o ofício sacerdotal (Nm.3:3; 28:1). Nem
os reis podiam exercê-lo (2Cr.26:18). Todavia, lançaram fora o dom que Deus
lhes deu; apresentaram fogo estranho no Altar, banalizando o culto sagrado.
Este episódio oferece uma lição reflexiva ao povo de Deus da Nova
Aliança. Precisamos ter cuidado quando nos pomos diante de Deus para oferecer culto
a Ele; não podemos cultuar a Deus de qualquer maneira, com indiferença e
irreverência. Deus exige santidade, verdadeira reverência de seus ministros.
Então, tomemos cuidado para não nos apresentarmos diante do Senhor com fogo
estranho. O Deus que puniu a Nadabe e Abiú não morreu. Deus não se deixa
escarnecer; conscientizemo-nos disso.
2. Ascendência araônica. Diz o texto sagrado: “E estes são os nomes dos filhos de Arão: o
primogênito, Nadabe; depois, Abiú, Eleazar e Itamar. Estes são os nomes dos
filhos de Arão, dos sacerdotes ungidos, cujas mãos foram sagradas para
administrar o sacerdócio” (Nm.3:3). Como se observa, Nadabe e Abiú eram filhos
do sumo sacerdote Arão; portanto, sucessores imediatos do pai nesse glorioso
ministério (Nm.3:10).
É bom informar que todos os sacerdotes eram descendentes da tribo de
Levi, mas não significa que todos os levitas eram sacerdotes. Somente os
ascendentes da família de Arão (da família de Coate, um dos três filhos de Levi
– Gn.46:8,11) tornou-se a família sacerdotal.
Na sociedade israelita, a nobreza era constituída não apenas pelos
descendentes reais, ministros de Estado e chefes militares, mas igualmente pela
classe sacerdotal. Aliás, os levitas do altar eram considerados, em virtude de
seu ofício, mais nobres do que os próprios nobres. Nesse contexto, Nadabe e
Abiú, por serem filhos do sumo sacerdote Arão, encontravam-se no topo social de
Israel. Eles nasceram no Egito, mas foram testemunhas oculares dos atos
portentosos de Deus no Êxodo. Eles viram seu pai, Arão; seu tio, Moisés; e sua
tia, Miriã em ação muitas vezes. Eles tinham conhecimento em primeira mão sobre
a santidade de Deus como poucos homens já tiveram, e pelo menos por um tempo,
seguiram a Deus de todo o coração (Lv.8:36). Mas, em algum momento crucial, Nadabe
e Abiú escolheram tratar com indiferença as claras instruções de Deus, e a
consequência deste pecado foi drástica, instantânea; foi algo que chocou a todo
o povo de Israel de sua época.
3. Participantes da glória de Deus. Por ter uma posição privilegiada, eles viram
bem de perto a manifestação da gloria de Deus, juntamente com Moisés, Arão e
setenta anciãos (Êx.24:9-11):
“E subiram Moisés e Arão, Nadabe e Abiú, e
setenta dos anciãos de Israel, e viram o Deus de Israel, e debaixo de
seus pés havia como uma obra de pedra de safira e como o parecer do céu na sua
claridade. Porém ele não estendeu a sua mão sobre os escolhidos dos filhos de
Israel; mas viram a Deus, e comeram, e beberam”.
Normalmente, o simples fato de ver a Deus é suficiente para causar a
morte de uma pessoa, mas aqui isso não aconteceu. Além de não serem destruídos
viram Deus e comeram das ofertas pacificas. Esse episódio dá a impressão de
estamos diante de uma contradição bíblica sobre a questão de ver a Deus, pois
há versículos que afirmam ser impossível de ver a Deus (Êx.33:20; João 1:18;
1João 4:12). Em contrapartida, várias passagens mostram indivíduos que viram
Deus (Gn.32:30; Ex.24:10; 33:23). A explicação para isso está no fato de que,
embora Deus em sua glória revelada se mostre como fogo consumidor, o qual destrói
qualquer pessoa que o veja, Ele também pode se revelar em forma humana, angelical
ou por meio de uma nuvem de glória (Dt.5:24), formas que permitem às pessoas o
verem e permanecerem vivas.
Além de presenciarem a manifestação da glória divina, Nadabe e Abiú foram
testemunhas oculares da Aliança que o Senhor firmara com os filhos de Israel
(cf. Êx.24:8). Conquanto tivessem usufruído de tão singular privilégio, não se comportaram
diante do Senhor como mandava o manual levítico. Eles resolveram, juntos, se apoderaram
da posição que lhes foram outorgados pelo próprio Deus e, por conta própria, oferecer
ao Senhor um comportamento fora do padrão estabelecido por Deus.
Corremos o risco de cometer o mesmo erro desses dois irmãos, quando
tratamos a justiça e a santidade de Deus de forma leviana. É bom nos
conscientizarmos de que, entre o povo de Deus, ter uma posição social elevada e
destacada não significa nada diante de Deus; o fator mais importante é ter uma
vida de íntima comunhão com Deus e adorá-lo com temor e tremor. A recomendação
da Palavra de Deus é enfática: “De tudo o
que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque
este é o dever de todo homem” (Ec.12:13).
II. FOGO ESTRANHO NO ALTAR
Estudamos no capítulo 8 de Levítico a impressionante cerimônia de
consagração dos sacerdotes, que durou sete dias; a cerimônia foi encerrada com
uma festa de sacrifício (Lv.cap.9). Esta festa reunia três significados: (1) que
os sacerdotes haviam entrado em uma relação muito íntima com Deus; (2) que a
força para cumprir os deveres de seu ofício lhes era dada por Aquele a quem
serviam, pois comiam de seu altar e; (3) que a festa era uma ação de graças por
havê-los colocado em seu serviço, tão santo e exaltado. Toda a congregação
compreendeu quão santo é Deus e que foi Ele próprio quem instituiu a ordem
sacerdotal. O ponto culminante daquela festa foi a manifestação da glória do
Senhor no meio do seu povo (Lv.9:23). Nesta gloriosa festa “o fogo saiu de
diante do SENHOR e consumiu o holocausto e a gordura sobre o altar; o que vendo
todo o povo, jubilou e caiu sobre as suas faces” (Lv.9:24).
Entretanto, logo em seguida a esta gloriosa festa de consagração dos
sacerdotes, em que a glória do Senhor se fez presente de modo visível, e mal os
sacerdotes tinham iniciado as suas funções sagradas, um ato de sacrilégio foi
perpetrado pelos sacerdotes, os filhos de Arão. Veja o que o texto sagrado diz:
“E os
filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário, e puseram
neles fogo, e puseram incenso sobre ele, e trouxeram fogo estranho perante a
face do SENHOR, o que lhes não ordenara. Então, saiu fogo de diante do SENHOR e
os consumiu; e morreram perante o SENHOR” (Lv.10:1,2).
Nadabe e Abiú tinham sido claramente proibidos de oferecer “fogo
estranho” diante do Senhor (Êx.30:9,10). Todavia, rebelaram-se contra Deus e
sua Palavra. Eles que deveriam ensinar a Lei de Deus, com essa atitude,
negaram-se a levar a sério os seus mandamentos.
O contexto indica que Nadabe e Abiú puseram nos seus incensários (isto é,
queimador de incenso) carvões em brasa de fonte estranha (Êx.30:7-9). Além
disso, oferecer incenso no altar tinha que ser feito exclusivamente pelo sumo
sacerdote (Êx.30:7-9; Lv.16:11-13). Alguns intérpretes sugerem que Nadabe e
Abiú fizeram isso sob o efeito de bebida alcóolica (Lv.10:9,10). Que contraste
com a cena do capítulo nove! Ali, tudo foi feito "como o Senhor
ordenou", e o resultado foi a manifestação da glória de Deus. Aqui, em
Levítico 10:1,2, foi feita o que o Senhor não ordenou, e o resultado foi o
juízo de Deus.
Perceba que apenas cessou o eco do grito de glórias, aleluias e de
louvores pela presença visível e extraordinária do Senhor, e já os elementos de
um culto corrompido estavam em evidência; apenas a posição divina lhes havia
sido atribuída, e já era deliberadamente abandonada por negligência do
mandamento divino; apenas estes sacerdotes acabavam de serem consagrados e instalados,
e já falhavam gravemente no cumprimento das suas funções sacerdotais.
E em que consistiu o pecado desses jovens? Eram falsos sacerdotes? De
modo nenhum! eles eram filhos legítimos de Arão - verdadeiros membros da
família sacerdotal -, sacerdotes devidamente ordenados. Porventura eles mancharam
as cortinas do Tabernáculo com sangue humano, ou profanaram o recinto sagrado
com algum crime que ofendesse a moral? Não existem provas de que tivessem feito
tais coisas. Na verdade, foi este o seu pecado: “... trouxeram fogo estranho perante a face do Senhor, o que lhes não
ordenara". Afastaram-se, na sua adoração ao Senhor, da Palavra do
Senhor que os havia claramente instruído acerca do modo correto do Seu culto
que há pouco tempo fora estabelecido.
Nos versículos finais do capítulo 9 lemos: "...o fogo saiu de diante do Senhor e consumiu o holocausto e a
gordura sobre o altar" (Lv.9:24). O Senhor mostrava assim que
aceitava um sacrifício verdadeiro. Porém, no capítulo 10 vemos o Seu juízo
sobre os sacerdotes desviados. É uma dupla ação do mesmo fogo: o holocausto
subia como cheiro suave; ao passo que o "fogo estranho" foi rejeitado
como uma abominação. O Senhor foi glorificado no primeiro, mas teria sido uma
desonra aceitar o segundo. A graça divina aceitava e deleitava-se naquilo que
era uma figura do precioso sacrifício de Cristo; porém, a santidade divina
rejeitava o que era fruto da vontade corrompida do homem.
Nadabe e Abiú podiam pensar que uma espécie de "fogo" era tão
boa como a outra; porém, não era da sua competência decidir nesse sentido.
Deveriam ter atuado segundo a Palavra do Senhor; mas, em lugar disso, agiram
segundo a sua própria vontade, e colheram os seus terríveis frutos.
Não se pode permitir que o homem introduza as suas ideias ou invenções no
culto a Deus. Todos os seus esforços só podem ter como resultado a apresentação
de "fogo estranho" - incenso impuro - ou seja, um culto falso. As
suas melhores tentativas não passam de uma abominação aos olhos de Deus.
Paul Hoff dá a sua opinião a respeito do pecado destes dois filhos de
Arão:
“Parece que acenderam seus incensários não com
fogo do altar de holocaustos, mas com fogo comum. Deveriam ter tomado fogo do
altar, pois este foi enviado por Deus (Lv.16:12; Nm.16:46). Possivelmente
haveria inveja e rivalidade entre eles porque ambos os jovens ofereceram
incenso simultaneamente. O sumo sacerdote ou um sacerdote comum podia
oferecê-lo, mas parece que não se permitiam que dois oficiassem juntos (Lc.1:9).
Demonstraram descuido das indicações concernentes ao culto e, além disso,
irreverência e presunção ao fazer o que bem lhes parecia. Prestaram culto a
Deus de uma forma não autorizada por Ele. Esqueceram-se de que a glória e a
bênção de Deus desciam sobre o tabernáculo mediante a condição em parte de uma
cuidadosa atenção prestada às instituições divinas no tocante à sua construção.
Além disso, parece que haviam tomado vinho antes de ministrar, e assim perderam
sua capacidade de discernir entre o santo e o profano (Lv.8 - 11). Daí em
diante os sacerdotes não tiveram permissão para tomar vinho antes de ministrar
as coisas sagradas”.
Segundo o Pr. Claudionor de Andrade, três atitudes marcaram o ato leviano
e inconsequente de Nadabe e Abiú: ignoraram a Deus, impacientaram-se e, sem
qualquer temor, apresentaram fogo estranho no Altar sagrado.
1. Ignoraram a Deus. Ao adentrarem o lugar santo, Nadabe e Abiú ignoraram a presença de Deus,
pois o Senhor encontrava-se não somente no Tabernáculo como em todo o arraial
de Israel (Êx.25:8; Nm.14:14); ignoraram os preceitos estabelecidos para o
culto ao Senhor; ignoraram que a presença do Senhor estava ali representada
pelo santo Tabernáculo. Aos olhos de Nadabe e Abiú, o Tabernáculo não
representava nada. Os trabalhos que faziam no tabernáculo eram apenas um afazer
qualquer, uma rotina profissional. Já não sentiam comoção alguma entre aquelas
colunas, estacas, cortinados e móveis. Lidar com a Casa de Deus ocasionava-lhes
enfado, estresse, canseira. Não serviam ao Senhor com alegria.
Na época de Malaquias os sacerdotes agiram da mesma forma. Na liturgia diária,
aborreciam-se. Veja como eles tratavam as coisas de Deus: "Que canseira! E me desprezais, diz o SENHOR
dos Exércitos; vós ofereceis o dilacerado, e o coxo, e o enfermo; assim fazeis
a oferta. Aceitaria eu isso da vossa mão? Diz o SENHOR" (Ml.1:13,
ARA).
Isso não parece com os pastores de igrejas nos tempos atuais? Os pastores
precisam aprender com o episódio de Nadabe e Abiú. O modus operandi de Deus não é o mesmo, porém, o Seu juízo é certo àqueles
que negligenciam a Sua obra, que agem fora dos ditames da Sua Palavra.
2. Impaciência profana. De acordo com as instruções que o Senhor, através de Moisés, transmitira
aos filhos de Israel, somente o sumo sacerdote estava autorizado a oferecer o
incenso no altar do incenso. Veja o que Deus diz em Êxodo 30:7-9 e Levítico
16:12:
“E Arão sobre ele queimará o incenso das
especiarias; cada manhã, quando põe em ordem as lâmpadas, o queimará. E,
acendendo Arão as lâmpadas à tarde, o queimará; este será incenso contínuo
perante o SENHOR pelas vossas gerações. Não oferecereis sobre ele incenso
estranho, nem holocausto, nem oferta; nem tampouco derramareis sobre ele
libações” (Êx.30:7-9).
“Tomará também o incensário cheio de brasas de
fogo do altar, de diante do SENHOR, e os seus punhos cheios de incenso
aromático moído e o meterá dentro do véu” (Lv.16:12).
Todavia, ignorando tal preceito, Nadabe e Abiú entraram no lugar sagrado
e trouxeram um fogo que não foi ordenado por Deus; precipitaram-se e não
souberam esperar a hora de se colocarem no altar, e assim profanaram o culto
sagrado. Mas, as coisas de Deus não podem ser tratadas profanamente.
Portanto, Nadabe e Abiú, além de profanos e rebeldes, foram
inconsequentes e impacientes; precipitaram-se na condenação do Diabo; não
souberam esperar a hora certa (1Tm.3:6). Eles estavam cientes de que apenas o
sumo sacerdote Arão estava autorizado a oferecer o incenso no altar de ouro,
mas ignoraram esta regra sacerdotal. Julgaram-se acima das ordenanças e
estatutos do Senhor. Lembremos que este princípio continua em vigor, pois o
Deus que puniu Nadabe e Abiú não mudou (Ml.3:6); sua justiça continua inalterável.
Pense nisso!
3. Apresentaram fogo estranho ao Senhor. O sumo sacerdote ou um sacerdote comum podia
oferecer incenso, mas parece que não se permitiam que dois sacerdotes
oficiassem juntos (Lc.1:9). Nadabe e Abiú demonstraram descuido das indicações
concernentes ao culto e, além disso, demonstraram irreverência e presunção ao
fazer o que bem lhes parecia. Prestaram culto a Deus de uma forma não
autorizada por Ele. Além disso, eles foram negligentes e demonstraram desprezo
da vontade de Deus. Eles ascenderam incenso com fogo que não veio do altar de
cobre (Lv.16:12), sem autorização para fazer, incenso falso e no lugar errado.
Não bastava ter o incenso prescrito pelo Senhor; era imperioso ter
igualmente a brasa certa, para que Deus fosse dignamente adorado (Êx.30:9;
Lv.16:12). Se o incenso era exclusivo, a brasa também o era (Êx.30:37). Mas,
pelo contexto da narrativa sagrada, Nadabe e Abiú não estavam preocupados, nem
com o incenso nem com o fogo. Por isso, o Senhor fulminou-os diante do Altar.
Sim, eles foram mortos devido à sua insolência, blasfêmia e sacrilégio. A obra
de Deus é para ser feita como Ele determina ou a consequência será severa. A
obra é do Senhor e Ele exige uma exatidão na sua obra.
Alguém poderá dizer que o castigo aplicado aos filhos de Arão foi muito
severo. Todavia, é bom informar que os sacerdotes acabavam de ser investidos da
autoridade sacerdotal e de presenciar a glória de Deus. Se no princípio de suas
atividades sacerdotais se descuidassem das instruções de Deus, que fariam no
futuro? Sendo sacerdotes, deveriam ter sido mais responsáveis. Seu ato envolveu
toda a nação, pois eram seus representantes. Enfim, a nação de Israel era muito
jovem e acabava de ser inaugurada a dispensação do concerto
veterotestamentário. Israel precisava aprender que Deus é santo e que o homem
não pode fazer a sua própria vontade e continuar a agradar-lhe. A igreja
primitiva teve de aprender a mesma lição no caso de Ananias e Safira (Atos
5:1-11).
O episódio de Nadabe e Abiú é exemplo solene para termos muito cuidado
para não mudar nenhuma coisa que Deus ordenou. Talvez nós também estejamos
afrontando algum princípio básico do ministério cristão; examinemos, pois, o
nosso coração. Que o incenso e o fogo de nossa adoração sejam os prescritos na
Palavra de Deus, pelos santos profetas e apóstolos do Senhor.
Infelizmente, uma grande parte dos que cristãos dizem ser, oferecem
apenas "fogo estranho" diante do Senhor; na adoração não há fogo puro
nem incenso puro, e, portanto, o Céu não o aceita; e, embora não se veja cair o
julgamento divino sobre aqueles que oferecem tal culto, como caiu sobre Nadabe
e Abiú, é somente porque Deus está em Cristo reconciliando consigo o mundo, não
lhes imputando os seus pecados (2Co.5:19). Não é porque o culto seja aceitável
a Deus, mas porque Deus é misericordioso e longânime. Contudo, aproxima-se
rapidamente o Dia em que o “fogo estranho” será apagado para sempre, quando o
trono de Deus não será mais insultado pelas nuvens do incenso impuro ascendendo
de adoradores impuros; quando tudo que é adulterado será abolido; quando todo o
universo será como um vasto e magnificente templo, no qual o verdadeiro Deus,
Pai, Filho e Espírito Santo, será adorado pelos séculos dos séculos.
III. LUTO NO SANTO MINISTÉRIO
“E Moisés disse a Arão e a seus filhos Eleazar
e Itamar: Não descobrireis as vossas cabeças, nem rasgareis vossas vestes, para
que não morrais, nem venha grande indignação sobre toda a congregação; mas
vossos irmãos, toda a casa de Israel, lamentem este incêndio que o SENHOR acendeu.
Nem saireis da porta da tenda da congregação, para que não morrais; porque está
sobre vós o azeite da unção do SENHOR. E fizeram conforme a palavra de Moisés”
(Lv.10:6,7).
Depois que Misael e Elsafã, filhos de Uziel, tio de Arão (Lv.10:4),
removeram os cadáveres do Tabernáculo e os levaram para fora do arraial, Moisés
instruiu Arão e seus outros dois filhos (Eleazar e Itamar) a não ficarem de
luto, mas a permanecer dentro do Tabernáculo enquanto toda a casa de Israel
lamentava o derramamento da ira de Deus.
"Porém Arão calou-se" (Lv.10:3).
A maneira como Arão recebeu o duro golpe da justiça divina foi uma coisa
extraordinariamente impressionante e tocante. Era uma cena solene. Os seus dois
filhos mortos a seu lado - mortos pelo fogo do juízo divino.
Há pouco tempo Arão tinha visto os seus filhos revestidos com as suas
vestes de glória e beleza - lavados, ornados e ungidos; tinham estado com ele
perante o Senhor, para serem consagrados ao ministério sacerdotal; tinham
oferecido, em companhia dele, os sacrifícios determinados; tinham visto os
raios da glória divina irradiando da coluna de nuvem (sinal da presença de Deus);
tinham visto cair o fogo do Senhor sobre o sacrifício e consumi-lo; tinham
ouvido irromper da congregação, prostrada em adoração, as exclamações de
júbilo. Tudo isto acabava de passar ante seus olhos; mas, agora os seus dois
filhos jaziam a seu lado nas garras da morte. O fogo do Senhor, que pouco antes
fora alimentado por um sacrifício aceitável, tinha, agora, caído em juízo sobre
eles. O que podia ele dizer? Nada. Simplesmente "Arão calou-se”.
Arão, sem dúvida, sentiu que as próprias colunas da sua casa foram
sacudidas pelo trovão do juízo divino; e, portanto, só podia permanecer em silêncio
sepulcral diante daquela cena aterrorizadora. Ele só tinha de se comportar à
semelhança do salmista: “Emudeci; não
abro a minha boca, porquanto tu o fizeste" (Sl.39:9). Era a mão de
Deus; e ainda que pudesse parecer muito pesada, no juízo da carne e do sangue,
ele só tinha que curvar a cabeça, em temor silencioso e reverente aquiescência.
"Emudeci... tu o fizeste",
era a atitude mais adequada diante do juízo divino.
Que possamos aprender a andar suavemente na presença divina e a pisar os
átrios do Senhor com os “pés descalços” e espírito reverente. Que o nosso
incensário de sacerdotes contenha sempre como único combustível o incenso
batido das múltiplas perfeições de Cristo e que a santa chama seja sempre
ateada pelo poder do Espírito.
Veja, pelo texto sagrado, que o juízo de Deus não devia abalar a
atividade sacerdotal (Lv.10:6,7). Arão e seus filhos, Eleazar e Itamar, deviam
permanecer impassíveis na sua posição de santidade sacerdotal. Nem o pecado dos
dois jovens, nem o seu consequente julgamento deviam interferir nas atividades
dos que usavam as vestes sacerdotais e foram ungidos com "o azeite da
unção do Senhor". Esse azeite havia-os colocado num sagrado recinto onde
as influências do pecado, da morte e do juízo não podiam atingi-los. Os que
estavam fora, que estavam a uma distância do santuário, que não estavam na
posição de sacerdotes, podiam "lamentar o incêndio"; mas, quanto a
Arão e seus filhos deviam continuar no desempenho das suas santas funções, como
se nada tivesse acontecido.
Sacerdotes no santuário não deviam lamentar-se, mas adorar; não deviam
chorar na presença da morte, mas curvar as cabeças ungidas na presença da
visitação divina.
"O fogo do Senhor" podia agir e fazer a sua obra de juízo, mas,
a um verdadeiro sacerdote, não interessava o que esse "fogo" tinha
vindo fazer: se vinha para expressar aprovação divina consumindo o sacrifício
ou o desagrado divino consumindo os que ofereciam "fogo estranho". O
sacerdote só tinha que adorar. Aquele "fogo" era uma manifestação bem
conhecida da presença divina em Israel, e que se atuasse em misericórdia ou
julgamento a obrigação de todo o verdadeiro sacerdote era adorar.
O profeta Ezequiel foi chamado, nos seus dias, para aprender esta lição.
Veja o que o texto sagrado afirma:
“E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
Filho do homem, eis que tirarei de ti o desejo dos teus olhos de um golpe, mas
não lamentarás, nem chorarás, nem te correrão as lágrimas. Refreia o teu
gemido; não tomarás luto por mortos; ata o teu turbante e coloca nos pés os
teus sapatos; e não te rebuçarás e o pão dos homens não comerás. E falei ao
povo pela manhã, e à tarde morreu minha mulher; e fiz pela manhã como se me deu
ordem”(Ez.24:15-18).
Deus avisou a Ezequiel que este perderia a esposa, a quem ele muito
amava; contudo, ele não deveria lamentar publicamente a sua morte, nem
participar dos rituais de luto. Deus não proibiu, com esta ordem, que Ezequiel
sentisse pena no seu intimo pela perda da esposa. O fato de o profeta Ezequiel
deixar de externar qualquer pesar servia de sinal aos exilados de que a queda
de Jerusalém e do Templo seriam tão devastadores que os judeus não conseguiriam
expressar sua tristeza de maneira comum.
A obediência do profeta Ezequiel nessa situação deve ter sido uma das
suas tarefas mais difíceis como profeta. Embora sob grande tristeza por causa
da perda da sua esposa, tinha de continuar profetizando dia após dia a um povo
rebelde. Compartilhava dos sofrimentos de Deus, pois o próprio Deus ficaria sem
o seu povo, sua cidade e o seu Templo, assim como seu profeta fiel ficaria sem
sua esposa querida.
Ser fiel a Deus pode significar um preço alto a pagar.
De igual modo, os crentes da Nova Aliança são conclamados a compartilhar
dos sofrimentos de Cristo. Oxalá que todos aqueles que têm sido levados ao
conhecimento da elevada posição de sacerdotes de Deus sejam preservados, por
Sua graça celestial, de toda a sorte de pecados; seja contaminação pessoal,
seja a apresentação de qualquer das muitas formas de "fogo estranho"
que tanto abundam na Igreja professa destes últimos dias.
CONCLUSÃO
Nadabe e Abiú eram, declaradamente, ministros santos de Deus; eram
líderes do povo de Deus e, no entanto, estavam servindo aos seus próprios
interesses, sem qualquer temor de Deus em suas vidas.
Quando os ministros de Deus ostensivamente cometem pecado, isso atinge
grandemente a excelsa dignidade de Deus e o seu propósito redentor na terra.
Tais delitos profanam a Igreja e a totalidade do povo de Deus, e desonram o nome
excelso do Senhor. Por essa razão, a Bíblia ensina que somente aqueles que
levam uma vida cristã de perseverança na fidelidade a Deus e à Sua Palavra
podem ser escolhidos como dirigentes do povo de Deus (ver 1Tm.3:1-7).
Este fatídico episódio ensina-nos quão grave é, à vista de Deus,
substituir as coisas sagradas pelas coisas carnais. Ao longo da história da Igreja
os homens têm substituído o evangelho simples pela tradição, o culto de coração
pelos os ritos, a revelação pelo racionalismo, o evangelho de salvação pelo
evangelho de boas obras, e o fogo do Espírito Santo pelo fogo da paixão
religiosa.
O culto ao Senhor deve ser santo, reverente e verdadeiro. Portanto, está
na hora de parar com as liturgias bizarras, cultos mundanos, teologias
permissivas e costumes que ferem a Palavra de Deus. Se não atentarmos à
santidade e à glória divinas, não subsistiremos, pois o nosso Deus, embora seja
conhecido pelo amor e bondade, é também um fogo consumidor (Is.30:27; Hb.12:29).
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no
Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo
Pentecostal.
Bíblia de estudo
– Aplicação Pessoal.
Comentário
Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário
Bíblico popular (Antigo Testamento) - William Macdonald.
Revista
Ensinador Cristão – nº 75. CPAD.
Comentário
Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do
Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Comentário
Bíblico Bacon.
C.H. Mackintosh.
Estudo sobre o Livro de Levítico.
Pr. Claudionor
de Andrade. Adoração, Santificação e Serviço – Os princípios de Deus para sua
Igreja em Levítico. CPAD.
Paul
Hoff – O Pentateuco. Ed. Vida.
Comentário
Bíblico Beacon. CPAD.
Victor P.
Hamilton - Manual do Pentateuco. CPAD.
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