domingo, 6 de outubro de 2019

Aula 02 – O NASCIMENTO DE UM LÍDER PROFÉTICO EM ISRAEL - Subsídio


4º Trimestre/2019
Texto Base:1Samuel 1:20-28
"E sucedeu que, passado algum tempo, Ana concebeu, e teve um filho, e chamou o seu nome Samuel, porque, dizia ela, o tenho pedido ao Senhor" (1Sm.1:20).
1Samuel 1:20-28
20-E sucedeu que, passado algum tempo, Ana concebeu, e teve um filho, e chamou o seu nome Samuel, porque, dizia ela, o tenho pedido ao SENHOR.
21-E subiu aquele homem Elcana, com toda a sua casa, a sacrificar ao SENHOR o sacrifício anual e a cumprir o seu voto.
22-Porém Ana não subiu, mas disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então, o levarei, para que apareça perante o SENHOR e lá fique para sempre.
23-E Elcana, seu marido, lhe disse: Faze o que bem te parecer a teus olhos; fica até que o desmames; tão-somente confirme o SENHOR a sua palavra. Assim, ficou a mulher e deu leite a seu filho, até que o desmamou.
24-E, havendo-o desmamado, o levou consigo, com três bezerros e um efa de farinha e um odre de vinho, e o trouxe à Casa do SENHOR, a Siló. E era o menino ainda muito criança.
25-E degolaram um bezerro e assim trouxeram o menino a Eli.
26-E disse ela: Ah! Meu senhor, viva a tua alma, meu senhor; eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, para orar ao SENHOR.
27-Por este menino orava eu; e o SENHOR me concedeu a minha petição que eu lhe tinha pedido.
28-Pelo que também ao SENHOR eu o entreguei, por todos os dias que viver; pois ao SENHOR foi pedido. E ele adorou ali ao SENHOR.

INTRODUÇÃO

Em 1Samuel, capítulo primeiro, é narrada a história do nascimento de Samuel, que contrariou a lógica humana, pois sua mãe era estéril; foi um grande marco na história de Israel. Samuel tornou-se um grande líder e foi um instrumento comprometido com Deus para fazer a vontade divina. Sua mãe chama-se Ana, uma mulher humilde e piedosa, que amava o Senhor, porém, era estéril. Ana é com certeza um exemplo de fé e perseverança; uma mulher que não se acostumou com a situação de esterilidade. Mesmo diante das dificuldades causadas por Penina, a outra esposa de Elcana, e a incompreensão do marido e do sacerdote Eli, Ana permaneceu crendo e esperando no agir de Deus. A fé de Ana é recompensada de maneira maravilhosa. Ela fez um voto ao Senhor Deus, e Ele atendeu o seu desejo: ela gerou um filho e o seu nome foi Samuel. No tempo determinado, Ana levou o menino ao Templo e o consagrou ao Senhor Deus, tal como havia prometido em seu voto. Antes de entregar Samuel ao sacerdote Eli, ela conta seu testemunho e os fundamentos do voto que fez. Juntamente com uma generosa oferta, ela entrega o menino ao Senhor, que fica aos cuidados do sumo sacerdote Eli. Tal como havia dito, Ana fez. Cumprir votos que fazemos ao Senhor é fundamental na nossa intimidade com Deus. Que sejamos fiéis naquilo que lhe prometemos.

I. O AMBIENTE FAMILIAR DE SAMUEL

1. O local de nascimento de Samuel

O texto sagrado é bem claro sobre a localidade do nascimento dos pais de Samuel, subentendendo que ele tenha nascido ali também.
“Houve um homem de Ramataim-Zofim, da montanha de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efrateu” (1Sm.1:1).
Portanto, Samuel nasceu num local chamado “Ramataim-Sofim”, que em hebraica significa “vigilante em dupla altura” ou “cumes gêmeos de Zofim”.
Por que dar ênfase à localização do nascimento de Samuel? Com bem diz o Pr. Osiel Gomes, situar, geograficamente, Samuel dentro de uma localidade, especificando a residência de seus pais, é evidenciar aos leitores do texto sagrado que esse homem não vai aparecer nas páginas da Bíblia como uma pessoa qualquer, mas que tem uma família, um local certo de nascimento.
Neste particular, vemos que Jesus, por diversas vezes, é apresentado como tendo uma residência (João 1:39). Paulo procurou com denodo esclarecer sua origem familiar, localidade de seu nascimento e formação, uma prova de que ele não era um intruso, alguém sem princípio, sem origem (At.22;3 - ARA).
Um detalhe importante pode ser dito sobre essa localidade: ela seria o lugar permanente de Samuel (1Sm.7:17); nela ele nasceu, morreu e foi sepultado (1Sm.25:1). Vale dizer que somente aqui, 1Sm.1:1, é que aparece a completude dessa localidade, sendo que em outras passagens bíblicas vem apenas o primeiro nome: Ramá. Assim, pode-se crer que Zofim vem primeiro para fazer distinção entre outras regiões que também eram denominadas de Ramá, que quer dizer cume.
Ramataim-Zofim estava situada na região montanhosa de Efraim, distando ao norte de Jerusalém aproximadamente 24 quilômetros. Para o escritor e historiador Flávio Josefo, esse lugar poderia ser também a cidade em que José de Arimateia nasceu (João 19:38).
Portanto, podemos dizer que Elcana era da tribo de Levi, descendente de Coate, mas não da linhagem de Arão (1Cr.6:26,33), porém estava habitando na terra de Efraim. Talvez possa parecer um pouco estranho Elcana habitar em território efraimita, porém, isso não era algo anormal, incomum, porque os levitas não tinham as tribos locais definidas, de maneira que podiam habitar nas cidades que pertenciam às tribos, pois fora dito pelo Senhor que eles não teriam herança (Dt.18:1,2).
O texto sagrado afirma que as famílias descendentes de Coate foram beneficiadas com algumas cidades, entre as quais localizadas geograficamente nos territórios da tribo de Efraim (ver Josué 21:5 e 1Crônicas 6:66). 
“E aos outros filhos de Coate caíram por sorte, das famílias da tribo de Efraim, e da tribo de Dã, e da meia tribo de Manassés, dez cidades” (Js.21:5).
“E, quanto ao mais das famílias dos filhos de Coate, as cidades do seu termo se lhes deram da tribo de Efraim” (1Cr.6:66).
Portanto, Elcana era um levita, mas efraimita somente por causa de sua residência, por autorização da própria Lei mosaica.
Samuel atuou como sacerdote porque era de origem levita também. Como bem diz o Pr. Osiel Gomes, Samuel não foi somente um profeta, sacerdote e juiz, mas alguém que teve origem, boa formação familiar e espiritual, que desde cedo aprendeu a estar na casa do Senhor, por incentivo de seus pais, e, sob a tutela de Eli, aprendeu a servir como servo de Deus.
Vale salientar que é fundamental um líder ter histórico e história, pois isso irá contribuir grandemente para sua formação pastoral. Grandes líderes não surgem em seminários de renome, em grandes universidades, como Harvard, Cambridge, que têm seus valores, mas num lar cristão e piedoso, e essa ideia é paulina (1Tm.3:4) – “que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia”.
Um líder pode ter boa desenvoltura, retórica, uma erudição teológica grandiosa, mas não é um grande profeta de Deus para as nações quando não está presente nele uma boa formação espiritual oriunda de seus pais, do seu ambiente familiar, de sua Igreja Local.
Samuel teve grandes privilégios: uma mãe piedosa, que procurava criar em sua mente e coração o desejo de ser um instrumento nas mãos de Deus; um sacerdote para lhe ensinar como se dirigir perante Deus quando Ele chamar. Tudo isso esteve presente na sua vida, razão pela qual veio a ser tudo o que foi para Israel.

2. A Bigamia presente

O primeiro Livro de Samuel começa narrando que Elcana tinha duas mulheres - Ana (que significa graça) e Penina (que significa pérola) -, possivelmente por causa da esterilidade de Ana; mas, tal desculpa não convence, pois ele deveria ter entregue tudo ao Senhor, como fez Ana, e logo depois o problema estaria resolvido, como foi.
Como todo registro histórico fiel, a Bíblia relata a prática da poligamia, mas em nenhum momento a aprova. A exemplo de Lia e Raquel, uma esposa era fértil e a outra estéril. Havia rivalidade no lar, pois apesar de não ter filhos, seu marido a amava.
Sabemos com base na leitura dos relatos patriarcais em Gênesis que a poligamia dá origem a conflitos domésticos, especialmente quando uma das esposas é estéril. O mesmo aconteceu na casa de Elcana. O texto de 1Smauel 1:6 identifica Penina como rival de Ana, pois ela ridicularizava a condição de Ana a ponto de esta chorar e recusar-se a comer (1Sm.1:7).
“E a sua competidora excessivamente a irritava para a embravecer, porquanto o SENHOR lhe tinha cerrado a madre. E assim o fazia ele de ano em ano; quando ela subia à Casa do SENHOR, assim a outra a irritava; pelo que chorava e não comia” (1Sm.1:6,7).
De ano em ano, a família ia a Siló para celebrar as festas, e Ana recebia porção dupla do sacrifício pacífico (1Sm.1:3-5). Essa predileção fazia Penina provocá-la ainda mais para a irritar. Cada vez mais magoada e desesperada com a provocação de Penina, Ana apresentou o seu problema ao Senhor no Templo.
Inúmeros eram os problemas que surgiam num lar onde existia a poligamia, como se observa o ocorrido com as mulheres de Elcana. Pela poligamia, as mulheres tomadas não passavam simplesmente de amantes, o que é chamado de concubinato; elas serviam apenas como objeto para o sexo e a procriação.
Ter várias esposas era permitida pela Lei de Moisés (Dt.21:15), mas tanto a poligamia - um homem ter mais de uma mulher -, quanto a poliandria - uma mulher ter mais de um marido -, estão em desacordo com o ensino das Escrituras Sagradas para o casamento (cf. Dt.28:54,56; Sl.128:3; Pv.5:15-21; Ml.2:14).
Elcana seguiu um modelo que não era aprovado por Deus, nos quais andaram Jacó, Gideão, Saul, Davi, Salomão, Roboão, dentre outros; porém, essa prática foi condenada por Jesus e pelo apóstolo Paulo. Jesus, em Sua resposta aos fariseus, quando estes lhe interrogaram acerca do divórcio, foi clarividente que Deus criou o casamento monogâmico. Ele disse: “Portanto, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher...”(Mt.19:5). Ele não disse: “suas mulheres”, e sim, “sua mulher”. A resposta do Senhor remonta às origens do casamento e da própria criação (cf. Gn.2:24).
Paulo, ao mencionar as qualificações do presbítero, adverte: “É necessário, portanto, que o bispo seja (...) esposo de uma só mulher...” (1Tm.3:2). O diácono também deve ser “marido de uma só mulher” (1Tm 3:12). Portanto, a liderança eclesiástica deve ser o exemplo dos fiéis em tudo, e esse exemplo inclui o casamento bíblico (1Tm.4:12).
Lameque foi o primeiro a rejeitar o princípio do casamento monogâmico, ordenado por Deus (Gn.2:22-24) – “E tomou Lameque para si duas mulheres; o nome de uma era Ada, e o nome da outra, Zilá” (Gn.4:19). A partir daí a depravação hereditária se alastrou progressivamente no lar e na família.
Deus tolerou a poligamia, mas nunca a aprovou, por ser prática estranha ao seu projeto para a constituição da família.

3. Uma família piedosa

Pessoa piedosa é aquela que tem uma vida santa, de oração e consagração. Só pode ser justo aquele que é piedoso. Por isto, não temos como ser justos e ímpios, ao mesmo tempo. Piedoso é alguém cuidadoso em relação a Deus. Piedoso é quem leva Deus a sério.
Portanto, ser piedoso é ser temente a Deus. Ser piedoso é estar atento às manifestações de Deus em nossas vidas. Só as pessoas piedosas veem os atos poderosos de Deus. Ser piedoso é ser íntimo de Deus.
Ø  Quando somos íntimos de Deus, os frutos de justiça brotam de nós naturalmente.
Ø  Quando somos íntimos de Deus, sua Palavra flui de nós sem que façamos força.
Ø  Quando somos íntimos de Deus, todos ao nosso redor veem a luz que nós projetamos.
Apesar da porfia e a inveja terem espaço suficientes para suscitar conflitos de relacionamentos, há um fator que merece destaque na família de Elcana: a sua família demonstrava ser piedosa, ou seja, cumpria com os compromissos espirituais a serem observadas, conforme os mandamentos veterotestamentários.
A piedade era vista nessa família através da oração e do sacrifício que prestava a Deus. O texto sagrado afirma que ele saía da sua cidade todos os anos a adorar e a sacrificar ao Senhor dos Exércitos, em Siló (1Sm.1:3). Com essa ação, eles faziam oposição ao sistema idolátrico que estava estabilizado naquela época. Nos dias de Eli, além dos pecados de seus filhos, muitos já não subiam a Siló para adorar ao Deus verdadeiro, mas adoravam e praticavam sacrifícios ao ídolo de Mica (Jz.12:17); porém, Elcana e sua casa continuavam servindo ao Senhor com verdade e sinceridade. A maneira de Ana se comportar no momento da oração, no Tabernáculo, pedindo um filho ao Senhor é uma prova cabal de que ela era uma mulher piedosa.
É bom ressaltar que nem toda pessoa radicalmente religiosa é considerada uma pessoa piedosa.
-Veja os exemplos dos filhos de Eli, Hofni e Finéias; eles eram considerados “os sacerdotes do SENHOR” (1Sm.1:3), que cumpriam os deveres litúrgicos, porém eram considerados filhos de Belial (1Sm.2:12); “eram sacerdotes do Senhor”, mas, “não conheciam ao Senhor”; eram pecadores explícitos (1Sm.2:22a) e faziam “transgredir todo o povo do Senhor” (1Sm.2:24). Diz o texto sagrado que eles “se deitavam com as mulheres que em bandos se ajuntavam à porta da tenda da congregação” (1Sm.2:22).
-Veja os filhos de Samuel, homem de Deus. Eles eram juízes sobre o povo de Deus, mas eram corruptos. Diz o texto sagrado:seus filhos não andaram pelos caminhos dele; antes, se inclinaram à avareza, e tomaram presentes, e perverteram o juízo” 1Sm.8:3).
Religiosidade aparente não agrada a Deus, e sim um coração puro voltado a uma adoração por excelência ao Senhor. Quando há uma sincera adoração ao Senhor, a sua presença é real. Jesus disse: "onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt.18:20).
“Estamos vivenciando um mundo cada vez mais comprometido com o pecado, famílias sendo atacadas pelos modismos e ensinos pós-modernos pouco edificantes. Todavia, aquelas que são verdadeiramente firmadas na aliança com o Senhor não serão abaladas e, ainda que tenham as imperfeições humanas, poderão fomentar o poder do Senhor dos exércitos nesta terra, pois, como falou Paulo, somos seus soldados, e nenhum soldado em combate se envolve com negócios desta vida (2Tm.2:4)” (Pr. Osiel Gomes).

II. SAMUEL: FRUTO DE ORAÇÃO

1. A Humildade de Ana

Ana era estéril, e ser estéril naquela época era motivo de zombaria e desprezo, era algo estarrecedor, uma vergonha (1Sm.1:5-7). Não era fácil para Ana, pois, não gerando filhos, dela não poderia haver um substituto para Elcana; através dela seu nome não seria perpetuado. Outro agravante é que, naquela época, uma mulher não ter filho era como se fosse amaldiçoada por Deus.
Além disso, Ana compartilhava seu marido com uma mulher que a ridicularizava (1Sm.1:7). 1Samuel 1:6 mostra a provocação de Penina contra ela, detratando-a negativamente por não ter filhos. Diante dessa situação, Ana tinha bons motivos para se sentir desencorajada e amargurada.
Seu excelente esposo não podia resolver seus problemas (1Sm1:8), e até o sumo sacerdote Eli confundiu seus motivos (1Sm.1:14). Mas, ao invés de retaliar ou perder as esperanças, Ana não deixava de ir à Siló festejar e adorar ao Senhor. Ainda que carregasse o estigma de estéril, ela estava ali.
Ao invés de revidar as provocações de Penina, Ana foi à Casa do Senhor orar; ali ela apresentou o seu problema diante de Deus e confiou nele. Apesar de toda essa situação, Ana jamais atacou sua rival, seu marido, ou até mesmo o sacerdote, e isso prova o quanto ela era humilde, pois procurou enclausurar-se naquele momento de dor indo direto aos pés do Senhor.
É difícil orar com fé quando nos sentimos tão ineficazes. Mas, como Ana descobriu, as orações abrem caminho para que Deus possa trabalhar (1Sm.1:19,20). Tiago e Pedro falaram da importância de nos humilharmos na presença do Senhor, para que, no tempo certo, sejamos exaltados (Tg.4:10; 1Pd.5:6).

2. Ana e sua amargura de alma (1Sm.1:10)

“Ela, pois, com amargura de alma, orou ao SENHOR e chorou abundantemente”.
Neste texto, o termo “amargura da alma” ou “angústia profunda” (ARA) indica depressão profunda e angústia emocional (Jó 3:20-22; 10:1; Pv.31:6,7; Ez.27:31). As palavras da própria Ana dão testemunho de seu sofrimento intenso. Ela fala de sua “miséria” (1Sm.1:11) e “grande angústia e aflição” (1Sm1:16); descreve a si mesma como “profundamente conturbada” (1Sm.1:15).
Caso alguém esteja dominado por este sentimento, e não seja logo tratado, pode representar um risco fatal, pois, quando alguém é dominado por ele, os resultados são desastrosos, já que passa a estar contaminado pelo sentimento de rancor, ódio; seu coração fica envenenado, de modo que não pode produzir nada de bom.
Como diz o Pr. Osiel Gomes, uma pessoa amargurada jamais olha para os outros com bons olhos, antes, na sua visão, nada presta, seu emocional é estressante, suas memórias são sempre pungentes. Em resumo, dizemos que uma pessoa amargurada não tem prazer com a vida e busca estragar a vida dos outros.
A Bíblia fala de duas noras que tornaram a vida de Isaque e Rebeca uma amargura; seus nomes: Judite e Basemate (Gn.26:34) - “E estas foram para Isaque e Rebeca uma amargura de espírito” (Gn.26:35). Elas tornaram a vida desse casal, sem brilho, sem vida, sem alegria, sem encanto, pois pessoas amarguradas são como vírus letais, que saem disseminando sua doença.
Paulo diz que devemos manter longe de nós toda amargura (Ef.4:31), inclusive afirma que os maridos não devem tratar suas esposas com amargura (Cl.3:19).
O escritor aos Hebreus adverte que em nós não deve existir raiz de amargura (Hb.12:15). Quando ele diz isto, possivelmente, ele tinha consciência do que esse mal pode causar, pois pessoas amarguradas são como viventes mortos, como soda cáustica; têm no seu interior feridas incuráveis, as quais resultaram de traumas da vida, de amor não correspondido, de tratamento ignorante, de abusos, de violência.
Ana estava profundamente amargurada, por causa de sua esterilidade e também por causa das provocações maldosas de sua rival, mas ela se comportou como uma serva de Deus e soube colocar seus ressentimentos, suas amarguras, no lugar certo: perante o Senhor. Ele não deixou que esse sentimento a corroesse por dentro. Ana sabia que tudo poderia ser resolvido através do Senhor, por isso o texto diz: “[...] orou ao Senhor e chorou abundantemente” (1Sm.1:10).
Diante de sua amargura de alma, Ana fez duas coisas importantes: demorou-se em sua oração e só movimentava os lábios, orando com o coração, razão pela qual Eli a teve como embriagada.
Eli era um homem experiente e, através do tempo de ministério, pôde contemplar todo tipo de pessoa fazendo oração no Tabernáculo. Como de praxe, alguns judeus oram em alta voz, mas aqui duas coisas o incomodavam: a oração silenciosa e sua demora no pedido. Não sabia ele que essa mulher estava clamando pela vinda do homem que iria fazer toda a diferença em Israel, o seu filho Samuel.
Ao enfatizar o sofrimento de Ana, o narrador prepara o cenário para a intervenção do Senhor. Ele proveu para Ana e lhe concedeu o que desejava o seu coração. O Senhor não é indiferente à dor e à opressão dos necessitados; atenta para eles e os levanta de sua aflição (1Sm.2:7,8).
“O SENHOR empobrece e enriquece; abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó e, desde o esterco, exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do SENHOR são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo” (1Sm.2:7,8).
Concordo com o pr. Osiel Gomes quando diz que o endereço certo para derramarmos nossas lágrimas, nossos gemidos e gritos é aos pés de Deus, pois somente Ele entende o que é de fato a amargura de alma.
Todos nós podemos correr o risco de estar amargurados, mas não podemos deixar que isso nos domine, pois o que deve permear o nosso ser é o fruto do Espírito (Gl.5:22), a saber, amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, mansidão, temperança.

3. O pedido de Ana (1Sm.1:11)

 “E votou um voto, dizendo: SENHOR dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, mas à tua serva deres um filho varão, ao SENHOR o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha”.
Ana em desespero por causa de sua esterilidade se volta ao Senhor em oração. Ela se dirige ao Senhor por meio do seguinte título: “Senhor dos Exércitos”, termo que ressalta a soberania de Deus. Ela imaginava o Senhor entronizado acima dos querubins da Arca da Aliança, o símbolo terreno de Seu trono celeste (1Sm.4:4; 2Sm.6:2). Faz sentido que tenha se dirigido ao Senhor dessa forma em Siló, pois “a Arca de Deus” estava nesse local (cf.1Sm.4:3).
O desejo prioritário de Ana era ser mãe, e ela foi bem específica no seu pedido – “Se....à tua serva deres um filho varão...”. Nada substituiria esse desejo, nem mesmo as maiores riquezas materiais. Para ela o seu maior patrimônio seriam filhos. Ana orou sincera, especifica e sacrificialmente. Não retrocedeu no seu pedido, mesmo quando repreendida pelo sacerdote incompreensivo.
Ana desejava tanto ter um filho que estava disposta a negociar com o Senhor. Deus levou a sério a sua promessa e atendeu a sua oração. Ao sair do Tabernáculo, ela creu que a sua oração tinha sido ouvida, por isso de imediato fez três coisas: seguiu o seu caminho; alimentou-se; e manifestou grande jubilo (1Sm.1:18). Essa nova postura de Ana declarou sua confiança plena em Deus e a certeza de que a bênção era certa, pois ela cria que Deus tinha ouvido suas orações.
O Senhor tirou a esterilidade de Ana e ela teve um filho. Samuel nasceu, e quando foi desmamado, Ana cumpriu o seu voto, por mais dolorosa que pudesse ser aquela atitude (1Sm.1:27,28). Ela poderia ter tido muitas desculpas para ser uma mãe possessiva, mas quando o Senhor respondeu sua oração, Ana cumpriu sua promessa de dedicar Samuel à obra de Deus. Ela estava ciente de que tudo o que temos e recebemos é um empréstimo de Deus.
Jamais devemos ter em mente que Ana estivesse barganhando com Deus, ou seja, o seu pedido não deve ser considerado uma troca, ou algo egoísta; antes, seu desejo era puro, verdadeiro e visava à glória de Deus. Ela queria ser mãe e pede um filho para o consagrar inteiramente à obra de Deus. O pedido de Ana estava dentro dos propósitos divinos, em momento algum ela pediu algo para contrapor com sua rival, para ter um menino apenas para ela, mas dedicaria a Deus.
Embora não estejamos em posição para negociar com Deus, Ele ainda responde uma oração de um coração contrito acompanhada de um voto. Ao orar, pergunte a si mesmo: “eu cumprirei o meu voto feito ao Senhor, caso Ele atenda ao meu pedido?”.
Precisamos ser cuidadosos com o que prometemos em oração porque Deus pode cobrar. É desonesto e perigoso ignorar uma promessa, um voto, especialmente feito a Deus. Ele cumpre a Sua palavra e espera que cumpramos o que prometemos a Ele.

III. A DEDICAÇÃO DE SAMUEL

1. O nascimento de Samuel (1Sm.1:20)

“E sucedeu que, passado algum tempo, Ana concebeu, e teve um filho, e chamou o seu nome Samuel, porque, dizia ela, o tenho pedido ao SENHOR”.
Após as festividades, Elcana e sua família retornaram à sua cidade, e coabitou com Ana, e nela foi gerada uma criança, cumprindo assim a vontade de Deus em atender ao pedido de Ana. Imagine o momento em que Ana percebeu que estava grávida! Deve ter sido uma alegria sem par.
Ao nascer o menino, Ana deu a ele o nome de Samuel, que significa “ouvido por Deus”. Como recebera o menino em resposta à sua oração, Ana procurou por um nome que revelasse o caráter divino.
O nascimento de Samuel foi humano, mas tudo se processou pela ação divina; assim, sendo a criança do sexo masculino, Ana queria dar a ela um nome que fizesse jus a todo o acontecimento, que apresentasse um menino que veio de Deus por meio da oração. Ela quis louvar a fidelidade de Deus ao atender a sua oração. Aonde quer que Samuel fosse e o que ele fizesse, seu nome daria testemunho de uma grande e importante verdade sobre Deus: Sua fidelidade; Ele se importa com os seus filhos; Ele ouve a oração de seus filhos. Samuel seria um exemplo vivo de que quando o povo de Deus pede humildemente, o Senhor ouve e responde com misericórdia e graça.
Ao olharmos para o nascimento de Samuel, devemos nos conscientizar de que, quando alguém entrega a Deus os seus problemas, tendo ciência de que Ele é o Senhor dos exércitos, que ouve as orações, agirá primeiramente tratando com nós mesmos, como fez com Ana, fazendo com que seu semblante não fosse mais o mesmo e gerando a certeza de que todos quantos se entregam confiantemente nas mãos de Deus, milagres acontecem. Vale a pena nos submetermos em oração ao Senhor, agradar-lhe, e Ele concederá o que deseja o nosso coração. Afirma o salmista:
“Os olhos do SENHOR estão sobre os justos; e os seus ouvidos, atentos ao seu clamor. A face do SENHOR está contra os que fazem o mal, para desarraigar da terra a memória deles. Os justos clamam, e o SENHOR os ouve e os livra de todas as suas angústias. Perto está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado e salva os contritos de espírito” (Sl.34:15-18).
“Agrada-te do SENHOR, e ele satisfará os desejos do teu coração” (Sl.37:4).

2. O Cumprimento do Voto (1Sm.1:26-27)

“E disse ela: Ah! Meu senhor, viva a tua alma, meu senhor; eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, para orar ao SENHOR. Por este menino orava eu; e o SENHOR me concedeu a minha petição que eu lhe tinha pedido. Pelo que também ao SENHOR eu o entreguei, por todos os dias que viver; pois ao SENHOR foi pedido. E ele adorou ali ao SENHOR”.
Desde o primeiro momento em que Ana desejou ter um filho, ela, decididamente e em oração, o apresentava diante do Senhor (cf. 1Sm.1:10-28). Ela considerava seu filho uma dádiva graciosa da parte de Deus, e expressou sua intenção de cumprir seu voto, entregando seu primogênito ao Senhor.
Quando o menino foi desmamado, Ana o apresentou à Casa do Senhor e o devolveu a Deus num ato definitivo de consagração. Desde o início, ele assistiu aos sacerdotes e ministrou diante do Senhor.
No Antigo Testamento, o voto jamais assumiu a ideia de barganha que tinha entre os gentios idólatras, nem tampouco era algo que fosse considerado obrigatório na lei de Moisés. Entretanto, havendo a prática do voto, seu cumprimento era exigido, representando pecado o seu não pagamento, sendo, também, as Escrituras claras no sentido de que o próprio Deus requereria tal cumprimento.
No compêndio doutrinário da Igreja, o Novo Testamento, não há uma disciplina explícita com relação ao voto, porém, o mesmo não é desestimulado ou proibido; ou seja, se alguém quiser fazer voto pode fazê-lo. Não está proibido porque resulta do livre-arbítrio, mas a responsabilidade de quem vota é muito grande. Voto não confere santidade nem tampouco traz bênçãos; cria tão somente obrigações.
Em o Novo Testamento, por duas vezes, vemos Paulo envolvido em voto de raspar a cabeça (muito provavelmente o voto do nazireado). Uma vez, ele mesmo fez voto (At.18:18), na outra arcou com as despesas da raspagem da cabeça de quatro crentes judaizantes de Jerusalém que haviam feito voto (At.21:23,24,26,27). Todavia, tais episódios são insuficientes para gerar doutrina, ainda mais quando se trata de fatos que envolveram o apóstolo Paulo, que, em nenhuma de suas epístolas, tratou do assunto.
O cristão, ao votar, deve fazê-lo apenas por gratidão a Deus, seja por bênçãos alcançadas, seja pela confiança firme de que a bênção será alcançada, por um ato de fé, como fez Ana. Não deve agir como os gentios, procurando fazer uma “troca de favores” com Deus, pelo simples motivo de que nada temos a oferecer a Deus. Se dEle é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam, como podemos dar algo a Deus que já é dEle? O voto como barganha é algo abominável diante de Deus, algo que Ele jamais aceitará ou tolerará, pois é uma manifestação de arrogância e atrevimento ao Senhor.

3. Dedicação de Samuel

Ana demonstrou sua dedicação ao Senhor, pela sua disposição de dedicar seu filho à obra do Senhor. Ela disse: “um filho... ao Senhor o darei” (1Sm1:11). Na festa seguinte ao desmamar o menino Samuel, Ana o levou para Siló, onde estava o Tabernáculo, com ofertas que constituíam em três bezerros e um efa de farinha e um odre de vinho (1Sm1:24).
“E, havendo-o desmamado, o levou consigo, com três bezerros e um efa de farinha e um odre de vinho, e o trouxe à Casa do SENHOR, a Siló. E era o menino ainda muito criança”.
Um dos bezerros seria para a oferta queimada da dedicação de Samuel (1Sm.1:25); os outros dois seriam parte dos sacrifícios anuais da família, o chamado sacrifício pacífico; um efa seria um pouco maior do que um alqueire em termos de medias atuais; o odre de vinho era uma garrafa de couro ou pele de animal, ou ainda um jarro. Isso indicaria uma oferta muito generosa.
Quando Ana apresentou o menino Samuel ao sumo sacerdote Eli, juntamente com o animal do sacrifício, Ana fez questão de lembrar ao idoso sacerdote a sua oração: “Ao Senhor eu o entreguei” (1Sm,1:28) – a expressão melhor poderia ser assim: “Eu o devolvi ao Senhor”.
Ana relata o teor do seu voto e agora quer que Eli aceite a criança para cumprir o compromisso feito com Deus, isso porque não era permitido uma criança de três anos estar no Tabernáculo, a não ser que o sacerdote permitisse. Ela, então, esclarece que seu voto era o de dedicar aquela criança ao trabalho do Senhor por toda a vida. Seu voto era de nazireu.
Eli entendeu que Deus estava trabalhando e, por isso, prontamente aceita cuidar da criança. Ana entrega Samuel a Eli, que aparece na expressão bíblica “devolvido ao Senhor”. Ela tinha consciência de que Samuel tinha uma missão grandiosa a cumprir e, caso ficasse somente em casa, isso jamais iria acontecer.
Concordo com as palavras do pr. Osiel Gomes, quando diz: “como é bom quando os pais se dedicam as coisas de Deus e, consequentemente, mostram aos seus filhos, na prática, uma vida de devoção sincera. Ao chegarem ao templo, em reverência, oram a Deus; em casa, fazem o culto doméstico; primam por viver o Evangelho de Jesus Cristo. Os filhos que crescem, vendo tal dedicação sincera, naturalmente, são estimulados a temerem a Deus e a amá-lo de todo o coração”.

CONCLUSÃO

Samuel foi líder de líderes, conselheiro-chefe de reis e capitães militares de Israel. Quando ele falava, todos escutavam. Como profeta de Deus, Samuel ungia reis; como intérprete da Palavra de Deus, aconselhou e desafiou reis. Servindo como juiz nos dias imediatamente antes da monarquia de Saul, Samuel incorporou três grandes funções: profeta, sacerdote e juiz, como também o faria Jesus, mais tarde, sendo Rei, Sacerdote e Profeta.
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 80. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Osiel Gomes. O Governo divino em mãos humana. CPAD.
Bíblia da Liderança Cristã. Sociedade Bíblica do Brasil.
Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Roberto B. Chisholm Jr. 1 & 2 Samuel. Vida Nova.


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