4º Trimestre/2019
Texto Base:1Samuel 1:20-28
"E sucedeu que, passado algum tempo, Ana
concebeu, e teve um filho, e chamou o seu nome Samuel, porque, dizia ela, o
tenho pedido ao Senhor" (1Sm.1:20).
1Samuel
1:20-28
20-E sucedeu
que, passado algum tempo, Ana concebeu, e teve um filho, e chamou o seu nome
Samuel, porque, dizia ela, o tenho pedido ao SENHOR.
21-E subiu
aquele homem Elcana, com toda a sua casa, a sacrificar ao SENHOR o sacrifício
anual e a cumprir o seu voto.
22-Porém Ana
não subiu, mas disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então, o
levarei, para que apareça perante o SENHOR e lá fique para sempre.
23-E Elcana,
seu marido, lhe disse: Faze o que bem te parecer a teus olhos; fica até que o
desmames; tão-somente confirme o SENHOR a sua palavra. Assim, ficou a mulher e
deu leite a seu filho, até que o desmamou.
24-E,
havendo-o desmamado, o levou consigo, com três bezerros e um efa de farinha e
um odre de vinho, e o trouxe à Casa do SENHOR, a Siló. E era o menino ainda
muito criança.
25-E
degolaram um bezerro e assim trouxeram o menino a Eli.
26-E disse
ela: Ah! Meu senhor, viva a tua alma, meu senhor; eu sou aquela mulher que aqui
esteve contigo, para orar ao SENHOR.
27-Por este
menino orava eu; e o SENHOR me concedeu a minha petição que eu lhe tinha
pedido.
28-Pelo que
também ao SENHOR eu o entreguei, por todos os dias que viver; pois ao SENHOR
foi pedido. E ele adorou ali ao SENHOR.
INTRODUÇÃO
Em 1Samuel, capítulo
primeiro, é narrada a história do nascimento de Samuel, que contrariou a lógica
humana, pois sua mãe era estéril; foi um grande marco na história de Israel. Samuel
tornou-se um grande líder e foi um instrumento comprometido com Deus para fazer
a vontade divina. Sua mãe chama-se Ana, uma mulher humilde e piedosa, que amava
o Senhor, porém, era estéril. Ana é com certeza um exemplo de fé e perseverança;
uma mulher que não se acostumou com a situação de esterilidade. Mesmo diante
das dificuldades causadas por Penina, a outra esposa de Elcana, e a
incompreensão do marido e do sacerdote Eli, Ana permaneceu crendo e esperando
no agir de Deus. A fé de Ana é recompensada de maneira maravilhosa. Ela fez um
voto ao Senhor Deus, e Ele atendeu o seu desejo: ela gerou um filho e o seu
nome foi Samuel. No tempo determinado, Ana levou o menino ao Templo e o
consagrou ao Senhor Deus, tal como havia prometido em seu voto. Antes de
entregar Samuel ao sacerdote Eli, ela conta seu testemunho e os fundamentos do
voto que fez. Juntamente com uma generosa oferta, ela entrega o menino ao
Senhor, que fica aos cuidados do sumo sacerdote Eli. Tal como havia dito, Ana
fez. Cumprir votos que fazemos ao Senhor é fundamental na nossa intimidade
com Deus. Que sejamos fiéis naquilo que lhe prometemos.
I. O AMBIENTE FAMILIAR DE SAMUEL
1. O
local de nascimento de Samuel
O texto sagrado é bem claro sobre a localidade do
nascimento dos pais de Samuel, subentendendo que ele tenha nascido ali também.
“Houve um homem de
Ramataim-Zofim, da montanha de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão,
filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efrateu” (1Sm.1:1).
Portanto, Samuel nasceu
num local chamado “Ramataim-Sofim”, que em hebraica significa “vigilante em
dupla altura” ou “cumes gêmeos de Zofim”.
Por que dar ênfase à localização do nascimento de
Samuel? Com bem diz o Pr. Osiel Gomes, situar, geograficamente, Samuel dentro
de uma localidade, especificando a residência de seus pais, é evidenciar aos
leitores do texto sagrado que esse homem não vai aparecer nas páginas da Bíblia
como uma pessoa qualquer, mas que tem uma família, um local certo de
nascimento.
Neste particular, vemos que Jesus, por diversas
vezes, é apresentado como tendo uma residência (João 1:39). Paulo procurou com
denodo esclarecer sua origem familiar, localidade de seu nascimento e formação,
uma prova de que ele não era um intruso, alguém sem princípio, sem origem
(At.22;3 - ARA).
Um detalhe importante pode ser dito sobre essa
localidade: ela seria o lugar permanente de Samuel (1Sm.7:17); nela ele nasceu,
morreu e foi sepultado (1Sm.25:1). Vale dizer que somente aqui, 1Sm.1:1, é que
aparece a completude dessa localidade, sendo que em outras passagens bíblicas
vem apenas o primeiro nome: Ramá. Assim, pode-se crer que Zofim vem primeiro
para fazer distinção entre outras regiões que também eram denominadas de Ramá,
que quer dizer cume.
Ramataim-Zofim estava situada na região montanhosa de Efraim,
distando ao norte de Jerusalém aproximadamente 24 quilômetros. Para o escritor
e historiador Flávio Josefo, esse lugar poderia ser também a cidade em que José
de Arimateia nasceu (João 19:38).
Portanto, podemos dizer que Elcana era da tribo de
Levi, descendente de Coate, mas não da linhagem de Arão (1Cr.6:26,33), porém
estava habitando na terra de Efraim. Talvez possa parecer um pouco estranho
Elcana habitar em território efraimita, porém, isso não era algo anormal,
incomum, porque os levitas não tinham as tribos locais definidas, de maneira
que podiam habitar nas cidades que pertenciam às tribos, pois fora dito pelo
Senhor que eles não teriam herança (Dt.18:1,2).
O texto sagrado afirma que as famílias descendentes
de Coate foram beneficiadas com algumas cidades, entre as quais localizadas
geograficamente nos territórios da tribo de Efraim (ver Josué 21:5 e 1Crônicas
6:66).
“E aos outros filhos de Coate caíram por sorte, das
famílias da tribo de Efraim, e da tribo de Dã, e da meia tribo de Manassés, dez
cidades” (Js.21:5).
“E, quanto ao mais das famílias dos filhos de
Coate, as cidades do seu termo se lhes deram da tribo de Efraim” (1Cr.6:66).
Portanto, Elcana era um levita, mas efraimita
somente por causa de sua residência, por autorização da própria Lei mosaica.
Samuel atuou como sacerdote porque era de origem
levita também. Como bem diz o Pr. Osiel Gomes, Samuel
não foi somente um profeta, sacerdote e juiz, mas alguém que teve origem, boa
formação familiar e espiritual, que desde cedo aprendeu a estar na casa do
Senhor, por incentivo de seus pais, e, sob a tutela de Eli, aprendeu a servir como
servo de Deus.
Vale salientar que é fundamental um líder ter
histórico e história, pois isso irá contribuir grandemente para sua formação
pastoral. Grandes líderes não surgem em seminários de renome, em grandes
universidades, como Harvard, Cambridge, que têm seus valores, mas num lar
cristão e piedoso, e essa ideia é paulina (1Tm.3:4) – “que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição,
com toda a modéstia”.
Um líder pode ter boa desenvoltura, retórica, uma
erudição teológica grandiosa, mas não é um grande profeta de Deus para as
nações quando não está presente nele uma boa formação espiritual oriunda de
seus pais, do seu ambiente familiar, de sua Igreja Local.
Samuel teve grandes privilégios: uma mãe piedosa,
que procurava criar em sua mente e coração o desejo de ser um instrumento nas
mãos de Deus; um sacerdote para lhe ensinar como se dirigir perante Deus quando
Ele chamar. Tudo isso esteve presente na sua vida, razão pela qual veio a ser
tudo o que foi para Israel.
2. A
Bigamia presente
O primeiro Livro de
Samuel começa narrando que Elcana tinha duas mulheres - Ana (que significa
graça) e Penina (que significa pérola) -, possivelmente por causa da
esterilidade de Ana; mas, tal desculpa não convence, pois ele deveria ter
entregue tudo ao Senhor, como fez Ana, e logo depois o problema estaria
resolvido, como foi.
Como todo registro
histórico fiel, a Bíblia relata a prática da poligamia, mas em nenhum momento a
aprova. A exemplo de Lia e Raquel, uma esposa era fértil e a outra estéril. Havia
rivalidade no lar, pois apesar de não ter filhos, seu marido a amava.
Sabemos com base na
leitura dos relatos patriarcais em Gênesis que a poligamia dá origem a
conflitos domésticos, especialmente quando uma das esposas é estéril. O mesmo
aconteceu na casa de Elcana. O texto de 1Smauel 1:6 identifica Penina como
rival de Ana, pois ela ridicularizava a condição de Ana a ponto de esta chorar
e recusar-se a comer (1Sm.1:7).
“E a sua competidora
excessivamente a irritava para a embravecer, porquanto o SENHOR lhe tinha
cerrado a madre. E assim o fazia ele de ano em ano; quando ela subia à Casa do
SENHOR, assim a outra a irritava; pelo que chorava e não comia” (1Sm.1:6,7).
De ano em ano, a família
ia a Siló para celebrar as festas, e Ana recebia porção dupla do sacrifício
pacífico (1Sm.1:3-5). Essa predileção fazia Penina provocá-la ainda mais para a
irritar. Cada vez mais magoada e desesperada com a provocação de Penina, Ana
apresentou o seu problema ao Senhor no Templo.
Inúmeros eram os
problemas que surgiam num lar onde existia a poligamia, como se observa o
ocorrido com as mulheres de Elcana. Pela poligamia, as mulheres tomadas não
passavam simplesmente de amantes, o que é chamado de concubinato; elas serviam
apenas como objeto para o sexo e a procriação.
Ter várias esposas era
permitida pela Lei de Moisés (Dt.21:15), mas tanto a poligamia - um homem ter
mais de uma mulher -, quanto a poliandria - uma mulher ter mais de um marido -,
estão em desacordo com o ensino das Escrituras Sagradas para o casamento (cf.
Dt.28:54,56; Sl.128:3; Pv.5:15-21; Ml.2:14).
Elcana seguiu um modelo
que não era aprovado por Deus, nos quais andaram Jacó, Gideão, Saul, Davi,
Salomão, Roboão, dentre outros; porém, essa prática foi condenada por Jesus e
pelo apóstolo Paulo. Jesus, em Sua resposta aos fariseus, quando estes lhe
interrogaram acerca do divórcio, foi clarividente que Deus criou o casamento
monogâmico. Ele disse: “Portanto, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua
mulher...”(Mt.19:5). Ele não disse: “suas mulheres”, e sim, “sua mulher”. A
resposta do Senhor remonta às origens do casamento e da própria criação (cf.
Gn.2:24).
Paulo, ao mencionar as
qualificações do presbítero, adverte: “É necessário, portanto, que o bispo seja
(...) esposo de uma só mulher...” (1Tm.3:2). O diácono também deve ser “marido
de uma só mulher” (1Tm 3:12). Portanto, a liderança eclesiástica deve ser o
exemplo dos fiéis em tudo, e esse exemplo inclui o casamento bíblico
(1Tm.4:12).
Lameque foi o primeiro a
rejeitar o princípio do casamento monogâmico, ordenado por Deus (Gn.2:22-24) –
“E tomou Lameque para si duas mulheres; o
nome de uma era Ada, e o nome da outra, Zilá” (Gn.4:19). A partir daí a
depravação hereditária se alastrou progressivamente no lar e na família.
Deus tolerou a poligamia,
mas nunca a aprovou, por ser prática estranha ao seu projeto para a
constituição da família.
3.
Uma família piedosa
Pessoa piedosa é aquela
que tem uma vida santa, de oração e consagração. Só pode ser justo aquele que é
piedoso. Por isto, não temos como ser justos e ímpios, ao mesmo tempo. Piedoso
é alguém cuidadoso em relação a Deus. Piedoso é quem leva Deus a sério.
Portanto, ser piedoso é
ser temente a Deus. Ser piedoso é estar atento às manifestações de Deus em
nossas vidas. Só as pessoas piedosas veem os atos poderosos de Deus. Ser
piedoso é ser íntimo de Deus.
Ø Quando somos íntimos de
Deus, os frutos de justiça brotam de nós naturalmente.
Ø Quando somos íntimos de
Deus, sua Palavra flui de nós sem que façamos força.
Ø Quando somos íntimos de
Deus, todos ao nosso redor veem a luz que nós projetamos.
Apesar da porfia e a
inveja terem espaço suficientes para suscitar conflitos de relacionamentos, há
um fator que merece destaque na família de Elcana: a sua família demonstrava
ser piedosa, ou seja, cumpria com os compromissos espirituais a serem
observadas, conforme os mandamentos veterotestamentários.
A piedade era vista nessa
família através da oração e do sacrifício que prestava a Deus. O texto sagrado
afirma que ele saía da sua cidade todos os anos a adorar e a sacrificar ao
Senhor dos Exércitos, em Siló (1Sm.1:3). Com essa ação, eles faziam oposição ao
sistema idolátrico que estava estabilizado naquela época. Nos dias de Eli, além
dos pecados de seus filhos, muitos já não subiam a Siló para adorar ao Deus verdadeiro,
mas adoravam e praticavam sacrifícios ao ídolo de Mica (Jz.12:17); porém,
Elcana e sua casa continuavam servindo ao Senhor com verdade e sinceridade. A
maneira de Ana se comportar no momento da oração, no Tabernáculo, pedindo um
filho ao Senhor é uma prova cabal de que ela era uma mulher piedosa.
É bom ressaltar que nem
toda pessoa radicalmente religiosa é considerada uma pessoa piedosa.
-Veja os exemplos dos
filhos de Eli, Hofni e Finéias; eles eram considerados “os sacerdotes do
SENHOR” (1Sm.1:3), que cumpriam os deveres litúrgicos, porém eram considerados
filhos de Belial (1Sm.2:12); “eram sacerdotes do Senhor”, mas, “não conheciam
ao Senhor”; eram pecadores explícitos (1Sm.2:22a) e faziam “transgredir todo o
povo do Senhor” (1Sm.2:24). Diz o texto sagrado que eles “se deitavam com as
mulheres que em bandos se ajuntavam à porta da tenda da congregação”
(1Sm.2:22).
-Veja os filhos de
Samuel, homem de Deus. Eles eram juízes sobre o povo de Deus, mas eram
corruptos. Diz o texto sagrado: “seus filhos não andaram pelos caminhos dele;
antes, se inclinaram à avareza, e tomaram presentes, e perverteram o juízo” 1Sm.8:3).
Religiosidade aparente
não agrada a Deus, e sim um coração puro voltado a uma adoração por excelência
ao Senhor. Quando há uma sincera adoração ao Senhor, a sua presença é real.
Jesus disse: "onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou
eu no meio deles" (Mt.18:20).
“Estamos vivenciando um
mundo cada vez mais comprometido com o pecado, famílias sendo atacadas pelos
modismos e ensinos pós-modernos pouco edificantes. Todavia, aquelas que são
verdadeiramente firmadas na aliança com o Senhor não serão abaladas e, ainda
que tenham as imperfeições humanas, poderão fomentar o poder do Senhor dos
exércitos nesta terra, pois, como falou Paulo, somos seus soldados, e nenhum
soldado em combate se envolve com negócios desta vida (2Tm.2:4)” (Pr. Osiel
Gomes).
II. SAMUEL: FRUTO DE ORAÇÃO
1. A
Humildade de Ana
Ana era estéril, e ser
estéril naquela época era motivo de zombaria e desprezo, era algo estarrecedor,
uma vergonha (1Sm.1:5-7). Não era fácil para Ana, pois, não gerando filhos,
dela não poderia haver um substituto para Elcana; através dela seu nome não
seria perpetuado. Outro agravante é que, naquela época, uma mulher não ter
filho era como se fosse amaldiçoada por Deus.
Além disso, Ana
compartilhava seu marido com uma mulher que a ridicularizava (1Sm.1:7). 1Samuel
1:6 mostra a provocação de Penina contra ela, detratando-a negativamente por
não ter filhos. Diante dessa situação, Ana tinha bons motivos para se sentir
desencorajada e amargurada.
Seu excelente esposo não
podia resolver seus problemas (1Sm1:8), e até o sumo sacerdote Eli confundiu
seus motivos (1Sm.1:14). Mas, ao invés de retaliar ou perder as esperanças, Ana
não deixava de ir à Siló festejar e adorar ao Senhor. Ainda que carregasse o
estigma de estéril, ela estava ali.
Ao invés de revidar as
provocações de Penina, Ana foi à Casa do Senhor orar; ali ela apresentou o seu
problema diante de Deus e confiou nele. Apesar de toda essa situação, Ana
jamais atacou sua rival, seu marido, ou até mesmo o sacerdote, e isso prova o
quanto ela era humilde, pois procurou enclausurar-se naquele momento de dor
indo direto aos pés do Senhor.
É difícil orar com fé
quando nos sentimos tão ineficazes. Mas, como Ana descobriu, as orações abrem
caminho para que Deus possa trabalhar (1Sm.1:19,20). Tiago e Pedro falaram da
importância de nos humilharmos na presença do Senhor, para que, no tempo certo,
sejamos exaltados (Tg.4:10; 1Pd.5:6).
2.
Ana e sua amargura de alma (1Sm.1:10)
“Ela, pois, com amargura
de alma, orou ao SENHOR e chorou abundantemente”.
Neste texto, o termo
“amargura da alma” ou “angústia profunda” (ARA) indica depressão profunda e
angústia emocional (Jó 3:20-22; 10:1; Pv.31:6,7; Ez.27:31). As palavras da
própria Ana dão testemunho de seu sofrimento intenso. Ela fala de sua “miséria”
(1Sm.1:11) e “grande angústia e aflição” (1Sm1:16); descreve a si mesma como
“profundamente conturbada” (1Sm.1:15).
Caso alguém esteja
dominado por este sentimento, e não seja logo tratado, pode representar um
risco fatal, pois, quando alguém é dominado por ele, os resultados são
desastrosos, já que passa a estar contaminado pelo sentimento de rancor, ódio;
seu coração fica envenenado, de modo que não pode produzir nada de bom.
Como diz o Pr. Osiel
Gomes, uma pessoa amargurada jamais olha para os outros com bons olhos, antes,
na sua visão, nada presta, seu emocional é estressante, suas memórias são
sempre pungentes. Em resumo, dizemos que uma pessoa amargurada não tem prazer
com a vida e busca estragar a vida dos outros.
A Bíblia fala de duas
noras que tornaram a vida de Isaque e Rebeca uma amargura; seus nomes: Judite e Basemate (Gn.26:34) - “E estas foram para Isaque e Rebeca uma amargura de
espírito” (Gn.26:35). Elas tornaram a vida desse casal, sem brilho, sem
vida, sem alegria, sem encanto, pois pessoas amarguradas são como vírus letais,
que saem disseminando sua doença.
Paulo diz que devemos
manter longe de nós toda amargura (Ef.4:31), inclusive afirma que os maridos
não devem tratar suas esposas com amargura (Cl.3:19).
O escritor aos Hebreus
adverte que em nós não deve existir raiz de amargura (Hb.12:15). Quando ele diz
isto, possivelmente, ele tinha consciência do que esse mal pode causar, pois
pessoas amarguradas são como viventes mortos, como soda cáustica; têm no seu
interior feridas incuráveis, as quais resultaram de traumas da vida, de amor
não correspondido, de tratamento ignorante, de abusos, de violência.
Ana estava profundamente
amargurada, por causa de sua esterilidade e também por causa das provocações
maldosas de sua rival, mas ela se comportou como uma serva de Deus e soube
colocar seus ressentimentos, suas amarguras, no lugar certo: perante o Senhor.
Ele não deixou que esse sentimento a corroesse por dentro. Ana sabia que tudo
poderia ser resolvido através do Senhor, por isso o texto diz: “[...] orou ao
Senhor e chorou abundantemente” (1Sm.1:10).
Diante de sua amargura de
alma, Ana fez duas coisas importantes: demorou-se em sua oração e só
movimentava os lábios, orando com o coração, razão pela qual Eli a teve como
embriagada.
Eli era um homem
experiente e, através do tempo de ministério, pôde contemplar todo tipo de
pessoa fazendo oração no Tabernáculo. Como de praxe, alguns judeus oram em alta
voz, mas aqui duas coisas o incomodavam: a oração silenciosa e sua demora no
pedido. Não sabia ele que essa mulher estava clamando pela vinda do homem que
iria fazer toda a diferença em Israel, o seu filho Samuel.
Ao enfatizar o sofrimento
de Ana, o narrador prepara o cenário para a intervenção do Senhor. Ele proveu
para Ana e lhe concedeu o que desejava o seu coração. O Senhor não é
indiferente à dor e à opressão dos necessitados; atenta para eles e os levanta
de sua aflição (1Sm.2:7,8).
“O SENHOR empobrece e
enriquece; abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó e, desde o esterco,
exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer
herdar o trono de glória; porque do SENHOR são os alicerces da terra, e
assentou sobre eles o mundo” (1Sm.2:7,8).
Concordo com o pr. Osiel
Gomes quando diz que o endereço certo para derramarmos nossas lágrimas, nossos
gemidos e gritos é aos pés de Deus, pois somente Ele entende o que é de fato a
amargura de alma.
Todos nós podemos correr
o risco de estar amargurados, mas não podemos deixar que isso nos domine, pois
o que deve permear o nosso ser é o fruto do Espírito (Gl.5:22), a saber, amor,
alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, mansidão, temperança.
3. O pedido
de Ana (1Sm.1:11)
“E votou um voto, dizendo: SENHOR dos
Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te
lembrares, e da tua serva te não esqueceres, mas à tua serva deres um filho
varão, ao SENHOR o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça
não passará navalha”.
Ana em desespero por
causa de sua esterilidade se volta ao Senhor em oração. Ela se dirige ao Senhor
por meio do seguinte título: “Senhor dos Exércitos”, termo que ressalta a
soberania de Deus. Ela imaginava o Senhor entronizado acima dos querubins da
Arca da Aliança, o símbolo terreno de Seu trono celeste (1Sm.4:4; 2Sm.6:2). Faz
sentido que tenha se dirigido ao Senhor dessa forma em Siló, pois “a Arca de
Deus” estava nesse local (cf.1Sm.4:3).
O desejo prioritário de
Ana era ser mãe, e ela foi bem específica no seu pedido – “Se....à tua serva deres um filho varão...”. Nada substituiria esse
desejo, nem mesmo as maiores riquezas materiais. Para ela o seu maior
patrimônio seriam filhos. Ana orou sincera, especifica e sacrificialmente. Não
retrocedeu no seu pedido, mesmo quando repreendida pelo sacerdote
incompreensivo.
Ana desejava tanto ter um
filho que estava disposta a negociar com o Senhor. Deus levou a sério a sua
promessa e atendeu a sua oração. Ao sair do Tabernáculo, ela creu que a sua
oração tinha sido ouvida, por isso de imediato fez três coisas: seguiu o seu
caminho; alimentou-se; e manifestou grande jubilo (1Sm.1:18). Essa nova postura
de Ana declarou sua confiança plena em Deus e a certeza de que a bênção era
certa, pois ela cria que Deus tinha ouvido suas orações.
O Senhor tirou a
esterilidade de Ana e ela teve um filho. Samuel nasceu, e quando foi desmamado,
Ana cumpriu o seu voto, por mais dolorosa que pudesse ser aquela atitude
(1Sm.1:27,28). Ela poderia ter tido muitas desculpas para ser uma mãe
possessiva, mas quando o Senhor respondeu sua oração, Ana cumpriu sua promessa
de dedicar Samuel à obra de Deus. Ela estava ciente de que tudo o que temos e
recebemos é um empréstimo de Deus.
Jamais devemos ter em
mente que Ana estivesse barganhando com Deus, ou seja, o seu pedido não deve
ser considerado uma troca, ou algo egoísta; antes, seu desejo era puro,
verdadeiro e visava à glória de Deus. Ela queria ser mãe e pede um filho para o
consagrar inteiramente à obra de Deus. O pedido de Ana estava dentro dos
propósitos divinos, em momento algum ela pediu algo para contrapor com sua
rival, para ter um menino apenas para ela, mas dedicaria a Deus.
Embora não estejamos em
posição para negociar com Deus, Ele ainda responde uma oração de um coração
contrito acompanhada de um voto. Ao orar, pergunte a si mesmo: “eu cumprirei o
meu voto feito ao Senhor, caso Ele atenda ao meu pedido?”.
Precisamos ser cuidadosos
com o que prometemos em oração porque Deus pode cobrar. É desonesto e perigoso
ignorar uma promessa, um voto, especialmente feito a Deus. Ele cumpre a Sua
palavra e espera que cumpramos o que prometemos a Ele.
III. A DEDICAÇÃO DE SAMUEL
1. O
nascimento de Samuel (1Sm.1:20)
“E sucedeu que, passado
algum tempo, Ana concebeu, e teve um filho, e chamou o seu nome Samuel, porque,
dizia ela, o tenho pedido ao SENHOR”.
Após as festividades,
Elcana e sua família retornaram à sua cidade, e coabitou com Ana, e nela foi
gerada uma criança, cumprindo assim a vontade de Deus em atender ao pedido de
Ana. Imagine o momento em que Ana percebeu que estava grávida! Deve ter sido
uma alegria sem par.
Ao nascer o menino, Ana
deu a ele o nome de Samuel, que significa “ouvido por Deus”. Como recebera o
menino em resposta à sua oração, Ana procurou por um nome que revelasse o
caráter divino.
O nascimento de Samuel
foi humano, mas tudo se processou pela ação divina; assim, sendo a criança do
sexo masculino, Ana queria dar a ela um nome que fizesse jus a todo o acontecimento,
que apresentasse um menino que veio de Deus por meio da oração. Ela quis louvar
a fidelidade de Deus ao atender a sua oração. Aonde quer que Samuel fosse e o
que ele fizesse, seu nome daria testemunho de uma grande e importante verdade
sobre Deus: Sua fidelidade; Ele se importa com os seus filhos; Ele ouve a
oração de seus filhos. Samuel seria um exemplo vivo de que quando o povo de
Deus pede humildemente, o Senhor ouve e responde com misericórdia e graça.
Ao olharmos para o
nascimento de Samuel, devemos nos conscientizar de que, quando alguém entrega a
Deus os seus problemas, tendo ciência de que Ele é o Senhor dos exércitos, que
ouve as orações, agirá primeiramente tratando com nós mesmos, como fez com Ana,
fazendo com que seu semblante não fosse mais o mesmo e gerando a certeza de que
todos quantos se entregam confiantemente nas mãos de Deus, milagres acontecem.
Vale a pena nos submetermos em oração ao Senhor, agradar-lhe, e Ele concederá o
que deseja o nosso coração. Afirma o salmista:
“Os olhos do SENHOR estão
sobre os justos; e os seus ouvidos, atentos ao seu clamor. A face do SENHOR
está contra os que fazem o mal, para desarraigar da terra a memória deles. Os
justos clamam, e o SENHOR os ouve e os livra de todas as suas angústias. Perto
está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado e salva os contritos de
espírito” (Sl.34:15-18).
“Agrada-te do SENHOR, e ele satisfará os desejos do teu coração” (Sl.37:4).
2. O
Cumprimento do Voto (1Sm.1:26-27)
“E disse ela: Ah! Meu
senhor, viva a tua alma, meu senhor; eu sou aquela mulher que aqui esteve
contigo, para orar ao SENHOR. Por este menino orava eu; e o SENHOR me concedeu
a minha petição que eu lhe tinha pedido. Pelo que também ao SENHOR eu o
entreguei, por todos os dias que viver; pois ao SENHOR foi pedido. E ele adorou
ali ao SENHOR”.
Desde o primeiro momento
em que Ana desejou ter um filho, ela, decididamente e em oração, o apresentava
diante do Senhor (cf. 1Sm.1:10-28). Ela considerava seu filho uma dádiva
graciosa da parte de Deus, e expressou sua intenção de cumprir seu voto,
entregando seu primogênito ao Senhor.
Quando o menino foi
desmamado, Ana o apresentou à Casa do Senhor e o devolveu a Deus num ato
definitivo de consagração. Desde o início, ele assistiu aos sacerdotes e
ministrou diante do Senhor.
No Antigo Testamento, o
voto jamais assumiu a ideia de barganha que tinha entre os gentios idólatras,
nem tampouco era algo que fosse considerado obrigatório na lei de Moisés.
Entretanto, havendo a prática do voto, seu cumprimento era exigido,
representando pecado o seu não pagamento, sendo, também, as Escrituras claras
no sentido de que o próprio Deus requereria tal cumprimento.
No compêndio doutrinário
da Igreja, o Novo Testamento, não há uma disciplina explícita com relação ao
voto, porém, o mesmo não é desestimulado ou proibido; ou seja, se alguém quiser
fazer voto pode fazê-lo. Não está proibido porque resulta do livre-arbítrio,
mas a responsabilidade de quem vota é muito grande. Voto não confere santidade
nem tampouco traz bênçãos; cria tão somente obrigações.
Em o Novo Testamento, por
duas vezes, vemos Paulo envolvido em voto de raspar a cabeça (muito
provavelmente o voto do nazireado). Uma vez, ele mesmo fez voto (At.18:18), na
outra arcou com as despesas da raspagem da cabeça de quatro crentes judaizantes
de Jerusalém que haviam feito voto (At.21:23,24,26,27). Todavia, tais episódios
são insuficientes para gerar doutrina, ainda mais quando se trata de fatos que
envolveram o apóstolo Paulo, que, em nenhuma de suas epístolas, tratou do
assunto.
O cristão, ao votar, deve
fazê-lo apenas por gratidão a Deus, seja por bênçãos alcançadas, seja pela
confiança firme de que a bênção será alcançada, por um ato de fé, como fez Ana.
Não deve agir como os gentios, procurando fazer uma “troca de favores” com
Deus, pelo simples motivo de que nada temos a oferecer a Deus. Se dEle é a
terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam, como podemos dar
algo a Deus que já é dEle? O voto como barganha é algo abominável diante de
Deus, algo que Ele jamais aceitará ou tolerará, pois é uma manifestação de
arrogância e atrevimento ao Senhor.
3.
Dedicação de Samuel
Ana demonstrou sua
dedicação ao Senhor, pela sua disposição de dedicar seu filho à obra do Senhor.
Ela disse: “um filho... ao Senhor o darei”
(1Sm1:11). Na festa seguinte ao desmamar o menino Samuel, Ana o levou para
Siló, onde estava o Tabernáculo, com ofertas que constituíam em três bezerros e
um efa de farinha e um odre de vinho (1Sm1:24).
“E, havendo-o desmamado,
o levou consigo, com três bezerros e um efa de farinha e um odre de vinho, e o
trouxe à Casa do SENHOR, a Siló. E era o menino ainda muito criança”.
Um dos bezerros seria para a oferta queimada da
dedicação de Samuel (1Sm.1:25); os outros dois seriam parte dos
sacrifícios anuais da família, o chamado sacrifício pacífico; um efa
seria um pouco maior do que um alqueire em termos de medias atuais; o odre de
vinho era uma garrafa de couro ou pele de animal, ou ainda um jarro. Isso
indicaria uma oferta muito generosa.
Quando Ana apresentou o
menino Samuel ao sumo sacerdote Eli, juntamente com o animal do sacrifício, Ana
fez questão de lembrar ao idoso sacerdote a sua oração: “Ao Senhor eu o entreguei” (1Sm,1:28) – a expressão melhor poderia
ser assim: “Eu o devolvi ao Senhor”.
Ana relata o teor do seu
voto e agora quer que Eli aceite a criança para cumprir o compromisso feito com
Deus, isso porque não era permitido uma criança de três anos estar no
Tabernáculo, a não ser que o sacerdote permitisse. Ela, então, esclarece que
seu voto era o de dedicar aquela criança ao trabalho do Senhor por toda a vida.
Seu voto era de nazireu.
Eli entendeu que Deus
estava trabalhando e, por isso, prontamente aceita cuidar da criança. Ana
entrega Samuel a Eli, que aparece na expressão bíblica “devolvido ao Senhor”.
Ela tinha consciência de que Samuel tinha uma missão grandiosa a cumprir e,
caso ficasse somente em casa, isso jamais iria acontecer.
Concordo com as palavras
do pr. Osiel Gomes, quando diz: “como é bom quando os pais se dedicam as coisas
de Deus e, consequentemente, mostram aos seus filhos, na prática, uma vida de
devoção sincera. Ao chegarem ao templo, em reverência, oram a Deus; em casa,
fazem o culto doméstico; primam por viver o Evangelho de Jesus Cristo. Os
filhos que crescem, vendo tal dedicação sincera, naturalmente, são estimulados
a temerem a Deus e a amá-lo de todo o coração”.
CONCLUSÃO
Samuel foi líder de
líderes, conselheiro-chefe de reis e capitães militares de Israel. Quando ele
falava, todos escutavam. Como profeta de Deus, Samuel ungia reis; como
intérprete da Palavra de Deus, aconselhou e desafiou reis. Servindo como juiz
nos dias imediatamente antes da monarquia de Saul, Samuel incorporou três
grandes funções: profeta, sacerdote e juiz, como também o faria Jesus, mais
tarde, sendo Rei, Sacerdote e Profeta.
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo
Pentecostal.
Bíblia de estudo –
Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico
popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão
– nº 80. CPAD.
Comentário Bíblico
Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo
Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Osiel Gomes. O
Governo divino em mãos humana. CPAD.
Bíblia da Liderança
Cristã. Sociedade Bíblica do Brasil.
Comentário Bíblico
Beacon. CPAD.
Roberto B. Chisholm Jr. 1
& 2 Samuel. Vida Nova.
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