1º Trimestre/2020
Texto Base:
1Tessalonicenses 1:1-10
“porque eles
mesmos anunciam de nós qual a entrada que tivemos para convosco, e como dos
ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro”
(1Ts.1:9).
1Tessalonicenses 1:
1.Paulo, e Silvano,
e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses, em Deus, o Pai, e no Senhor Jesus
Cristo: graça e paz tenhais de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
2.Sempre damos graças
a Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações,
3.lembrando-nos, sem
cessar, da obra da vossa fé, do trabalho da caridade e da paciência da
esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai,
4.sabendo, amados
irmãos, que a vossa eleição é de Deus;
5.porque o nosso
evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito
Santo, e em muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de
vós.
6.E vós fostes
feitos nossos imitadores e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação,
com gozo do Espírito Santo,
7.de maneira que
fostes exemplo para todos os fiéis na Macedônia e Acaia.
8.Porque por vós
soou a palavra do Senhor, não somente na Macedônia e Acaia, mas também em todos
os lugares a vossa fé para com Deus se espalhou, de tal maneira que já dela não
temos necessidade de falar coisa alguma;
9.porque eles mesmos
anunciam de nós qual a entrada que tivemos para convosco, e como dos ídolos vos
convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro
10.e esperar dos
céus a seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos, a saber, Jesus, que nos livra
da ira futura.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos do poder do
Evangelho na transformação da cultura do ser humano. O homem foi criado a
imagem e semelhança de Deus no sentido espiritual, porém, após a Queda, o
pecado manchou esta imagem divina no homem, e com isto alguns traços da imagem
de Deus no homem foram sendo apagados. Isto é melhor compreendido ao ver o
pecado crescendo, e os valores morais sendo extintos, e o homem tendo uma
facilidade enorme de desrespeitar o próximo, e desobedecer ao seu Criador, e,
por conseguinte, produzir culturas voltadas para o mal.
Há muito tempo que a cultura humana
tornou-se o abrigo natural do homicídio, do sexo depravado, do comportamento
tresloucado e antinatural, e da rebelião contra Deus. Mas, o ser humano não
perdeu por completo a posição de ser “imagem de Deus”; é possível ainda o ser
humano produzir coisas boas.
O Evangelho tem poder para restaurar o
caráter do ser humano e, assim, como consequência, fazer com que ele produza
cultura que glorifique a Deus em todos os aspectos; foi isto que aconteceu no
princípio da Igreja e acontece também hoje, porque o poder transformador do
Evangelho continua com a mesma eficácia; o Evangelho continua sendo o poder de
Deus para a salvação de todo o que crê.
I. O QUE É A CULTURA
O ser humano é um ser racional,
inteligente, criativo e se evoluciona à medida que o tempo passa, transformando
ideias em algo concreto, especificando um modo de viver característico. Quando
Deus disse crescei e multiplicai, não foi somente em termos quantitativos,
também em sua forma de viver, tanto é que na torre de Babel Deus confundiu as
lingas forçando a comunidade de Babel a se espalharem por toda a terra,
formando povos e nações diferentes com suas características e modo de viver
próprios. Com a dispersão da comunidade única
pós-diluviana, no juízo de Babel (Gn.11:9),
naturalmente que os povos ali nascidos passaram a construir
diferentes culturas, até porque a
língua é um fator fundamental na formação de uma cultura, e Deus confundiu as
línguas, impondo, pois, uma diversidade cultural para o mundo.
1. Definição de cultura
Para muitas pessoas, a palavra
"cultura" significa o grau de estudos de uma pessoa. Por isso é comum
ouvirmos alguém falar: "Fulano de Tal tem muita cultura". Quase todas
as pessoas fazem esta associação da cultura com o desenvolvimento intelectual
ou o nível de estudo de alguém. Por esta razão, uma pessoa que tem um linguajar
rude, um modo de vida simples, logo é taxada de uma pessoa sem cultura. O mesmo
acontece com as tribos indígenas - pelo fato de terem uma vida bem simples são
taxadas de povo "sem cultura". Mas esta não é a definição,
antropologiamente, correta. Diríamos que Cultura é o conjunto de comportamentos
e ideias característicos de um povo, que se transmite de uma geração a outra e
que resulta da socialização e aculturação verificadas no decorrer de sua
história.
2. A cultura dos gentios
A cultura dos gentios, desde a
civilização cainita, sempre andou de forma antagônica à principiologia divina.
A cultura é uma criação humana, mas ela jamais pode afrontar os princípios
estabelecidos por Deus ao homem.
O poder criativo do homem está sujeito à
observância dos princípios éticos estabelecidos por Deus. Evidentemente
que, ao pecar, o homem perdeu a comunhão com o Senhor e, por causa disso,
passou a estar sob o domínio do pecado, pecado este que determina a própria
formação da cultura por parte do homem, como havia na civilização caimita
(Gn.4:17-24); cultura, aliás, que preponderou sobre a cultura da descendência
de Sete (Gn.6:1,2), gerando um modo de vida que fez com que o Senhor destruísse
a raça humana através do Dilúvio (Gn.6:5-7).
A comunidade única pós-diluviana, de
onde provêm todas as nações, tinha como fundamento moral a principiologia
divina, a conduta estabelecida por Deus ao homem, desde o Éden, e que foi
renovada a Noé (Gn.9:1-17), princípios que são denominados pelos estudiosos da
Bíblia de “pacto noaico” e, particularmente,
pelos rabinos judeus de “os sete preceitos dos descendentes de Noé” (Shéva Mitsvót Benê Nôach), a saber: “Praticar a equidade; não blasfemar o nome
de Deus; não praticar idolatria; imoralidades; assassinatos e roubos e; não
tirar e comer o membro de um animal estando ele vivo”. Todavia, esta
principiologia básica, em virtude do pecado, acabou sendo distorcida, como tinha
sido antes do dilúvio.
Para que esta principiologia voltasse a
ser observada e, uma vez mais, a humanidade pudesse ser abençoada por Deus e
retornasse à observância da “comissão cultural” estabelecida quando da criação
(Gn.1:28), Deus quis formar uma nação que fosse Sua “propriedade peculiar de
Deus dentre os povos” (Ex.19:5).
Deus chamou Abrão para formar essa nação
(Gn.12:1-3). Quando essa nação foi formada, o Senhor expressamente determinou
que ela não se misturasse com a cultura ímpia dos povos existentes na Terra
Prometida, inclusive determinando que fossem eles totalmente destruídos
(Dt.7:1-6), uma vez que sua injustiça havia chegado ao limite da paciência de
Deus (Gn.15:16).
Porém, antes mesmo de Israel entrar na
Terra Prometida, esta separação determinada por Deus não foi observada pelos
israelitas. Com efeito, quando saíram do Egito, levaram consigo muitas pessoas
que não eram descendentes de Abraão; as Escrituras Sagradas registram que,
juntamente com o povo, saiu uma “mistura de gente” (Ex.12:38), ou seja, gente
que não pertencia a Israel, que aproveitou a ocasião da libertação do povo para
também sair de um Egito que, a esta altura dos acontecimentos, estava
totalmente arruinado em virtude das pragas lançadas por Deus contra os
egípcios.
Esta “mistura de gente” - somado o tempo
que os israelitas haviam passado no Egito, naturalmente absorvendo a cultura
egípcia, uma das mais avançadas da época, porém, antagônica aos padrões morais
que Deus desejava ao seu povo -, fez com que Israel tivesse imensas
dificuldades para ser a “propriedade peculiar dentre os povos”.
Quarenta dias depois de terem recebido
os “Dez Mandamentos”, Israel se voltou para a cultura egípcia no triste e
lamentável episódio do bezerro de ouro, o que se percebe como a “cultura
egípcia” estava ainda impregnada no “modus
vivendi” dos israelitas (Ex.32:1-6, 21-24). Aliás, antes deste episódio, na
própria passagem do Mar Vermelho, vemos que a comemoração comandada por Miriã
era fruto da influência cultural egípcia (Ex.15:20,21).
Assim como Deus exigiu de Israel a
santidade (Lv.19:2), o mesmo fez em relação à Igreja (1Pd.1:15,16; 2:9). O povo
de Deus não deve se adaptar à cultura mundana; somos diferentes, portanto, não transigimos
nem negociamos com os nossos princípios espirituais, morais e éticos. Devemos,
portanto, discernir bem os prós e os contras da cultura na qual estamos
inseridos.
Devemos agir como fez Daniel, quando esteve na Babilônia. O contexto cultural da Babilônia era
totalmente antagônico aos princípios morais e espirituais de Daniel, mas não
contaminou e nem influenciou o seu caráter. Ele soube muito bem discernir os
prós e os contras da cultura babilônica. Quando os valores de sua fé eram
desafiados, Daniel não transigia nem negociava com os seus princípios
espirituais, morais e éticos (Dn.1:8; 6:6-10). Através de uma postura tão firme
e corajosa, fez sobressair sua fé no Deus único e verdadeiro.
É assim que devemos agir e reagir, como
povo de Deus, em relação ao contexto cultural no qual estamos inseridos.
Acreditamos que a cultura Babilônia dos
dias de Daniel comparada à “Babilônia” destes últimos dias era muito mais admissível.
Certamente que lá não havia permissão legal para que menores de 18 anos
pudessem matar gente de bem, pais de famílias, estudantes, profissionais
liberais, pessoas de todas as classes sociais, sem maiores consequências no
presente e sem nenhuma consequência no futuro.
Na Babilônia dos dias de Daniel, os menores assassinos de hoje seriam condenados à morte. Lá, embora
houvesse tolerância para com o relacionamento entre homossexuais, por certo a
homossexualidade não era celebrada com “orgulho”, em gigantescos desfiles, ou
“paradas do orgulho gay”, prestigiadas pela presença de autoridades
governamentais, como acontece na “Babilônia” dos dias de hoje.
Na Babilônia dos dias de Daniel, com certeza, não havia casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Havia um
limite para a prática pecaminosa. Na “Babilônia” de hoje não existe este
limite. Como bem diz o Pr. Claudionor de Andrade, “hoje, a antropologia
cultural vê, como meros fenômenos sociológicos e culturais, a prostituição, o
homicídio, a corrupção, o feticídio e até mesmo o infanticídio”.
Os fatos sociais dos últimos dias, em
termos de declínio espiritual, em termos de degeneração moral dos costumes, em
termos de decadência social, com certeza, não encontram paralelos na história,
de qualquer época. Por certo estamos vivendo naqueles dias preditos por Paulo:
“Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos
trabalhosos”(2Tm.3:1). Por certo que estamos, também, naqueles dias da
multiplicação da iniquidade, referidos por Jesus: “E, por se multiplicar a
iniquidade, o amor de muitos se esfriará”(Mt.24:12).
3. A cultura do povo de Deus
A cultura do povo de Deus é totalmente
antagônica à cultura gentílica, do mundo. No reino de Deus, o povo rejeita
atitudes e padrões que não são pertinentes ao Reino de Deus, porque a cultura
do povo de Deus é conformada segundo o Reino de Deus, onde o Rei – o Senhor do
Reino - está acima de qualquer comportamento que se opõe à Sua vontade e à Sua
Palavra. Nesse Reino, tudo quanto é feito tem de ser aferido por este
mandamento bíblico: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra
qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co.10:31).
Na cultura do povo de Deus:
- O mal é detestado. Detestar o mal é o mesmo que odiá-lo. Paulo usa várias vezes a palavra
“fugir” para significar a repulsa que o cristão deve ter das coisas que são
más (1Co.6:18; 10:14), e em 1Tm.6:11 ele exorta: “Tu, porém, ó homem de Deus, foge
destas coisas”. O apóstolo João, em sua primeira epístola, faz a seguinte
advertência: “Não ameis o mundo nem as
coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele”
(1João 2:15). A exortação do Senhor é: “Vós
que amais ao SENHOR, aborrecei o mal; ele guarda a alma dos seus santos, ele os
livra das mãos dos ímpios” (Sl.97:10).
- O bem é praticado. O apóstolo Paulo exorta: “...
Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem” (Rm.12:9). O comportamento ético do
cristão é uma busca constante e intensa do que é bom. O mandamento divino é: “Buscai o bem e não o mal, para que vivais; e
assim o SENHOR, o Deus dos Exércitos, estará convosco” (Amós 5:14). O
salmista assim se expressou: “Ó Deus, tu
és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu
corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água” (Sl.63:1).
II. UMA CULTURA DOMINADA PELA
INIQUIDADE
O texto de Gênesis 1:26-30 mostra que
Deus nos criou como seres sociais que produzem cultura. Cultura é o conjunto de
manifestações sociais, linguísticas e comportamentais de um povo ou
civilização. Fazem parte da cultura de um povo as seguintes atividades e
manifestações: música, teatro, rituais religiosos, língua falada e escrita,
mitos, hábitos alimentares, danças, arquitetura, invenções, pensamentos, formas
de organização social, etc. O caráter do ser humano é sobremaneira influenciado
por todos esses elementos constitutivos da cultura; se eles não se coadunam com
os princípios da Palavra de Deus, então, certamente, teremos uma cultura dominada
pela iniquidade, totalmente desviada para o mal.
1. A cultura original
Originalmente, o homem era dotado de um
caráter que refletia a glória do Senhor. Olhando para o homem, era possível
enxergar o próprio caráter divino, pois o homem era uma projeção de Deus na
criação. Assim como o querubim ungido, que “era perfeito nos seus caminhos,
desde o dia em que foi criado até que se achou iniquidade nele” (cf. Ez.28:15),
assim também era o homem.
A Queda fatalmente manchou a cultura
humana (Ec.7:29); por causa disto, o caráter do ser humano passou a ser moldado
pelo pecado, distorcendo a imagem e semelhança de Deus que lhe foram impressas
no momento de sua criação. Por causa do pecado, as culturas criadas e
desenvolvidas pelo ser humano estão fatalmente comprometidas pelo mal
(Gn.3:5-10,17-19).
2. A cultura do homicídio
No aspecto humano, Caim foi o primeiro
apóstata (Gn.4:8-16), e sua apostasia resultou numa civilização totalmente
voltada para a prática do mal. O próprio Deus afirmou: “E viu o SENHOR que a
maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda imaginação dos
pensamentos de seu coração era só má continuamente” (Gn.6:5). A cultura do
homicídio era avultosa naquela Era pós-Queda.
Lameque, descendente de Caim, teve o
prazer de alardear que matara uma pessoa (Gn.4:23) – “... escutai o que passo a dizer-vos: matei um varão, por me ferir, e
um jovem, por me pisar”. Ele banalizava a vida humana - “... Matei [...] um jovem, porque me pisou”. Para este homicida,
as pessoas não valiam nada. Matar um jovem por causa de uma pisada no pé é não
ter nenhum respeito com a vida humana.
Lameque não gostava de ser pisado, mas
pisava as pessoas. Ele tipifica aquelas pessoas que não gostam de ser
machucadas, mas têm prazer em machucar os outros. A violência é a demonstração
mais vil de que a vida humana não tem valor.
Concordo com o Pr. Claudionor de Andrade
quando diz que “hoje, vemos aqueles dias replicarem-se em todos os segmentos
sociais; a cultura da morte não mudou. O que dizer do aborto, da eutanásia e da
cruel indiferença ao próximo?”.
3. A cultura do erotismo, da
prostituição
Outro fator resultante da Queda que
impregnou a cultura humana foi o erotismo (manifestação
explicita da sexualidade: nas artes, na literatura, no cinema, na TV, nas
mídias sociais, etc).
A civilização de Caim foi eivada pela
devassidão sexual; voltando-se contra o Senhor, essa civilização cometeu os
pecados mais hediondos e abomináveis. A Bíblia relata que foi na civilização
cainita que se iniciou a poligamia e os pecados da prostituição.
Lameque, o pai da poligamia, foi quem
deu a cartada inicial da quebra do princípio da monogamia (cf. Gn.4:19),
abandonando o modelo divino de família. Os pecados sexuais eram cometidos como
se nada fosse proibido. Não havia limites à prostituição. A irmã de Tubal-Caim
– Naamá -, é tida como a primeira prostituta da história (Gn.4:22).
Conforme o texto sagrado, até mesmo os
descendentes de Sete corromperam-se em meio àquela imoralidade abominável da
civilização cainita. Relata o autor sagrado: “viram os filhos de Deus que as
filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que
escolheram” (Gn.6:2).
No mundo de hoje, a prostituição está
disseminada e que se constitui no terceiro maior negócio, perdendo apenas para
os tráficos de armas e de drogas. Assim, ao condenar a prostituição, a Bíblia
não só condena o comércio do próprio corpo para a satisfação da lascívia
alheia, mas toda e qualquer prática sexual ilícita (Os.4:1,2; Ap.22:15).
4. A cultura do consumo
desenfreado
A cultura do consumismo não é de agora;
na civilização cainita era uma prática rotineira que caracterizava aquela
civilização. Jesus deixou transparecer essa cultura; Ele afirmou que “nos dias
anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao
dia em que Noé entrou na arca” (Gn.24:38).
Percebe-se que o hedonismo, a busca
exacerbada do prazer, sobressaia-se no mundo pré-diluviano. Esta característica
em nada difere da do mundo atual. Nos dias em que vivemos – pós-modernidade -
uma das principais manifestações é o consumismo, o prazer de aquisição de bens
materiais, aquisição esta incontrolada.
Hoje em dia, não se compram produtos
pela utilidade que darão ao comprador, mas única e exclusivamente pelo prazer
de comprar, ainda que se saiba que o produto pouco ou nada acrescentará à
pessoa ou, o que é mais grave, somente trará prejuízos para o adquirente. Mas
nesta ânsia pelo ter, pelo adquirir, o que vale é apenas a sensação de
bem-estar e de importância que a aquisição gera. Entretanto, Jesus ensina que a
vida de alguém não é medida pelas posses que tenha (Lc.12:15), e que uma ação
desta natureza avilta a dignidade da pessoa humana, que deve se livrar da
ganância e da avareza, que outra coisa não é senão idolatria (Cl.3:5).
A prática desenfreada de aquisição de
bens tem trazido diversos problemas, inclusive para os servos de Deus, que não
conseguem resistir a determinadas “promoções imperdíveis” oferecidas pelo
comércio, e adentram por endividamentos e financiamentos, sem mesmo avaliar se
sua situação financeira comportará tais compromissos.
É bom ter a capacidade de adquirir bens
necessários à existência e, na medida do possível, ter também condição
financeira para realizar objetivos planejados a médio e longo prazos. Mas
quando esquecemos de planejar nossas finanças e cedemos às pressões “urgentes”,
para adquirir coisas supérfluas, corremos o risco de manchar o nome do Senhor e
o nosso diante dos ímpios.
Concordo com a afirmação do Rev.
Hernandes Dias Lopes: “O consumismo nos faz comprar coisa que não precisamos,
com um dinheiro que não temos, para impressionar pessoas de que não gostamos.
Isso é perigoso”.
A Palavra de Deus nos adverte
taxativamente sobre o gasto abusivo e desnecessário. No Antigo Testamento Deus já
advertia o seu povo: “Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o
produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente
e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura” (Is.55:2).
III. O EVANGELHO TRANSFORMA A
CULTURA
O Evangelho tem poder para transformar a
cultura dominada pela iniquidade. O apóstolo Paulo afirmou: “Porque não me
envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo
aquele que crê...” (Rm.1:16).
1. Jesus nasceu num contexto
cultural
Jesus ao nascer foi acolhido numa
sociedade dominada por três grandes culturas: a judaica, a grega e a romana
(João 19:20). E para se fazer compreendido e mostrar amor, identificou-se com
todas as pessoas, em suas diversas formas de cultura. Ele falou a língua
daquele povo, vestiu-se conforme os costumes da época, comeu o que eles comiam,
dormiu onde eles dormiam.
No diálogo com a mulher samaritana,
Jesus abordou o tema da salvação usando um dos elementos que fazia parte do
cotidiano daquela mulher - a água. Ele era judeu, ela uma samaritana, e havia
uma grande rivalidade entre ambos os grupos, mas Jesus iniciou seu diálogo a partir
de um ponto em comum: o poço de Jacó (que era historicamente importante para
judeus e samaritanos) e a sede existencial que todo ser humano tem. Assim,
Jesus conseguiu apresentar o evangelho à mulher de forma eficaz, bem como à
toda aldeia dos samaritanos.
Devemos humildemente procurar
compreender um povo com o qual trabalhamos, falando a sua língua e evitando
todo escândalo cultural que possa fechar as portas para o evangelho. O amor de
Deus manifestar-se-á através das nossas vidas quando pudermos comunicar o
evangelho identificados culturalmente com todos.
2. O Evangelho transforma a
cultura
Embora não seja possível converter todas
pessoas de uma determinada cultura, podemos fazer com que muitas pessoas sejam
influenciadas pela pregação do Evangelho. E a melhor e mais impressionante
forma de pregarmos o Evangelho é vivermos de acordo com o Evangelho, é termos
uma vida sincera e irrepreensível diante de Deus e dos homens.
-O povo de Antioquia, ao ouvir a mensagem do Evangelho, começou a chamar os discípulos de
cristãos, porque, ao compararem o modo de vida de cada crente com o que era
mostrado nas Escrituras, descobriram que os crentes daquela igreja eram
“parecidos com Cristo”, ou seja, eram “cristãos”.
-Por ocasião da sua primeira viagem missionária, na cidade de Listra, Paulo,
juntamente com o seu companheiro Barnabé, encontrou um homem aleijado de
nascença que ouviu Paulo falar e demonstrou grande interesse. Assim que ouviu a
ordem de Paulo para que ficasse em pé, o paralítico saltou e andou. O milagre
foi realizado em público. Quando os cidadãos de Listra viram os milagres
operados por intermédio de Paulo e Barnabé, queriam adorá-los. Mas eles explicaram
que não eram deuses, mas homens, como os licaônicos.
Seu objetivo era apenas proclamar as boas-novas para que as pessoas deixassem
as coisas vãs e adorassem ao Deus vivo (cf. Atos 14:14,15). Após a explanação
de Paulo sobre a criação (cf. Atos 14:15b - 17), o povo relutante desistiu, por
fim, da ideia de oferecer sacrifícios aos servos do Senhor. Dessa forma, os
dois missionários contrapuseram o Evangelho de Cristo à cultura pagã de Listra;
e ali mesmo, foi estabelecida uma igreja fervorosa (Atos 14:21,22). Isso prova
que o Evangelho tem o poder de transformar a cultura de uma sociedade por meio
da prática da Palavra de Deus (veja At 17:15-34).
-Por ocasião de sua terceira viagem missionária, na cidade de
Éfeso, também, a mensagem
do Evangelho impactou a vida de muitas pessoas, mudando completamente a cultura
religiosa daquela cidade. Muitas pessoas daquela cidade aceitaram a Cristo como
Senhor e Salvador e o Espírito Santo os impulsionaram a abandonarem a cultura
idólatra impregnada em suas vidas. Como demonstração de sua conversão a Cristo,
eles queimaram publicamente os livros que os doutrinavam às práticas de magias
negras (Atos 19:19) – “Também muitos dos
que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros e os queimaram na presença
de todos, e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinquenta mil
peças de prata”.
A mensagem do Evangelho foi impactante
na vida dos efésios. A cidade sede do culto ao ídolo Diana tornou-se agora um
território dominado pela Palavra de Deus. A terra da idolatria agora estava
iluminada pela verdade das Escrituras Sagradas. A luz espantou as trevas, e a
verdade desmascarou a mentira. O poder do Evangelho acabou com a influência
generalizada da magia negra em Éfeso, pois os novos crentes concluíram que tais
práticas eram incompatíveis e inconsistentes com a fé cristã.
John Stott ressalta que o fato de os
recém-convertidos estarem dispostos a jogar seus livros no fogo, em vez de
converterem o seu valor em dinheiro, vendendo-os, era uma evidência notável da
sinceridade de suas conversões, era um sinal claro de que o povo de Éfeso
estava desistindo da magia e abraçando o Evangelho de Jesus Cristo. Esse
exemplo levou a outras conversões, pois “assim a palavra do Senhor crescia e
prevalecia poderosamente” (Atos 19:20). Segundo alguns estudiosos, o valor
total daqueles livros correspondia a cinquenta mil denários, ou seja, a 150 anos
de salário de um trabalhador comum, levando em consideração que o salário de um
trabalhador era de um denário por dia.
Segundo Simon Kistemaker:
“Éfeso se tornou a depositaria da
literatura sagrada que formou o cânone do Novo Testamento. Durante o tempo em
que Paulo viveu em Éfeso, ele escreveu suas Epístolas aos Coríntios. Quando
Paulo ficou em prisão domiciliar em Roma, ele enviou sua carta aos Efésios. Nos
anos posteriores, quando Timóteo era pastor em Éfeso, Paulo despachou as duas
epístolas que levam o nome de Timóteo. Algumas décadas mais tarde, o apóstolo
João compôs seu Evangelho e suas três epístolas de Éfeso. De certa maneira,
pode-se dizer que assim como o Antigo Testamento fora confiado aos judeus
(Rm.3:2), da mesma forma os efésios se tornaram os guardiães do Novo Testamento”
(KISTEMAKER, Simon. Atos. Vol.2).
3. Usando a cultura em favor do evangelho -
construindo pontes culturais para pregar o evangelho em um ambiente cultural
diversificado
A Igreja deve se inserir na cultura de
um povo, não atacá-la nem tentar modificá-la de fora para dentro, mas, sim,
inserir-se dentro da cultura de uma determinada sociedade e, ali, mediante a
pregação eficaz e poderosa da Palavra de Deus, ser o instrumento para o novo
nascimento das pessoas. Este novo nascimento fará com que as pessoas mudem de
conduta e esta modificação trará, inevitavelmente, novos hábitos, novos
costumes e a cultura será transformada, retornando-se à principiologia divina
distorcida ao longo da vida pecaminosa dessa sociedade.
Em Atos 17, o
apóstolo Paulo fez seu célebre discurso no areópago de Atenas. Cercado pela
elite intelectual daquela cidade, ele apresentou um sermão polido, no qual
citava os filósofos e poetas gregos, demonstrando afinidade com os temas de
predileção daqueles homens. E foi assim, começando pelos poetas gregos que este
bandeirante do Evangelho conduziu seus ouvintes à mensagem de arrependimento. Quando
Paulo mencionou a ressurreição, muitos se escandalizaram e se foram, mas
Dionísio e alguns dos presentes se converteram ao cristianismo (cf. At.17:34).
Paulo foi sábio porque soube usar a cultura em seu benefício, construindo uma
ponte por meio da qual introduziu o evangelho.
4. Os crentes de Corinto, um
exemplo da influência do Evangelho
Corinto, uma cidade antiga da Grécia,
era, em muitos aspectos, a metrópole grega de maior destaque nos tempos de
Paulo. Seu colossal centro cultural se destacava com uma grande diversidade de
riqueza, religiões e padrões morais. Tinha uma reputação de ser extremamente
independente e tão decadente quanto qualquer cidade no mundo. Mas, o santo
evangelho chegou a essa cidade e ali foi fundada uma grande igreja. Paulo
fundou a igreja de Corinto, juntamente com Áquila e Priscila (Atos 16:19) e com
sua equipe apostólica (At.18:5), quando da sua segunda viagem missionária,
durante seu ministério de dezoito meses nessa região. A igreja era composta de
judeus e gentios, mas o maior contingente de crentes era constituído de gentios
convertidos do paganismo. O poder do evangelho transformou aquelas pessoas
adeptas do paganismo, escravas de Satanás, em santos (1Co.1:2). Teve alguns
problemas internos, mas apesar disto, ela detinha todos os dons espirituais
(1Co.1:7).
CONCLUSÃO
A Igreja foi chamada para, através da
Graça Comum, criar uma cultura debaixo do senhorio de Cristo. Cultura essa que
reflita a ordem original da criação em todos os aspectos: na família, no
trabalho, na ciência, nas artes, na política, etc. Como Igreja de Deus, temos
essa missão a cumprir junto à sociedade, como sal da terra e luz do mundo
(Mt.5:13,14). Nossa missão é transformá-la através do poder do Evangelho de
Cristo.
Ao aceitar a mensagem do Evangelho o ser
humano passa a se comportar de maneira condizente com a vontade de Deus; passa
refletir a respeito dos princípios e valores que se encontram na Palavra de
Deus, em todos os níveis de nossas relações: na família, na igreja, na escola,
no trabalho e nos relacionamentos. Isto equivale dizer que o Evangelho de
Cristo não visa apenas salvar o homem do pecado e do inferno, mas também
levá-lo a agir como instrumento transformador da sociedade na qual acha-se
inserido. Que assim seja!
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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo
Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação
Pessoal. CPAD.
Pr. Claudionor de Andrade. A raça humana –
Origem, Queda e Redenção. CPAD.
Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Bruce K. Waltke. Gênesis. Editora Cultura
Cristã.
Teologia Sistemática Pentecostal. CPAD.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. A influêcia
cultural da Igreja. PortalEBD_2011.
luloure.blogpost.com. A Comissão Cultural e a
grande comissão.2011.
Meu irmão Luciano, Deus abençoe a vida e o ministério do irmão, este trabalho tem nos ajudado bastante na elaboração das aulas da Escola Bíblica Dominical.
ResponderExcluirQue bom, amado irmão! Que Deus continue nos inspirando. Paz de Cristo!
ExcluirEssas aulas tem sido bençãos de Deus em nossas vidas.
ResponderExcluirQue Deus em Cristo vos abençoe Pr Luciano de Paula Lourenço, ainda espero de um dia dizer pessoalmente da minha gratidão por seus trabalhos. Diac Esdras. Maceió-AL, Um forte abraço!!!!