3°
Trimestre/2022
Texto
Base: Hebreus 10:19-25
“Não
deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestando-nos
uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia”
(Hb.10:25).
Hebreus
10:
19.Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santuário, pelo
sangue de Jesus,
20.pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto
é, pela sua carne,
21.e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus,
22.cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé;
tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa,
23.retenhamos firmes a confissão da nossa esperança, porque fiel é
o que prometeu.
24.E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor
e às boas obras,
25.não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns;
antes, admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai
aproximando aquele Dia.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos do tema: “a sutileza do movimento dos
desigrejados”. O que é isto? Desigrejados são aqueles que abandonam o convívio
das Igrejas Locais, que decidem exercer sua religiosidade em modelos
alternativos, ou simplesmente rejeitam qualquer estrutura congregacional tradicional,
e buscam relações descentralizadas, realizando cultos em casa ou em espaços
alternativos. Os arquitetos mais radicais desse movimento e seus seguidores
afirmam que não possuir hierarquia religiosa, código doutrinário ou estrutura
arquitetônica onde possam se reunir, é o modelo legítimo de igreja do Novo
Testamento. Acreditam que agindo assim estão imitando os primeiros cristãos. Quem
não seguir este modelo, dizem eles, é considerado apóstata ou desviado do
modelo original existido no princípio da Igreja.
Este movimento tem crescido vertiginosamente, e tem abraçado como
um ímã muitos que desejam se desvincular do formato tradicional de culto. Por
que isso está ocorrendo? Acredita-se que, em geral, essas pessoas tomam tal
decisão movidos por um sentimento de decepção com algo ou alguém, ou talvez estejam
decepcionados com o modelo institucional tradicional, e o abandonam não por
razões pessoais, mas ideológicas, ou talvez porque não querem se submeter a
nenhuma liderança que impõe regras ou dogmas a seguir. São vários os motivos,
que não encontram nenhum amparo na Bíblia.
Há uma previsão de que no Brasil existem 14% entre os declarados
evangélicos que não têm vínculo institucional. Esse número representa,
aproximadamente, cinco milhões de brasileiros. Os líderes de todas as
denominações precisam se unirem no afã de buscarem cicatrizar esta sangria. É
importante esclarecer que a reunião da Igreja Local, o Corpo visível de Cristo,
é essencial ao crescimento espiritual e pessoal do crente. Por isso, não é
possível amar a Cristo, e ignorar seu Corpo, a Igreja. A exortação bíblica é
contundente: “Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns. Pelo
contrário, façamos admoestações, ainda mais agora que vocês veem que o Dia se
aproxima” (Hb.10:25).
I. VISÃO E PRÁTICA DO MOVIMENTO DOS DESIGREJADOS
1. Tipos
de desigrejados
Segundo os teólogos que estudam este tema, dentro do quadro dos
desigrejados, existem pelo menos três subgrupos:
- Primeiro, aquelas pessoas que abandonaram a igreja local e a fé.
Esse grupo, abandona primeiramente as reuniões da igreja, torna-se desigrejado
e depois se desvia da fé em Cristo.
- Segundo, aquelas pessoas que abandonaram a igreja local, mas
mantém a fé. São os cristãos sem igreja; os decepcionados por terem vivido
algum problema na comunidade. Eles tentam continuar a ser cristãos sem
pertencer ou frequentar um templo. Neste grupo há pessoas que amam a Cristo,
mas preferem viver longe dos pastores e dos irmãos. Esses não se consideram
fora do corpo de Cristo. Querem servir a Jesus, só não aceitam a tutela
institucional. Algumas das pessoas desse grupo são levadas a sério. Outras são
criticadas, rotuladas ironicamente e discriminadas.
- Terceiro, são aqueles que não frequentam cultos e pregam o
fracasso da igreja organizada. São os mais radicais. Defendem o cristianismo
sem igreja. Afirmam que as pessoas devem sair da igreja local para encontrar
Deus. Querem que as igrejas locais sejam extintas em todo o mundo. Que fechem
suas portas. Eles pregam o fim da instituição.
Qual a diferença entre o segundo e terceiro grupo, ou seja, entre os
decepcionados e os radicais? Apesar de existir pessoas que abandonaram a igreja
local em ambos os grupos, a diferença principal entre eles é que o segundo
grupo não faz militância pelo fim da organização, para que todos os templos
fechem as portas. Eles estão ainda com as feridas abertas, mas não usam de
ideias e palavras tão radicais como aqueles do terceiro grupo.
Geralmente as pessoas decepcionadas acabam migrando para projetos
como reuniões nos lares ou células, por exemplo. Têm pessoas que não querem
pertencer à membresia e que são usuários temporários dos serviços e eventos
oferecidos pela igreja como os congressos e seminários. Existem os que usam a
igreja como vida social. No segundo grupo, o que importa não é ajudar a igreja
a crescer, mas usá-la para passar o tempo, fazer amigos, servir-se dela como se
fosse uma instituição social secular apenas. Tudo sem o devido envolvimento de
pertencimento.
E também há os cristãos sem igreja que são adeptos das
ministrações pela televisão e pela internet. Fazem da rede o seu templo. São
observadores, sem comunhão e sem compromisso.
2. Um
ensino anti-institucional
O grupo mais radical dos desigrejados é contra a
institucionalização da Igreja. Um dos maiores defensores deste ensino é o
escritor Frank Viola. Em seu livro “Cristianismo Pagão” ele se apresenta contra
toda organização e institucionalização da Igreja. Alega que na Igreja Primitiva
não havia nenhuma instituição formal, e que a institucionalização da Igreja foi
estabelecida por Constantino, o imperador romano, que assumiu as rédeas da
Igreja e a converteu numa organização pagã, que passou a ter clero, um código
doutrinário e um credo que passou regulamentá-la. Este tipo de pensamento vem
dominando a mente de uma quantidade imensa de pessoas em todo o mundo, que
cresce a cada ano. Eles são contra toda forma de estrutura arquitetônica como,
por exemplo, templos, Casa de oração. Na visão deles, a Igreja não necessita de
estrutura formal alguma. Quando pelo menos duas pessoas “sem igreja” se
encontram para orar ou ler a Bíblia, ali está a igreja; aliás, a igreja pode ser encontrada em qualquer
local ou lugar - debaixo de uma árvore, numa praça, num hotel, numa lanchonete,
num coffee break etc.
Porém, não há nenhum respaldo bíblico que ampare este tipo de
movimento. Nota-se nos desigrejados um espírito dominante de rebeldia;
demonstram uma insubmissão ao modelo bíblico tradicional talvez por estarem
decepcionadas com as instituições eclesiásticas formais, e pelos muitos escândalos
decorridos no curso da história, principalmente nestas últimas décadas.
É evidente que a Igreja pode tranquilamente existir fora de uma
estrutura arquitetônica, o próprio Jesus afirmou isso quando dialogava com a
mulher samaritana (João 4:21-24). De Moisés até Jesus, o judaísmo estava
centrado em três elementos: Templo, o sacerdócio e o sacrifício. Quando Jesus
veio, acabou com os três, completando-os em Si mesmo - Ele é o Templo que
incorpora uma nova casa feita de pedras vivas; Ele é o Sacerdote que
estabeleceu um novo sacerdócio; e Ele é o Sacrifício perfeito e realizado. Consequentemente,
o Templo, o sacerdócio profissional e o sacrifício do Judaísmo deixaram de existir com a
vinda de Jesus Cristo. Ele é o cumprimento e a realização de tudo isto. Somos
cônscios disso. Porém, isto não justifica não existir templos ou casas de
oração; não existe paganismo nisso, e em nenhuma parte do compêndio doutrinário
da Igreja há proibição de instalação de templos para realização de cultos de
uma forma unida e organizada. Como afirma o pr. José Gonçalves, “a não
utilização de templos por parte dos cristãos primitivos se deu por razões
contextuais (cf. Atos 1:6-14). Esses cristãos estavam debaixo de perseguição e
não tinham residência fixa e certa, além do fato de serem extremamente
carentes. Naquele contexto, a igreja nos lares era perfeitamente justificável
(cf. Rm.16:3-5). Contudo, não há nada na Bíblia que deponha contra o uso de
templos ou casas de oração. Se o propósito de um templo é congregar o povo para
adorar ao Senhor, o que há de mal nisso?”.
Nós somos ramos da Videira verdadeira, que é Cristo. O ramo não
sobrevive fora da Videira. O ramo está ligado a outros ramos da Videira. Também,
nós somos um rebanho, e quando a ovelha desgarra do rebanho, ela se torna uma presa
fácil para os predadores. A ovelha não tem a capacidade de se proteger, de
cuidar de si mesmo, por isso somos chamados de ovelhas; precisamos de ajuda das
outras ovelhas e perto do pastor. Também, a Bíblia diz que somos o “corpo de
Cristo”, por isso a Igreja é conhecida como um organismo vivo e espiritual; um
membro só tem relevância, segurança e funcionalidade plena quando ele está
vinculado ao corpo; fora do corpo, ele não tem vida. Então, essa ideia de que
eu posso ser um crente autossuficiente, que eu posso ser um crente em minha
casa, que não preciso de ir a templo nenhum, e que tenho os meus pregadores
prediletos no YouTube e na TV, e quando quero uma mensagem que me agrada, eu
vou lá e assisto, não é muito salutar para uma pessoa que precisa amadurecer e
se firmar espiritualmente. O crente precisa convier com outros crentes, precisa
se congregar; quando se reúne com outros irmãos na fé, a pessoa está também
servindo a essas pessoas com as suas experiências espirituais, com os seus
dons, e ao mesmo tempo sendo supridas as suas necessidades espirituais e
relacionais.
3. Um
ensino anticlerical
Da mesma forma que são contra o institucionalismo e toda forma de
estrutura arquitetônica para a igreja, os chamados “desigrejados” não querem
estar sob uma liderança ou organização eclesiástica. São contra todo e qualquer
sistema de governo da igreja; não aceitam que alguém esteja na posição de
autoridade sobre eles. Logo, não aceitam que na igreja exista um corpo
eclesiástico como, por exemplos, diáconos, presbíteros e pastores. Declaram que
na Igreja Primitiva não havia organização nenhuma e muito menos qualquer
estrutura clerical. Um dos ícones desse Movimento, Frank Viola, afirma o
seguinte: “Não há um só versículo em todo o Novo Testamento que apoie a existência
do moderno pastor dos nossos dias! Ele simplesmente nunca existiu na igreja
primitiva. A palavra pastor não aparece no Novo Testamento. Efésios 4:11 é o
único versículo no Novo Testamento onde a palavra ‘pastores’ é usada. Um verso
solitário é uma peça de evidência muito escassa para manter toda a fé
protestante!
Viola também alega que “Efésios 4:11 não se refere a um cargo
pastoral, como existe atualmente, mas meramente a uma das várias funções na
Igreja. Pastores são aqueles que naturalmente proveem nutrição e cuidado às
ovelhas de Deus. Porém, é um profundo erro confundir pastores com uma profissão
ou título como concebem hoje. Efésios 4:11 é obliquo; não oferece nenhuma
definição ou descrição sobre quem os pastores são; simplesmente, são mencionados.
Nenhum cristão do primeiro século concebeu a ideia de um ofício de pastor. Os
pastores de ovelhas do primeiro século eram os anciãos locais (presbíteros) e
supervisores da congregação (bispos). Suas funções seriam completamente
conflitantes com o papel pastoral contemporâneo”.
Alguém pode até concordar com Viola, mas isto não é motivo para
uma pessoa que se diz crente desviar-se da Congregação e se rebelar contra os
líderes, e viverem de forma isolada sua vida cristã, e fazer apologia desse
movimento. Creio que os líderes, em sua maioria, demostram zelo pelas “ovelhas”
do Senhor e se esforçam ao máximo para serem bons despenseiros do Senhor Jesus.
Claro, existem, sim, muitos que se aproveitam da sua posição de líder para
explorar os crentes incautos; sempre existiu os mercenários da fé, tanto na
Antiga como na Nova Aliança. Para estes, a Bíblia já prever uma sentença
dolorosa (cf. Mt.7:21-23).
A Igreja Local, desde o seu nascedouro, sempre esteve sob uma
liderança. O apóstolo Paulo preocupou-se sobremaneira em deixar em cada Igreja
que fundava um líder para cuidar da vida espiritual dos crentes. Para a Igreja
de Creta, por exemplo, o apóstolo Paulo recomendou que fossem constituídos
presbíteros para liderar as igrejas ali (cf.Tt.1:4 -11).
Portanto, é bíblico consentir uma liderança eclesiástica na Igreja
Local. O problema é o exagero que exsurge nas decisões das chamadas Convenções
regionais, que não seguem, rigorosamente, a baliza bíblica para tomar as suas
deliberações. A Assembleia de Deus, por exemplo, em uma de suas Convenções na
década de 30, ampliou o seu corpo eclesiástico hierárquico, a qual conhecemos
hoje da seguinte forma: Auxiliar, Diácono, Presbítero, Evangelista, Pastor; e
algumas igrejas derivadas desta denominação, foi mais além; afora os já
citados, existem: Apóstolo, Ancião, Bispo, e por aí vai. Isto não tem apoio
bíblico; é simplesmente um exagero. O modelo bíblico é simplesmente este: Diácono,
Presbítero e Pastor (líder de uma Igreja local, que pode ser um Presbítero),
conforme Paulo narrou em 1Tm.3:1-8 e em Tt.1:4-11). Se a Igreja Local tivesse
seguido este modelo desde sempre, os conflitos internos seriam muito menores e
não haveria tantas denominações que existem hoje. Creio que a Igreja seria mais
coesa; haveria uma unidade esplêndida.
Deus instituiu um governo na igreja, de forma que temos de
respeitar, ser reverentes e obedecer àqueles que o Senhor tem posto para
presidir na Igreja Local. Há uma recomendação clássica: “Obedeçam aos seus
líderes e sejam submissos a eles, pois zelam pela alma de vocês, como quem deve
prestar contas...” (Hb.13:17 - NAA). Naturalmente que a obediência, como
sempre, é condicionada, ou seja, devemos obedecer aos líderes na medida em que
atuem em conformidade com a Palavra de Deus (At.5:29). Os líderes não devem se
comportar a não ser como despenseiros da obra de Deus (Tt.1:7), ou seja,
simples mordomos, que não podem querer dominar sobre o rebanho do Senhor, mas
servir de exemplo aos fiéis (1Pd.5:2,3).
II. A NATUREZA DA IGREJA NEOTESTAMENTÁRIA
1. Um
organismo
A Igreja é um organismo vivo (Ef.1:22,23). Nesse sentido, ela é o
Corpo de Cristo (1Co.12:27). Entre Cristo e a Igreja existe uma união vital, tão
intima e real como é a da cabeça com o corpo; é uma união íntima, terna e indissolúvel.
A igreja é inteiramente dependente de Cristo. De Cristo, a Igreja deriva sua
vida, seu poder e tudo quanto é necessário à sua existência.
A Igreja é a plenitude de Cristo. Ela está cheia da Sua presença,
animada pela Sua vida, cheia com os Seus dons, poder e graça. A Igreja é o
prolongamento da encarnação de Cristo. A Igreja é o corpo de Cristo em ação na
terra. A Igreja está cheia da própria Trindade: Pai (Ef.3:29), Filho (Ef.1:23)
e Espírito Santo (Ef.5:18).
No tocante à sua essência divina, Cristo em sentido algum pode depender
da Igreja nem ser completado por ela. Contudo, como Esposo, Ele é incompleto
sem a esposa; como Videira, não se pode pensar nele sem os ramos; como Pastor,
não se pode vê-lo sem suas ovelhas; e como Cabeça, Ele encontra sua plena
expressão em Seu Corpo, a Igreja.
Quando falamos em Igreja, temos dois significados bem distintos e
que não podem ser confundidos:
- Primeiro, o
significado universal da Igreja, tomada como corpo de
Cristo, ou seja, como um povo de todas as nações, de todas as tribos, de todas
as épocas, dos salvos por Jesus Cristo. Enquanto tomada neste significado, a Igreja
é una, é universal, é um organismo vivo e espiritual, um dos três povos que
existem na humanidade, o povo descrito em Ef.2:13-22. Neste aspecto, a Igreja
existe à parte de estatutos, templos ou qualquer estrutura social ou
governamental humana.
- Segundo, o
significado local da igreja, tomada como um grupo social,
ou seja, como uma porção do povo de Deus, uma comunidade que habita num
determinado lugar, numa determinada época e que é salvo por Cristo Jesus.
Enquanto tomada neste significado, as igrejas são várias; são organizações
humanas, um dos muitos grupos que compõem uma determinada sociedade. Neste
aspecto, as Igrejas Locais podem e devem ser reunidas em estruturas
arquitetônicas, e isto não constitui um pecado ou desvio do Evangelho como quer
nos fazer acreditar os desigrejados. Como bem diz o pr. José Gonçalves, a
repulsa dos sem-igrejas pelas estruturas arquitetônicas ou por qualquer forma
institucional se dá mais por razões de insubmissão do que zelo
pelo Evangelho.
É importante sabermos distinguir estes dois significados, pois,
se, espiritualmente, a igreja é uma só e se constitui no sal da terra e na luz
do mundo, socialmente, a igreja é um grupo dinâmico que vive no meio da
sociedade e que, pelo seu caráter e natureza espirituais, acabam sendo luz do
mundo e sal da terra, mas que vive no meio dos demais seres humanos. A falta de
consciência desta duplicidade de significado do termo igreja gera muitos
equívocos, como a confusão da Igreja enquanto Corpo de Cristo com a Igreja
Local (ou a denominação religiosa), que gera concepções sem qualquer respaldo
bíblico como sectarismos, consideração de costumes como doutrina e outros
falsos ensinamentos.
- Enquanto Igreja Universal, vemos o Corpo de Cristo, um povo
santo, sem qualquer mancha ou falha (Ef.5:27). São os lavados no sangue do
Cordeiro e cujas vestes são brancas (Ap.22:14). São os vencedores, que
receberão a coroa da justiça (2Tm.4:8), são aqueles que desejam e clamam pela
volta de Jesus (Ap.22:17). Essa igreja é invisível aos olhos humanos, mesmo os
dos santos, e tem como Cabeça Jesus Cristo (Ef.1:22), e não depende de qualquer
fator humano para se constituir e subsistir neste mundo (cfr.At.8:1-4). É esta Igreja
que está desfrutando a sua dispensação, também chamada de dispensação do
Espírito Santo ou dispensação da graça (Ef.3:1,2), cujo fim será, exatamente,
quando esta Igreja for arrebatada por Jesus, que com ela Se encontrará nos ares
(1Co.15:51-58).
- Enquanto Igreja Local, este povo é um grupo social que, como
todo grupo humano, contém elementos sinceros e autênticos, mas também elementos
insinceros e falsos. Estamos no mundo e, apesar de a Igreja Local ser formada
pelo Senhor, que resgata as pessoas do pecado e do mundo, enquanto aqui
estamos, o inimigo insere, também, indivíduos no meio deste grupo social, tal
qual joio é colocado no meio do trigo (cfr.Mt.13:24-30, 36-43), quando não
consegue enganar alguns, que se deixam seduzir pela sua própria concupiscência
(Tg.1:13-16). Por isso, a Bíblia sempre adverte a respeito de falsos mestres (2Pd.2:3,
Jd.4), de lobos no meio de cordeiros (At.20:29), de anticristos (1Jo.2:18,19),
indivíduos que estão na Igreja Local, embora não façam parte da Igreja
Universal.
Na Igreja Local, existe um governo (Ef.4:11-13; Rm.12:8; Ap.1:20),
para que possa haver ordem e edificação espiritual dos crentes na sua caminhada
à glorificação.
2. Uma
organização
Como vimos anteriormente, a Igreja em seu aspecto universal é um
organismo vivo e espiritual e, neste aspecto, ela está à parte de estatutos,
templos ou qualquer estrutura social ou governamental humana; mas, como Igreja
Local, é uma organização, necessita ser organizada. Assim sendo, é necessária
que nela haja ordem e, por conseguinte, progresso, mesmo porque o Seu criador e
formador é o próprio Deus Todo-Poderoso – o qual não é de confusão, mas de
ordem -, que a arquitetou antes mesmo da “fundação do mundo para que fôssemos santos e irrepreensíveis
diante dele em amor” (Ef.1:3,4).
No Universo criado pelo Deus Onipotente, tudo obedece às normas
estabelecidas por Ele. Não haveria de ser diferente na sua nova instituição
criada, a Igreja. Todavia, é bom ressaltar que Jesus não fundou uma organização
eclesiástica e nem estrutural; Ele criou um organismo vivo, com a Sua presença,
em obediência a princípios divinos, a fim de prevalecer sobre o império das
trevas e da maldade. Mas com o crescimento da Igreja, fez-se sentir a
necessidade de haver uma estrutura organizacional administrativa e
eclesiástica, de recrutar pessoas dedicadas para ajudarem nas tarefas
espirituais e sociais da mesma. E onde há pessoas servindo deve haver quem as
lidere, para que o seu serviço seja harmonioso e sem atropelos; isto é, cada
grupo de serviço deve possuir a sua liderança, por sua vez também sujeita a uma
liderança superior, que culmina no Senhor Jesus, o supremo Líder (cf. 1Co.12:28).
Um exemplo clássico de organização
é o que ocorreu no princípio da Igreja. Os apóstolos fizeram
eleger uma equipa de ajudantes que aliviassem a sua tarefa (At.6:2–4). Eles
deviam dedicar-se primariamente ao estudo da Palavra e à oração. Mais tarde
foram constituídos presbíteros em cada igreja para que cuidassem do rebanho
enquanto os apóstolos viajavam na sua missão (At.14:23). Paulo aconselhou a
Tito para que em cada cidade estabelecesse presbíteros capazes, com formação
moral, social e teológica, a fim de cuidarem do povo do Senhor (Tt.1:5–9).
Enfim, no princípio do Cristianismo, a Igreja tinha um sistema de
governo formado por apóstolos, profetas, evangelistas, presbíteros, diáconos,
pastores e mestres (Ef.4:11; At.6:1-6; At.14:23), e possuía seu código
doutrinário (At.2:42-47) e disciplinar (1Pd.3:5,6; 2Ts.3:6). Ninguém vivia
isoladamente e da maneira que queria (Hb.10:25). Isso pode ser visto no
primeiro concílio ou convenção feita pela Igreja Primitiva (Atos 15) em que o
colegiado apostólico, juntamente com o presbitério, tomou medidas para regular
e disciplinar a igreja que enfrentava problemas de natureza doutrinária e de
costumes. O relacionamento das igrejas locais, portanto, era sempre de
cooperação (Rm.15:26,27; 2Co.8:4; 2Co.11:8; Fl.2:25). Jamais alguém deveria
dizer: “não preciso de ti”, porque todos os membros eram necessários ao Corpo
(1Co.12:20–22).
A Igreja, portanto, é um organismo vivo, e neste aspecto deve ser
dirigida pelo Espírito Santo, pois ela, biblicamente constituída, é de Jesus. Contudo,
biblicamente não existe organismo sem organização, sem um mínimo de
institucionalização. Assim como o corpo humano, que é um organismo vivo,
contudo organizado, a Igreja também possui organização (1Co.12). Enquanto
organização religiosa, tem um Estatuto registrado em Cartório, tem Assembleia,
Diretoria, Conselho Fiscal e outros cargos para cumprir determinadas funções.
Nesta condição é regida pelo Código Civil e precisa seguir os parâmetros
legais, inclusive fiscais.
III. A IMPORTÂNCIA E A NECESSIDADE DA IGREJA
1. A
Igreja como Família de Deus
A Igreja Local é uma instituição composta de seres humanos dotados
de sentimentos, desejos e volição. Nesse caso, a Igreja é "humana" em
sua constituição e composição. E onde há pessoas há relacionamentos. A nossa
identidade é formada em relação com os outros. Somos seres relacionais, feitos
para vivermos em comunidade, no diálogo e na amizade.
Enfim, a Igreja é a família de Deus (Ef.2:19). Pela fé, entramos nessa
família, e Deus tornou-se nosso Pai. Essa família está no Céu e também na Terra
(Fp.3:15). Os crentes vivos na Terra e os crentes que “dormem” em Cristo no Céu.
Não importa a nacionalidade, somos todos irmãos, membros da mesma família.
Nessa família não há barreira racial, cultural, linguística nem econômica.
Somos um em Cristo. Temos o mesmo Espírito. Fomos salvos pelo mesmo Cordeiro e
purificado pelo mesmo sangue. Temos o mesmo Pai. Somos herdeiros da mesma
herança. Moraremos juntos no mesmo Lar (João 14:1-3; Fp.3:20).
A Igreja, no seu aspecto local, não é formada por anjos, ou por
espíritos, mas por pessoas, de carne e osso, com suas virtudes e defeitos. Só a
Igreja no seu sentido universal, como Noiva do Cordeiro, é que não tem
problemas ou defeitos. Assim sendo, como família de Deus, a Igreja tem ordem,
regras e um governo; ela é governada por Jesus Cristo, a Cabeça da Igreja (Ef.1:22;
5:23; Cl.1:18), a quem os crentes verdadeiros, quando reunidos e unidos, devem
tributar honra, respeito e adorá-lo como o Senhor da Igreja.
O cristão verdadeiro deve ter a consciência de que somos o Corpo
de Cristo, e que os membros desse Corpo não podem viver isolados e de forma decentralizado.
O Cristianismo jamais pode ser vivido em isolamento. E nesta Família chamada de
Igreja, o sentimento de irmandade, respeito e reconhecimento mútuo deve dominar
o seu ambiente (Ef.2:15,16), pois somos testemunhas da salvação em Cristo.
2. A Igreja
como Testemunha da Salvação
A Igreja é testemunha da salvação em Cristo. O apóstolo Pedro
disse que a missão da Igreja é proclamar as virtudes daquele que nos chamou das
trevas para a sua maravilhosa luz (1Pd.2:9). Portanto, a razão de a Igreja
existir, além do fato de promover adoração, companheirismo e integração, está
na sua missão de testemunhar a salvação em Cristo Jesus mediante a
pregação e ações, tendo sempre uma visão integral da natureza humana (o homem é
corpo, alma e espírito – 1Tes.5:23). A Igreja deve pregar o Evangelho em tempo
e fora de tempo (2Tm.4:2), em quaisquer circunstâncias, a judeus e a gentios,
anunciar que Jesus veio salvar o homem, perdoar os nossos pecados e
restabelecer a comunhão entre Deus e a humanidade. Todavia, a missão da igreja
não se limita somente à evangelização, ela alcança todos os aspectos que
direcionam o ser humano ao padrão que Deus sempre quis para ele: paz, justiça,
alegria, felicidade, equilíbrio, vida eterna.
Mas, uma Igreja Local só se envolverá de maneira séria e
responsável com a Grande Comissão de Cristo, quando estiver sob forte poder e
unção do Espírito Santo. Na igreja primitiva, a evangelização atingiu o ápice
quando experimentava um efusivo derramamento do Espírito Santo (At.2:1-4). Essa
unção extraordinária modificou a estrutura espiritual de um grupo de homens
assustados em verdadeiras brasas ardentes, e os levou a testemunharem do amor
de Deus com o sacrifício de suas próprias vidas.
A Igreja pode existir em um templo, mas a sua missão só se completa
fora dele. Não há igreja que seja bíblica e existe somente dentro de quatro
paredes. Em Antioquia, a liderança da Igreja, em atenção à Grande Comissão,
enviou o que possuía de melhor em seu ministério para as missões
transculturais: Barnabé e Saulo. Isto porque existiam duas práticas lá hoje
quase extintas: jejum e oração. Além disso, essa igreja vivia o que ensinava: o
amor, o quebrantamento espiritual e um profundo senso de responsabilidade pela
Grande Comissão. Isto levou aquela igreja a se tornar o centro de missões
mundiais na igreja primitiva.
3. A
Igreja como Comunidade Edificante
“Na evangelização, a Igreja focaliza o mundo; na adoração,
volta-se para Deus; e, na edificação, atenta para si mesma. Repetidas vezes,
nas Escrituras, os crentes são admoestados a edificar uns aos outros para assim
formarem uma comunidade idônea (cf.Ef.4:12-16). A edificação pode ser levada a
efeito por muitos meios práticos. Por exemplo: ensinar e instruir os outros nos
caminhos de Deus certamente enriquece a família da fé (Mt.28:20; Ef.4:11,12).
“Administrar a correção espiritual numa atitude de amor é
essencial na ajuda ao irmão desviado, a fim de que permaneça no caminho da fé
(Ef.4:5; Gl.6:1). Compartilhar com os necessitados (2Co.9), levar os fardos uns
dos outros (G1.6:2) e fornecer oportunidades para convívio e interação social
entre cristãos sadios são meios relevantes de edificar o corpo de Cristo”
(HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 10.d. Rio
de Janeiro: CPAD, 2006, p.554).
CONCLUSÃO
Nesta Aula tratamos da sutileza do movimento dos desigrejados;
vimos como este movimento se equivoca com relação a vários aspectos da Igreja,
principalmente com relação ao governo da Igreja, a sua organização e institucionalização.
Segundo eles, a Igreja não possui organização alguma e, consequentemente, não
há liderança formal estabelecida. Porém, de acordo com o Novo Testamento, a
Igreja Local possui liderança estabelecida e conta com estrutura organizacional
constituída. O objetivo não é honrar e glorificar o homem, mas exaltar o Senhor
Jesus Cristo e cumprir a missão integral para a qual Ele nos chamou: pregar,
ensinar, constituir discípulos para Jesus e cumprir sua missão social, assim
como ocorria no princípio da Igreja. Como uma Igreja Local poderá fazer tudo isso
sem ser organizada e com uma liderança sincera firmada? Portanto, o movimento
dos desigrejados é apenas um movimento de rebeldia e de indisciplina, que se
desliga de uma instituição religiosa tradicional para criar outra conforme suas
diretrizes desviadas da Bíblia.
-------------------------
Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD
William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo
Testamento).
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Caramuru Afonso Francisco. O Cristão e a Igreja Local. PortalEBD.
Revista Cristianismo Hoje. Ed. 19 - Ano 4. Os Desigrejados.
Frank Viola & George Berna. Cristianismo Pagão. Abba.
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