A vida não é indolor. Nossa jornada neste mundo não
é feita por caminhos atapetados, mas por estradas juncadas de espinhos.
Palmilhamos desertos tórridos, descemos a vales escuros e atravessamos
pinguelas estreitas, sobre pântanos perigosos. Aqui, muitas vezes,
alimentamo-nos de nossas próprias lágrimas. A dor cruel nos açoita com rigor
desmesurado. A dor das perdas, do luto e da saudade dói mais do que a dor que
fustiga nosso corpo. A dor das lembranças amargas, das doenças crônicas e do
pecado que tenazmente nos assediam, acicatam nossa mente, nosso corpo e nossa
alma.
O sofrimento mostrou sua carranca de forma dolorosa
no segundo mais trágico incêndio ocorrido no Brasil. Nos albores do dia 28 de
janeiro de 2013, uma tragédia aconteceu em Santa Maria, cidade universitária do
próspero estado do Rio Grande do Sul. A boate Kiss pegou fogo e mais de
duzentos e trinta jovens e adolescentes pereceram, asfixiados pela fumaça
tóxica. Sonhos foram interrompidos. Carreiras brilhantes terminaram
abruptamente. Casamentos marcados não puderam se concretizar. Pais que
esperavam seus filhos voltar ao lar, acordaram sobressaltados pela amarga
notícia, de que seus filhos haviam morrido naquela fatídica noite. O sofrimento
foi tão grande que a nação inteira chorou diante dessa tragédia. Ninguém, por
mais forte, consegue lidar com esse sofrimento, estribado em suas próprias
forças. Somente a graça de Deus pode nos assistir nessas horas. Somente a graça
de Deus pode nos dar ânimo para prosseguir.
O apóstolo Paulo, depois de um passado sombrio,
quando perseguiu, prendeu e deu seu voto para matar muitos discípulos de
Cristo, foi convertido no caminho de Damasco. Tornou-se o maior missionário e
plantador de igrejas da história do Cristianismo. Sua vida, porém, foi timbrada
pelo sofrimento. Foi perseguido, preso, açoitado, apedrejado e fustigado com
varas. Por onde passou, enfrentou pressões e ameaças. O fato de ser um homem
cheio do Espírito não o isentou de sofrer. Em sua última carta, despedindo-se
de seu filho Timóteo, preso numa masmorra romana, cônscio de que enfrentaria o
martírio, abriu seu coração para dizer que estava enfrentando solidão,
abandono, privações, traição e ingratidão. Apesar de tão severo sofrimento,
sabia que não caminhava para um fim trágico, mas avançava rumo à glória para
receber do reto Juiz, sua recompensa. Foi a graça de Deus que o manteve de pé
nas renhidas batalhas da vida. Foi a graça de Deus que o capacitou a cantar na
prisão. Foi a graça de Deus que o consolou nas amargas provações da vida. Foi a
graça de Deus que o revestiu de forças para cumprir cabalmente seu ministério.
Foi a graça de Deus que o encheu de doçura e esperança mesmo em face da morte.
Nenhum homem tem capacidade de lidar com o
sofrimento à parte da graça de Deus. Somos frágeis vasos de barro. Não podemos
ficar de pé escorados no bordão da autoconfiança. Sem a graça a Deus e sem o
Deus de toda a graça sucumbimos à dor. Mas, pela graça somos consolados no
sofrimento para sermos consoladores. Tornamo-nos receptáculos do conforto
divino para sermos canais dessas ternas consolações. Nem sempre, porém, Deus
nos poupa do sofrimento. Nem sempre temos alívio da dor. Nem sempre a cura se
torna uma realidade. Mas a graça de Deus jamais nos falta. A graça de Deus é
melhor do que a vida. A graça de Deus nos basta. Nessas horas, o poder de Deus
se aperfeiçoa na fraqueza. Como Jó, podemos gritar, mesmo no torvelinho da
nossa dor: “Eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará. Vê-lo-ei
por mim mesmo”. Podemos dizer como Pedro: “Ora, o Deus de toda a graça,
que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um
pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar”.
Podemos, dizer como Paulo: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação
produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação”. Oh,
bendita graça! Graça sublime! Graça que nos salva, nos fortalece e nos capacita
e lidar vitoriosamente com o sofrimento.
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