2º Trimestre_2021
Texto Base:
1Coríntios 12:27-29; Efésios 4:11-13.
“E a uns pôs Deus na igreja,
primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores,
depois, milagres, depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de
línguas"(1Co.12:28).
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos do Dom Ministerial de Profeta. Estudaremos alguns
aspectos deste Dom considerando o contexto histórico e cultural do Antigo e do
Novo Testamento. Na Aula 05, quando discorremos sobre os Dons de Elocução, fizemos
comentários sobre o Dom Espiritual de Profecia (1Co.12:10. De início, parece
não haver diferença entre um e outro, mas há alguns aspectos a considerar. Uma pessoa
pode ter o Dom Espiritual de Profecia sem ter o Dom Ministerial de Profeta. No
Novo Testamento, o ministério de “Profeta” foi instituído por Cristo (Ef.4:7,11),
para a Igreja, com o propósito de ser o porta-voz de Deus, não mais para a
revelação do plano de Deus ao homem, mas para trazer mensagens divinas ao Seu
povo no sentido de encorajar o povo a se manter fiel à Palavra e para nos fazer
lembrar as promessas contidas nas Escrituras. Na Nova Aliança, a profecia
precisa ser entendida dentro de um contexto específico; ela não pode ser
considerada superior à revelação escrita, ou seja, a própria Escritura Sagrada.
Nenhuma palavra profética pode ter o objetivo de substituir ou revogar a
Revelação escrita, pois esta é a suprema profecia. Hoje, o Dom de Profeta,
envolve a iluminação da Palavra divina, e não sua revelação.
I. O PROFETA DO ANTIGO TESTAMENTO
O profeta do Antigo Testamento era um homem de Deus que,
espiritualmente, estava muito acima de seus contemporâneos. Nenhuma categoria,
em toda a literatura, apresenta um quadro mais dramático do que os profetas do
Antigo Testamento. Os sacerdotes, juízes, reis, conselheiros e os salmistas,
tinham cada um lugar distintivo na história de Israel, mas nenhum deles logrou
alcançar a estatura dos profetas, nem chegou a exercer tanta influência na
história da redenção.
Os profetas exerceram considerável influência sobre a composição do
Antigo Testamento. Tal fato fica evidente na divisão tríplice da Bíblia
hebraica: a Torá, os Profetas e os Escritos (cf. Lc.24:44). A categoria dos
profetas inclui seis livros históricos, compostos sob a perspectiva profética:
Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis. É provável que os autores desses
livros fossem profetas. Em segundo lugar, há dezessete livros proféticos específicos
(Isaías até Malaquias). Finalmente, Moisés, autor dos cinco primeiros livros da
Bíblia (a Torá), era profeta (Dt.18:15). Sendo assim, dois terços do Antigo Testamento,
no mínimo, foram escritos por profetas.
1. Conceito
Profeta era o porta-voz que emitia palavras sob o poder impulsionador do
Espírito de Deus. A palavra grega “profetes”, da qual se deriva a
palavra "profeta" em português, significa "aquele que fala em
lugar de outrem". Os profetas falavam, em lugar de Deus, ao povo do
concerto, baseados naquilo que ouviam, viam e recebiam da parte dEle.
No Antigo Testamento, o profeta também era conhecido como "homem de
Deus" (ver 2Rs.4:21), "servo de Deus" (cf. Is.20:3; Dn.6:20),
homem que tem o Espírito de Deus sobre si (cf. Is.61:1-3), "atalaia" (Ez.3:17),
e "mensageiro do Senhor" (Ag.1:13). Os profetas também interpretavam
sonhos (por exemplo, José, Daniel) e interpretavam a história - presente e
futura - sob a perspectiva divina.
O profeta não era simplesmente um líder religioso, mas alguém possuído
pelo Espírito de Deus (Ez.37:1,4). Em Israel, no período do Antigo Testamento,
muitos foram os homens e mulheres que Deus vocacionou para profetizarem em seu
nome. Por exemplo: Samuel, o último dos juízes e o primeiro dos profetas para a
nação de Israel (1Sm.3:19,20); Elias e Eliseu (1Rs.18:18-46; 2Rs.2:1-25); a
profetisa Hulda (2Rs.22:14-20); e muitos outros, como os profetas literários
Isaías, Jeremias e Daniel.
Sabe-se que, mesmo antes da organização dos profetas como uma ordem,
eles remontam aos primórdios bíblicos: Abraão, Moisés, e o próprio Samuel, são
usados como referências (Dt.18:15; Jz.4:4; 2Rs.22:14; 1Sm.3:20). Abraão foi a
primeira pessoa a quem a Bíblia chama de profeta (Gn.20:7 cf. Sl.105:15). A
normatização veio posteriormente através da vida e pessoa de Moisés, que passou
a constituir padrão de comparação para todos os profetas futuros (Dt.18:15-19;
34:10).
Pelo fato do Espírito Santo e a Palavra estarem nele, o profeta do Antigo
Testamento possuía estas três características:
a) Conhecimentos divinamente revelados. Ele recebia
conhecimentos da parte de Deus no tocante às pessoas, aos eventos e à verdade
redentora. O propósito primacial de tais conhecimentos era encorajar o povo a
permanecer fiel a Deus e ao seu concerto. A característica distintiva da
profecia, no Antigo Testamento, era tornar clara a vontade de Deus ao povo
mediante a instrução, a correção e a advertência. O Senhor usava os profetas
para pronunciarem o seu juízo antes de este ser desferido. Do solo da história
sombria de Israel e de Judá, brotaram profecias específicas a respeito do
Messias e do reino de Deus, bem como predições sobre os eventos mundiais que
ainda estão por ocorrer.
b) Poderes divinamente outorgados. Os profetas eram levados à esfera dos
milagres à medida que recebiam a plenitude do Espírito de Deus. Através dos
profetas, a vida e o poder divinos eram demonstrados de modo sobrenatural
diante de um mundo que, de outra forma, se fecharia à dimensão divina.
c) Estilo de vida característico. Os profetas, na sua maioria,
abandonaram as atividades corriqueiras da vida a fim de viverem exclusivamente
para Deus. Protestavam intensamente contra a idolatria, a imoralidade e iniquidades
cometidas pelo povo, bem como a corrupção praticada pelos reis e sacerdotes. Suas
atividades visavam mudanças santas e justas em Israel. Suas investidas eram
sempre em favor do reino de Deus e de sua justiça. Lutavam pelo cumprimento da
vontade divina, sem levar em conta os riscos pessoais.
2. O Ofício
O ofício profético organizado em Israel remonta aos dias do profeta
Samuel. Foi ele quem deu origem ao ofício de profeta como uma ordem ou classe
organizada. Nesse sentido, ele é “o primeiro dos profetas” – distinção que as
Escrituras neotestamentárias reconhecem perfeitamente - “E todos os profetas
desde Samuel, todos quantos depois falaram, também anunciaram estes dias” (Atos
3:24; cf. 13:20; Hb.11:32).
As escolas de profetas foram fundadas a partir dos dias de Samuel e não
anteriormente. A primeira menção dessa classe organizada é a escola por ele
fundada, que ficava em Ramá (1Sm.19:20). Essas escolas eram centros de vida
religiosa, onde se buscava a comunhão com Deus mediante a oração e meditação. É
evidente que estudavam as profecias, inquirindo sobre o tempo de seu
cumprimento (1Pd.1:10-12), além de recordarem os grandes feitos de Deus no passado.
Através dessas escolas, cresceu em Israel uma ordem profética reconhecida (2Rs.2:3,5).
A função principal do Profeta veterotestamentário era proclamar a
mensagem recebida de Deus. Ele transmitia a mensagem divina através do Espírito
Santo, para encorajar o povo de Deus a permanecer fiel, conforme os preceitos
da Antiga Aliança. Na verdade, ele era o "porta-voz" de Deus (Êx.4:10-16;
7:1); era alguém que falava em nome do Senhor - "Serás como a minha
boca" (Jr.15:19).
Através da inspiração divina o profeta recebia uma revelação que
desvendava o oculto, anunciava juízos, emitia conselhos e advertências divinas.
Às vezes eles também prediziam o futuro conforme o Espírito lhes revelava.
Expressões como “veio a mim a palavra do Senhor” e “assim diz o Senhor” eram
fórmulas usuais para o profeta começar a mensagem (Jr.1:4; Is.45:1). Nunca
aparecia o “eu”: “eu profetizo”!
Também, eram educadores ungidos pelo Senhor para ensinar ao povo a viver
em santidade, tornando-lhe conhecida Sua revelação e desvendando-lhe as coisas
futuras (Nm.12:6). Eles se utilizavam de métodos variados para ensinar (Oséias
12:10; Hb.1:1).
Tinham, ainda, como missão: lutar contra a idolatria, zelar pela pureza
religiosa, justiça social e fidelidade a Deus. Suas mensagens deveriam ser recebidas
integralmente por toda a nação como Palavra de Deus (2Cr.20:20). Não hesitavam
em enfrentar reis desobedientes, governadores, sacerdotes ou qualquer tipo de
liderança que não seguisse a Palavra de Deus (1Rs.18:18).
Após a divisão do Reino de Israel, o profeta passou a ser perseguido,
pois sua profecia confrontava diretamente a prepotência da nobreza, a
dissimulação dos sacerdotes e a injustiça social (Jr.1:18,19; 5:30,31; Is.58:1-12).
Também, os profetas do Antigo Testamento vaticinaram a vinda do Jesus
Cristo, o Messias prometido. O apóstolo Pedro assim se expressou: “Mas Deus
assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia
anunciado: que o Cristo havia de padecer” (Atos 3:18). A obra redentora de
Cristo Jesus pode ser encontrada, tipológica e profeticamente, na Lei de Moisés
e nos Profetas - "E todos os profetas, desde Samuel, todos quantos depois
falaram, também anunciaram estes dias"(Atos 3:24). Neste texto, o apóstolo
Pedro apresenta o perfil de Cristo no Antigo Testamento, provando, assim, que
os últimos episódios eram o cumprimento das Escrituras Sagradas.
3. O profetismo
No ministério mosaico iniciou-se a atividade profética em Israel (Nm.11:25).
Entretanto, o profetismo, como movimento, surgiu séculos depois, no período
aproximado do século VIII a.C.; de forma mais efusiva quando da divisão da
monarquia de Israel. Nos períodos monárquicos dos reinos de Judá e de Israel
(reino do Norte), observamos a ação dos profetas exortando, denunciando e
repreendendo os reis (cf.1Rs.18:18). O profeta Joel deu início esse movimento,
e João Batista não somente encerrou o profetismo em Israel, mas também foi o
arauto de Cristo.
O objetivo precípuo desse movimento era restaurar o monoteísmo, combater
a idolatria, denunciar as injustiças sociais e proclamar o Dia do Senhor, com o
objetivo de reacender a esperança messiânica no povo. Nesse período, sobressaiu
a característica do sofrimento e marginalização dos profetas; de homens dignos
de reverência passaram a homens “dignos” de tratamentos mais baixos possíveis
em virtude de sua mensagem denunciar os interesses escusos das lideranças
religiosas e políticas de Israel e Judá (ler Hb.11:36-38). Eles foram
cruelmente surrados, presos e mortos com requintes e crueldade (Hb.11:37)
Atualmente, está em voga o profetismo sem Bíblia. Frequentemente,
escutamos: “eu profetizo...!”; “profetize para seu irmão”; “eu profetizo que a tal
cidade será do Senhor!”. A Bíblia ensina que a profecia não depende do
"eu" querer - “... porque a profecia nunca foi produzida por vontade
de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirado pelo Espírito
Santo” (2Pd.1:21).
É bom observarmos que os homens santos de Deus não usaram a frase “eu
profetizo”; ao contrário, quando profetizaram, disseram: “Assim veio a mim a
palavra do Senhor...” (Jr.1:4); “Assim diz o Senhor...” (Jr.2:5; Is.56:1;
66:1); “Ouvi a palavra do Senhor...” (Jr.2:4); “E veio a mim a palavra do
Senhor”(Jr.2:1; 16:1); “disse o Espírito Santo...” (Atos 13:2); “... Isto diz o
Espírito Santo...” (Atos 21:11); “Mas o Espírito expressamente diz...” (1Tm.4:1).
Em todos os casos, não aparece o "eu", aparece a Pessoa divina. Tenhamos
cuidado de não sermos ludibriados com o profetismo sem Bíblia!
II. O PROFETA EM O NOVO TESTAMENTO
No princípio da Igreja, o Ministério Profético, em conjunto com o Ministério
Apostólico, teve um papel fundamental: lançar o fundamento do Edifício (a
Igreja), tendo como Pedra Angular o Senhor Jesus Cristo. Ele mesmo disse:
“...sobre esta pedra edificarei a minha igreja...” (Mt.16:18). A Bíblia afirma
que os concidadãos dos santos e da família de Deus estão edificados sobre o
fundamento dos apóstolos e dos profetas - “edificados sobre o fundamento dos
apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina”
(Ef.2:20). Esses “profetas” “falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2Pd.1:21),
mas isto não significa que eles nem os apóstolos foram o fundamento da Igreja.
Cristo é o Fundamento da Igreja (1Co.3:11), porém, foram eles que lançaram o
fundamento através das doutrinas que ensinaram sobre a Pessoa e obra do Senhor
Jesus.
Esses “profetas” foram mestres inspirados a quem veio a Palavra de Deus,
os quais a transmitiram a outras pessoas fielmente. Era um pequeno grupo de
mestres inspirados, associados aos apóstolos, que juntos davam testemunho de
Cristo e cujo ensino era fruto da revelação (Ef.3:5). Em termos práticos, isso
significa que a Igreja está edificada sobre as Escrituras do Novo Testamento.
Veja o que Paulo afirma aos crentes de Éfeso: “pelo que, quando ledes, podeis
perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, o qual, noutros séculos,
não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo
Espírito aos seus santos apóstolos e profetas, a saber, que os gentios são
coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo
evangelho” (Ef.3:4-6).
1. A importância do
termo "profeta" em o Novo Testamento
O Ministério de Profeta, juntamente com o de Apóstolo, era um dos
pilares da Igreja do primeiro século (Ef.2:20). O profeta era porta-voz de Deus,
recebia revelações diretamente do Senhor e as transmitia à Igreja; aquilo que
falava por meio do Espírito Santo era a Palavra de Deus. Portanto, os Profetas
são partes do fundamento da Igreja, por meio dos quais a revelação salvífica
foi dada, conforme registrada na Bíblia Sagrada. Neste sentido, a profecia se
findou com a formação do último livro do Novo Testamento, não havendo mais
qualquer revelação salvífica que devamos esperar para o plano redentivo, pois
este está concluído na revelação bíblica.
Hoje em dia não temos mais profeta no sentido técnico da palavra; seu
ministério acabou quando a fundação da Igreja foi concluída e o cânon do Novo
Testamento se completou. Contudo, a função profética por meio da proclamação de
Palavra para a edificação da Igreja (cf. At 13:1,2) e evangelização dos
incrédulos, continua presente nos dias de hoje. O Dom de Profeta, hoje, envolve
a iluminação da Palavra divina, e não sua revelação; atualmente, homens e
mulheres de Deus, visionários e santos, pessoas cheias da Palavra do “espírito
de sabedoria e de revelação” (Ef.1:7), continuam a ser necessárias para instruir
e liderar a Igreja “até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento
do Filho de Deus, a varão perfeito, à unidade da estatura completa de Cristo”.
Neste sentido, e somente neste sentido, o termo “profeta” é importante.
2. O ofício do Profeta
neotestamentário
Os profetas do Novo Testamento, no princípio da Igreja, exerceram
autoridade semelhante à dos profetas do Antigo Testamento. A missão principal
dos profetas do Antigo Testamento era transmitir a mensagem divina através do
Espírito Santo, para encorajar o povo de Deus a permanecer fiel, conforme os
preceitos da Antiga Aliança. Às vezes eles também prediziam o futuro conforme o
Espírito lhes revelava. Basicamente, o ofício do Profeta no princípio da Igreja
incluía o seguinte:
a) Proclamava e interpretava, cheio do Espírito Santo, a Palavra de
Deus, por chamada divina. Sua mensagem visava admoestar, exortar, animar,
consolar e edificar (Atos 2:14-36; 3:12-26; 1Co.12:10; 14.3).
b) Quanto ao futuro: profetizaram acerca do surgimento de falsos
mestres, de seitas e heresias (Atos 20:29,30; 1Tm.4:1; 2Pd.2:1-3; 2Pd.3:7-18));
predisseram pelo Espírito Santo o arrebatamento da Igreja e a ressurreição dos
mortos(1Ts.4:13-17); predisseram a manifestação do Anticristo e o período da
grande Tribulação (2Ts.2:3-11); predisseram o galardão dos justos(1Co.3:12-15;
2Co.5:10), a vinda de Jesus, o fim do mundo e a eternidade dos salvos (2Pd.3:7-18),
dentre outros acontecimentos futuros. O livro de Apocalipse, escrito por João,
é essencialmente profético, é a conclusão de todas as Escrituras e lança luz
sobre as profecias do Antigo Testamento, principalmente as de Ezequiel, Daniel
e Zacarias, de Jesus em Mateus 24, 25, e do apóstolo Paulo (1Ts.4-5; 2Ts.2).
c) Como ocorria no Antigo Testamento, os “profetas” desmascaravam o pecado,
proclamavam a justiça, advertiam do juízo vindouro e combatiam o mundanismo e
frieza espiritual entre o povo de Deus.
Como já disse, hoje não temos mais profeta no sentido técnico da palavra,
haja vista que eles (Profetas e Apóstolos) foram chamados para lançar o
fundamento da Igreja; porém, a função profética continua sendo imprescindível
ao propósito de Deus para a Igreja.
Em resumo, atualmente, o “profeta” desempenha prioritariamente as
seguintes funções:
Ø É um instrutor do
povo de Deus dentro da Palavra de Deus. Ele ensina os preceitos da Nova
Aliança, e proclama, em nome de Deus, a maneira correta de proceder. Ele fala
não apenas em nível individual, mas também em nível coletivo. Mostra os pecados
de pessoas e de instituições. Denuncia o pecado individual e estrutural, e
aponta o caminho correto: arrependimento. A crise de alguns segmentos de nossas
denominações, e de outros órgãos evangélicos, não deve ser camuflada nem
varrida para baixo do tapete. Se há pecado, se há desvios de recursos, se há
desonestidade, ou simplesmente incompetência, isso deve ser tratado como tal. Também,
o “profeta” não se conforma com o pecado estrutural. Os profetas do Antigo Testamento
não denunciavam apenas os pecados da Assíria, Egito e Babilônia, mas também os
do povo de Deus; não só de pessoas, mas da instituição. Assim deve ser o
“profeta” neotestamentário.
Ø É um consolador. O “profeta” não é
apenas anunciador de catástrofes, como alguns presumem, mas é o arauto de um
novo tempo, é pregoeiro do amor e da misericórdia de Deus; mostra o que Deus pode
fazer na vida das pessoas. Ao mesmo tempo em que anuncia o juízo e chama ao arrependimento,
traz a mensagem de Isaías 40.1: “Consolai, consolai o meu povo”.
3. O objetivo do Dom
Ministerial de Profeta
Conforme Efésios 4:16, o objetivo da função profética do Novo Testamento
é o aperfeiçoamento da Igreja, com vistas à sua maturidade espiritual, pois
como um organismo vivo, a Igreja deve desenvolver-se para a edificação em amor.
Se à pessoa, que desempenha a função profética, não for permitido trazer a
mensagem de repreensão e de advertências denunciando o pecado e a iniquidade
(João 16:8-11), então a Igreja já não será o lugar onde se possa ouvir a voz do
Espírito Santo. Desta feita, a Igreja caminhará para decadência, desviando-se
para o mundanismo e o liberalimo quanto aos ensinos das Escrituras Sagradas
(1Co.14:3; cf. Mt.23:31-38; Lc.11:49; Atos 7:1,52). Precisamos ter cuidado para
que a política eclesiástica e a direção humana não tomem o lugar do Espírito Santo
(2Tm.3:1-9; 4:3-5; 2Pd.2:1-3,12-22).
III. DISCERNINDO O VERDADEIRO PROFETA DO FALSO
A Palavra de Deus adverte-nos de que haverá entre nós, na própria Igreja
Local, falsos profetas (2Pd.2:1-3; Leia também Atos 20:30; 1Tm.4:1; 1João 4:1).
Apesar da aparência de piedade, não passam de agentes de Satanás. Sua missão
principal é corromper a fé dos salvos e destruir a unidade da Igreja (Mt.7:15-23).
Como identificá-los? Como saber se estão em nosso meio?
1. Observar as
características contrastantes: simplicidade x arrogância
A simplicidade é uma das características marcantes na vida do homem de
Deus, que desempenha a função profética. Um homem de Deus, jamais é arrogante. A
Bíblia diz que Deus resiste aos soberbos (Tg.4:6). A arrogância do homem, que o
levam a se achar poderoso e a querer a glória para si, ao invés de reconhecer a
onipotência de Deus e a glória que só a Ele é devida, tem sido a principal
causa de derrota e fracasso na vida de muitos. A soberba transformou um anjo de
luz em demônio.
O Rev. Hernandes Dias Lopes diz que a arrogância é a porta de entrada do
fracasso e a sala de espera da ruína. Nabucodonosor foi retirado do trono e
colocado no meio dos animais por causa da sua arrogância (cf. Dn.4:30-37). O
rei Herodes Antipas I morreu comido de vermes porque ensoberbeceu seu coração em
vez de dar glória a Deus (Atos 12:21-23). O rei Saul, primeiro rei de Israel,
perdeu o trono por causa de sua perseverante arrogância. O reino de Deus
pertence aos humildes de espírito, e não aos orgulhosos de coração.
A arrogância, infelizmente, também tem grassado Igrejas Locais. A Bíblia
registra um exemplo: a Igreja de Laodicéia. Essa Igreja, a começar do seu
líder, enchia o peito e dizia para todos, com evidente e louca arrogância: “rico
sou e de nada tenho falta” (Ap.3:17). Ora, é nesta tola manifestação de
arrogância que se verifica a fraqueza espiritual. Ao dizer que não precisava de
coisa alguma, aqueles crentes mostravam o seu estado de “mornidão espiritual”,
pois só temos força espiritual quando reconhecemos a nossa insignificância, a
nossa pequenez, o nosso nada diante de Deus.
A autoglorificação é desprezível. A Igreja de Laodicéia exaltou-se dando
nota máxima a si mesma em todas as áreas. Mas, Cristo a reprovou em todos os
itens. A Bíblia diz: ”Louve-te o estranho, e não a tua boca; o estrangeiro, e
não os teus lábios” (Pv.27:2). Deus abomina o louvor próprio. Jesus explicou essa
verdade na parábola do fariseu e do publicano; aquele que se exaltou foi humilhado,
mas o que se humilhou, desceu para sua casa justificado.
Muitos pastores, líderes e pregadores gostam do termo “profeta”, e
gostam mais ainda de usá-lo para si, para terem o direito de falarem o que
querem, arrogando-se a famosa “voz profética”. Via de regra, quando alguém
alega ter “voz profética”, é bom ficar em espírito de oração, pois certamente
virá impropérios contra pessoas. É uma postura arrogante de quem emite
conceitos sobre a vida alheia com muita facilidade, e não raro, descuidando da
sua vida pessoal. Escrito está: “Em vindo a soberba, sobrevêm a desonra, mas
com os humildes está a sabedoria” PV.11:2).
2. Pelos Frutos os
conhecereis
Jesus advertiu aos discípulos a respeito dos falsos
profetas da seguinte forma:
“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm
até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Por
seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos
dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má
produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar
frutos bons. Toda árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo.
Portanto, pelos seus frutos os conhecereis” (Mt.7:15-20).
Jesus foi contundente ao afirmar que são pelos frutos que se conhece o
verdadeiro e o falso profeta. Portanto, não nos preocupemos com os sinais,
prodígios e maravilhas que alguém venha a fazer. Isto não prova que essa pessoa
é um homem ou mulher de Deus. Judas fez sinais e maravilhas, porém era um falso
apóstolo (cf. Mc.6:7,13). Devemos atentar, sim, com a presença do caráter
cristão na sua vida. Também não nos preocupemos com a vestimenta que alguém
está usando, mas com a presença do caráter cristão na sua vida. O caráter é o
conjunto de qualidades boas ou más de um indivíduo, que determina a sua conduta
em relação a Deus, a si mesmo e ao próximo. Essas especificidades são
responsáveis pela maneira como uma pessoa age, regulando suas escolhas e
decisões (Pv.16:2,9; 20:6,11).
Portanto, o caráter de uma pessoa não apenas define quem ela é, mas
também descreve seu estado moral e a distingue das demais de seu grupo (Pv.11:17;
12:2;14:14:20:27); é o traço distintivo de uma pessoa; é a sua marca – “O homem
benigno faz bem à sua própria alma, mas o cruel perturba a sua própria carne”
(Pv.11:17).
O apóstolo Paulo denomina o caráter do autêntico cristão de “Fruto do
Espírito” (Gl.5:22). Portanto, não devemos diferençar o verdadeiro profeta do
falso pela "performance" ou pelo "espetáculo", pela fama, mas
pelos frutos que eles produzem.
3. Ainda sobre o
falso profeta
Vivemos tempos difíceis, o povo de Deus está famélico da mensagem
profética autêntica. Infelizmente, muitos falsos profetas têm se levantado
nestes últimos dias enganando o povo com mensagens falsas e antibíblicas, plenamente
nocivas ao crescimento espiritual da Igreja do Senhor, e que tem enganado
muitos crentes incautos à apostasia, desviando-as do foco principal: a Salvação
e a maturidade espiritual. A Igreja precisa aprender a julgar as profecias e
discernir os espíritos. A profecia precisa ser confrontada com a Palavra de
Deus, já que o nosso Deus nunca se contradiz, e foi Ele, através do seu
Espírito, quem a inspirou. Paulo orienta os crentes a serem ouvintes criteriosos.
Ele diz: “[...] e os outros julguem” (1Co.14:2). O que é julgar? Porventura significa
que você deve ir ao Templo com um espírito crítico? Não! Devemos fazer a
seguinte avaliação:
a) A mensagem é de
Deus? Você precisa questionar se a mensagem está sendo um instrumento para a
glorificação de Deus ou para a exaltação do pregador. Se Deus não está sendo
glorificado, então, essa profecia não é verdadeira. O apóstolo Pedro ordena:
“Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da
multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se
alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá, para que em tudo
Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o poder para
todo o sempre. Amém” (1Pe 4:10,11).
b) A mensagem está de
acordo com as Escrituras? O apóstolo Pedro escreveu: “Se alguém fala, fale
de acordo com os oráculos de Deus” (1Pd.4:11). Nós não podemos ser ouvintes sem
discernimento espiritual. Paulo elogiou a Igreja de Beréia, que examinava as
Escrituras para ver se o que ele estava falando era de fato a verdade (Atos
17:11). Cabe aos membros da Igreja ouvir o pregador com a Bíblia aberta,
examinando as Escrituras para saber se de fato o pregador está ensinando de acordo
com a Palavra de Deus.
c) A mensagem pregada
edifica a Igreja? (1Co.14:3,4,5,12,17,26). A profecia tem como finalidade a edificação da
Igreja. O apóstolo Paulo é claro quanto a isso: “Mas o que profetiza fala aos
homens, edificando, exortando e consolando” (1Co.14:3). Quando alguém fala uma
mensagem sobre sua vida dizendo que é profecia, mas o deixa cheio de condenação
ou medo, esta mensagem não vem de Deus.
d) A profecia produz
frutos, e concorda em conduta e caráter? Uma pessoa que se diz profeta e
não pagar suas contas é um falso profeta. Uma pessoa que se diz profeta e vive
em imoralidade sexual ou irresponsabilidade financeira está em engano profundo,
e é um falso profeta. A profecia deve concordar com a conduta e o caráter. Jesus
afirmou que os falsos profetas vêm como lobos em pele de cordeiro (Mt.7:15,16)
- parecem boas pessoas; até agem como cordeiros, mas seus propósitos são
devorar e enganar a Igreja de Cristo.
Portanto, chequemos o caráter daqueles que estão em evidência e são
capazes de influenciar a vida espiritual de um indivíduo ou de uma coletividade.
Devemos aferir suas atitudes com base na Palavra de Deus. A primeira coisa que
um falso profeta ou qualquer pessoa que está em engano nos dirá é: “não me
julgue!”. Você não está julgando, está simplesmente checando seus frutos. Estamos
nos últimos dias da Igreja do Senhor nesta Terra, não devemos, pois, vacilarmos
no final da nossa jornada de fé rumo à Terra Prometida (Fp.3:20). Amém?
CONCLUSÃO
Vimos nesta Aula que o Ministério de Profeta, juntamente com o de
Apóstolo, era um dos pilares na liderança da Igreja do primeiro século
(Ef.2:20). Como disse anteriormente, hoje em dia não temos mais profeta no
sentido técnico da palavra, esse ministério acabou quando a fundação da Igreja
foi concluída e o cânon do Novo Testamento se completou. Contudo, a função profética
por meio da proclamação da Palavra para a edificação da Igreja (cf. At 13:1,2)
e evangelização dos incrédulos, continua presente nos dias de hoje.
O “profeta” neotestamentário não tem a missão de ungir líderes ou seu
sucessor, mas tem a imperativa responsabilidade de transmitir a mensagem de
Deus, nos momentos necessários, no tempo certo, para pessoas não cristãs ou
para a comunidade cristã. Essa mensagem é de grande valia, para denunciar as
ameaças ou existência de pecados que comprometem a integridade espiritual do
Corpo de Cristo.
A missão profética da Igreja está implícita na Grande Comissão que lhe
foi outorgada por Cristo. Vários textos dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos
falam da abrangência ilimitada da missão profética da Igreja (Mt.28:18-20; Mc.16:15-20;
Lc.24:46,47; Atos 1:8). Essa missão profética de pregar o evangelho tem seu
alicerce na autoridade de Jesus. É função da Igreja proclamar a todos que se
arrependam, para que sejam perdoados os seus pecados (Mc.1:14), e possam
ingressar no Reino de Deus.
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Luciano de Paula Lourenço –
EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD
William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Novo e Antigo Testamento).
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. Os Dons do Espírito Santo. PortalEBD.
Pr. Elinaldo Renovato de Lima. DONS ESPIRITUAIS & DONS MINISTERIAIS:
servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. CPAD.2014.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Efésios (Igreja, noiva gloriosa). Hagnos.
Carlos Alberto R. de Araújo. A Igreja dos Apóstolos. CPAD.
Lição maravilhosa. Aprendi muito.
ResponderExcluirAmo estudar por aqui as lições.
Que Deus abençoe muito seu ministério!
A paz!