2º Trimestre/2021
Texto Base: Mateus 7:28,29;
Atos 13.1; Romanos 12:6,7; Tiago 3:1
"De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é
dada: [...] se é ensinar, haja dedicação ao ensino" (Rm.12:6,7).
Mateus 7:
28.E aconteceu que, concluindo Jesus
este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina,
29.porquanto os ensinava com autoridade
e não como os escribas.
Atos 13:
1.Na igreja que estava em Antioquia
havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé, e Simeão, chamado Níger, e
Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo.
Romanos 12:
6.De modo que, tendo diferentes dons,
segundo a graça que nos é dada: se é profecia, seja ela segundo a medida da fé;
7.se é ministério, seja em ministrar;
se é ensinar, haja dedicação ao ensino;
Tiago 3:
1.Meus irmãos, muitos de vós não sejam
mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos do Dom Ministerial de Mestre. O ensino das
Escrituras Sagradas é de fato um Ministério. Está escrito: “Ele mesmo
concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e
outros para pastores e mestres”. O Ministério de ensino das
Escrituras Sagradas é o Ministério do discipulado, um Ministério contínuo e
permanente.
Na Grande
Comissão de Jesus, Ele ordenou: ”fazei discípulos...ensinando-os a
guardar todas as coisas que vos tenho mandado” (Mt.28:18-20). No princípio da
Igreja, “todos os dias, no templo e nas residências, não cessavam de ensinar,
e de pregar Jesus, o Cristo” (At.5.42).
O
apóstolo Paulo fez a seguinte recomendação na epístola aos Romanos: “se é ministério, seja em ministrar; se é
ensinar, haja dedicação ao ensino” (Rm.12:7). Ao instruir Timóteo acerca do seu
ministério, ele afirmou: “... aplica-te à leitura,
à exortação, e ao ensino” (1Tm.4:13); “Prega a palavra, insta a
tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda longanimidade e ensino”
(2Tm.4:2). Disse mais: “É necessário, pois, que o bispo seja
irrepreensível, marido de uma só mulher, temperante, sóbrio, ordeiro,
hospitaleiro, apto para ensinar” (1Tm.3:2).
A Palavra
de Deus é um tesouro inesgotável e indispensável para o nosso crescimento
espiritual. Por isso, precisamos estudá-la periódica e sistematicamente, a fim
de que os resultados do ensino sejam evidentes na vida dos nossos irmãos em Cristo.
I. JESUS, O MESTRE POR EXCELÊNCIA
Se houve
um título que Jesus sempre aceitou foi o de Mestre (João 13:13). Na terra, Ele
era o Mestre por excelência. Como Filho de Deus, Sua missão era instruir aos
outros como conhecer a Deus. Ele ensinava enquanto andava com os seus
seguidores - “Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas...” (Mt.4:23).
Ele ensinou em praias, em montes, em casas, caminhando, em sinagogas e no
templo. Os métodos foram os mais variados, mas Ele preferia usar uma história
ou uma parábola, isto é, as coisas simples e usuais do cotidiano. Lucas, ao
sintetizar o ministério terreno de Jesus, no início do livro de Atos dos
Apóstolos, disse que Jesus, na terra, veio “fazer e ensinar” (Atos 1:1). Em
resumo, Jesus era o Mestre por excelência porque:
- Ensinava
com “autoridade” (Mt.7:29). Este era o fator que distinguia o Seu ensino de todos os
outros mestres de seu tempo. O que causava admiração nas pessoas não era o que
Jesus ensinava, pois a maioria dos seus ensinos já era do conhecimento do povo,
mas o fato de que Ele, ao contrário dos escribas e fariseus, tinha um
testemunho de vida condizente com o que ensinava. Jesus vivia o que ensinava -
o grande diferencial entre seu ensino e o dos demais mestres; daí porque seu
ensino tinha “autoridade”.
- O Seu
ensino era acessível a todo povo. Ao contrário dos “sabichões” da sua época e
dos nossos dias, não queria demonstrar conhecimento, mas tinha por missão fazer
com que Deus fosse compreendido pelo povo. Utilizando-se de circunstâncias da
vida de seus ouvintes, permitia-lhes enxergar as “coisas de cima”, as
realidades espirituais que, se fossem ensinadas em sua profundidade e
dificuldade, estariam acima da capacidade de qualquer doutor, como Jesus deixou
claro em seu diálogo com o “mestre de Israel” Nicodemos (João 3:9-12).
- Usava
uma linguagem acessível, universal. Nunca Jesus fez uso de histórias fantasiosas,
de coisas complexas, de enigmas que exigissem capacidade invulgar para decifrá-los.
Ele ensinava por Parábolas, ou seja, Ele revelava verdades desconhecidas com
base em verdades e fatos conhecidos - eram histórias retiradas do cotidiano, do
dia-a-dia dos seus contemporâneos, cuja profundidade é mostrada com elementos
absolutamente triviais e simples. Ele usava figuras, ou pessoas que todo povo
conhecia, tal como a figura de um Semeador que saiu a semear; da Semente que
caiu na boa ou na terra ruim; de um Pastor que perdeu uma ovelha; de um Filho
que abandonou a casa de seu pai; de uma Moeda perdida por uma mulher; de um
Vestido novo que não podia ser remendado com pano velho; de um Pescador jogando
sua rede para pescar; de um Construtor que construiu sua casa sobre a areia.
Eram dezenas de histórias e de figuras sobejamente conhecidas. Isto é uma
eloquente demonstração da “simplicidade que há em Cristo” (2Co.11:3). Ao
contemplarmos este modelo de ensino de Jesus, devemos sempre lembrar que na Igreja
Local o Ministério de ensino deve ser exercido com simplicidade, pois não será
a complicação, a erudição excessiva, que conferirá profundidade ao ensino, e as
parábolas são a prova disto.
- Ensinava
pelo exemplo.
O exemplo é essencial para que o ensino tenha eficácia, e Jesus foi, em todos
os aspectos, um exemplo como Mestre, demonstrando na prática as verdades que
anunciava. Uma das grandes características dos ensinos religiosos dos dias de Jesus
era, precisamente, a dissintonia entre o que era falado e o que era vivido. A
maior crítica que Jesus fez aos fariseus, tidos e havidos como os “mais santos”
do período, era o fato de que ensinavam, mas não viviam o que ensinavam (ler Mt.23:3,4).
Jesus, ao contrário, primeiro praticou para depois ensinar (Atos 1:1) e, por
isso, seu ensino tinha autoridade. Quando confrontado por seus inimigos em
relação ao pagamento de tributos, pegou uma moeda e deu-lhes uma lição
importante acerca do respeito ao Estado. César Moisés de Carvalho, pedagogo e
autor do livro Marketing para a Escola Dominical, editada pela CPAD, disse
certa vez que o problema de muitos cristãos de nossos dias não é a ortodoxia –
saber fazer o que é certo à luz da Bíblia -, e sim a ortopraxia – viver aquilo
que sabemos ser o certo à luz da Bíblia. Aqui reside um dos maiores desafios
para os que se dedicam ao ensino.
1. O Mestre
da Galileia
O apóstolo
Mateus afirmou que “Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas suas
sinagogas, e pregando o evangelho do Reino [...] (Mt.4:23). Estrategicamente, o
Mestre da Galiléia começou seu ministério de ensino nas sinagogas. A sinagoga
era a instituição mais importante na vida de um judeu. Só havia um Templo, o Templo
de Jerusalém, mas havia uma sinagoga em cada comunidade judaica. Se o Templo
era o lugar dos sacrifícios, a sinagoga era o ambiente do ensino. Barclay diz
que “as sinagogas eram as universidades religiosas daquela época”.
Segundo o
pr. Hernandes Dias Lopes, “Jesus foi o Mestre dos mestres, o mensageiro e a
mensagem, o profeta e a profecia, o professor e o conteúdo do seu ensino. Não
ensinou a doutrina dos rabinos nem o pensamento de sua época; Ele ensinou as
Escrituras, mostrando que Ele era o cumprimento de toda a esperança prometida
no Antigo Testamento. Jesus não foi um alfaiate do efêmero, mas o escultor do
eterno. Ele não ensinou nulidades, mas a verdade eterna.
Jesus ensinou
nas sinagogas, lugar onde as pessoas se reuniam para ouvir a leitura da Lei.
Ensinou no lugar onde as pessoas buscavam conhecimento. Ensinou com fidelidade,
com regularidade, com irretocável precisão”. Segundo o pr. Elinaldo Renovato, “os
que o ouviam só tinham duas opções: amá-lo ou odiá-lo. Era impossível ouvi-lo e
ficar indiferente. Jesus transtornava a consciência do acomodado e aquietava o
coração do perturbado”.
Nós, de
igual forma, imitando a Jesus, devemos, no cumprimento da Grande Comissão, ensinar
a Palavra de Deus aqui e acolá, em nossa terra e além-fronteira, usando todos
os métodos legítimos e disponíveis, até que as pessoas cheguem à maturidade e
alcancem a estatura de varão perfeito.
2. O Mestre
divino
Por ser
divino, Jesus dava às Escrituras o sentido divino, porque o Espírito de Deus
nEle estava. As palavras que saíam de sua boca eram “palavras de graça”, ou
seja, palavras que vinham com poder, como resultado de uma intimidade entre
Deus-Pai e Ele. Nicodemos, um mestre em Israel, fariseu, certa feita visitou
Jesus e ficou admirado com a excelência de seu ensino, reconhecendo que Jesus
era uma Pessoa incomum de seu tempo (João 3:1,2). Ele disse a Jesus: “... Rabi,
bem sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais
que tu fazes, se Deus não for com ele” (João 3:2). Embora Nicodemos tivesse reconhecido
Jesus como um Mestre vindo da parte de Deus, ou seja, um Mestre divino, com
capacidade de operar grandes sinais e maravilhas, sua fé era deficiente, pois
se baseava apenas no testemunho dos milagres (João 3:2). Jesus, porém, destacou
a necessidade da fé salvadora que produz a transformação da vida.
3. O Mestre
da humildade
Jesus
era o Mestre por excelência porque ensinava com humildade sincera. Uma das
passagens do Novo Testamento que mostra a humildade de Jesus é a de João
13:4,5, quando Ele lavou os pés dos discípulos. O texto diz o seguinte:
“levantou-se da ceia,
tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois, pôs água numa bacia e
começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que
estava cingido”.
À época de
Jesus, era costume que, antes de se assentarem à mesa, as pessoas lavassem os
pés. Os discípulos tinham vindo de Betânia, e seus pés estavam cobertos de poeira.
Eles não podiam assentar-se à mesa antes de lavar os pés. Só que lavar os pés
era serviço de escravo, principalmente do escravo mais humilde de uma casa.
Jesus estava no cenáculo com eles, e ali não havia servos. Jesus, então,
esperou que eles tomassem a iniciativa de lavar os pés uns dos outros. Mas eles
eram orgulhosos demais para fazer um serviço de escravo. Ninguém tomou a
iniciativa. Aliás, os discípulos abrigavam no coração a dúvida de quem era o
mais importante entre eles (cf. Lc.22:24-30). O vaso de água, a bacia, a toalha-avental
dispostos ali à vista de todos, os acusavam. Esses utensílios constituíam uma
acusação silenciosa contra aqueles homens. Mesmo assim, ninguém se mexia. Eles
pensavam que privilégios implicava grandeza, reconhecimento, aplausos e
regalias. Jesus, porém, reprovou a atitude deles, mostrando-lhes que, entre os
que o seguem, mede-se a grandeza de qualquer um pelo serviço prestado.
Foi no
meio de tais homens que se sentiam muito importantes, entre eles Judas
Iscariotes, o traidor, que Jesus se levantou; mesmo sabendo que era o Filho de
Deus e que tinha vindo do Céu e voltava para o Céu, Jesus cingiu-se com uma
toalha, deitou água em uma bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los
com a toalha. Jesus repreendeu o orgulho dos discípulos com sua humildade. Jesus
mostrou que, no Reino de Deus, maior é o que serve.
O que
Jesus teve em mente não foi um rito externo, o lava-pés, mas uma atitude
interna de humildade e vontade de servir. A grandeza no Reino de Deus não é
medida por quantas pessoas estão a seu serviço, mas a quantas pessoas você está
servindo. Devemos ter o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus. Ele,
sendo Deus, não julgou com usurpação o ser igual a Deus. Ele se esvaziou. Ele
se humilhou. Ele sofreu morte humilhante, e morte de cruz.
Jesus,
sendo o Soberano do Universo, cingiu-se com uma toalha. Sendo o Rei dos reis,
inclinou-se para lavar os pés sujo dos seus discípulos. Ah, como precisamos dessa
lição de Jesus hoje! Temos hoje muitas pessoas importantes na Igreja, mas poucos
servos. Muita gente no pedestal, mas poucas inclinadas com a bacia e a toalha
na mão. Muita gente querendo ser servida, mas poucas prontas a servir. A
humidade de Jesus repreende o nosso orgulho. Devemos nos revestir de humildade,
porque aquele que se humilhar será exaltado. O cristão mais pobre, o mais fraco
e o mais ignorante pode todos os dias encontrar uma ocasião para praticar amor
e humildade. Cristo nos ensinou a fazer isso.
II. O ENSINO DAS ESCRITURAS NA IGREJA DO PRIMEIRO SÉCULO
Na Igreja
do primeiro século da era cristã, o Ministério de Mestre incluía não só o
ensino aos discípulos, mas também a defesa da Palavra diante dos adversários da
fé cristã. Estas duas esferas de atuação faziam parte do ministério da liderança
didática, objetivando o cumprimento da Grande Comissão: “Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado.
E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século “ (Mt.28:19,20).
1. Uma
ordem de Jesus
Foi na
Galileia, num Monte designado pelo Senhor, que Jesus entregou aos seus discípulos
a Grande Comissão. Observe que Jesus não deu uma grande sugestão, mas uma grande
Comissão, ou seja, uma ordem expressa, e a ordem é: “Ide...fazei discípulos... batizando-os...ensinando-os
a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei...” (Mt.28:19,20). Qualquer ordem dada
pela autoridade máxima do universo exige atenção e respeito total. Portanto, ao
proferir a ordem, Jesus quer ser obedecido de forma clara, completa e urgente.
Observe
que Jesus não mandou fazer fãs; quem precisa de fãs são os artistas. Jesus não mandou
fazer admiradores; os atores e jogadores de futebol é que buscam admiradores.
Jesus não mandou apenas evangelizar e ganhar almas, abandonando os bebês
espirituais; Ele quer discípulos. Jesus não mandou apenas recrutar crentes e
encher as Igrejas de pessoas; Ele quer convertidos maduros.
Um discípulo
é um seguidor, e isto implica renunciar a tudo por amor a Jesus e guardar as
palavras de Jesus. Segundo o Rev. Hernandes Dias Lopes, “hoje, temos muita
adesão e pouca conversão; temos grandes ajuntamentos e pouco quebrantamento; temos
Igrejas cheias de pessoas vazias de Deus e vazias de pessoas cheias de Deus; temos
grandes multidões que buscam as bençãos, mas não a Deus. São religiosos, mas não
discípulos de Cristo”.
Observe
que uma das implicações no cumprimento da Grande Comissão é o ensino das
Escrituras Sagradas. Três coisas merecem destaque nesse ensino:
- Em
primeiro lugar, ensinar o que Jesus mandou (Mt.28:19). Não se trata de
ensinar doutrinas de homens, modismos, tradições humanas e legalismo, mas ensinar
o que Jesus ordenou.
- Em
segundo lugar, ensinar todas as coisas (Mt.28:19). Ensinar não apenas as
coisas mais agradáveis. Devemos ensinar toda a verdade, toda a Palavra, e dar não
apenas o leite, mas também o alimento sólido.
- Em
terceiro lugar, ensinar a guardar (Mt.28:19). Ensinar não é apenas guardar na cabeça
doutrinas certas, mas é obedecer a essas doutrinas. O discípulo é aquele que
obedece. Hoje, as pessoas querem conhecer, mas não querem obedecer. Jesus
disse: ”Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (João 15:14).
Que assim seja!
2. A
doutrina dos apóstolos
“E perseveravam na
doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (Atos
2:42).
Neste
texto é informado que no princípio da Igreja os discípulos “perseveravam na
doutrina dos apóstolos”. Essa “doutrina” tinha como fundamento os ensinos de
Cristo. Esses ensinamentos foram transmitidos incialmente de forma oral e,
hoje, preservados no Novo Testamento. Foi fundamentada nessa “doutrina” que a
Igreja primitiva em apenas três anos chegou aos pontos mais distantes do
Império Romano (Rm.1:8). Qual o segredo? O segredo foi que eles estavam
consolidados no ensino da Palavra de Deus, mantinham-se firmes “na comunhão, no
partir do pão e nas orações”. Em cada alma havia temor e reverência. E muitas
maravilhas eram operadas pelo Senhor através deles (Atos 2:42-47). A preocupação
dos apóstolos era orar e ensinar a Palavra de Deus à Igreja, ou seja, dar
doutrina (Atos 6:2,4). E os líderes atuais o que dizem sobre isso?
3.
Ensinamento persistente
No
início da Igreja o ensino das Escrituras Sagradas era persistente e sistemático.
O povo era desejoso pelo alimento espiritual, e os apóstolos eram constantes e
incansáveis no mistério de ensino. Depreendemos isso do próprio texto sagrado:
“E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar...” (At 5:42).
Paulo foi
um exemplo de dedicação e persistência no ensino das Escrituras Sagradas. Ele não
mediu tempo para ensinar, instruir os crentes. Ele disse: “como nada, que útil
seja, deixei de vos anunciar e ensinar publicamente e pelas casas” (Atos 20:20).
Em Trôade, ministrou aos irmãos até altas horas – “No primeiro dia da semana,
estando nós reunidos como o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem
no dia seguinte, exortava-os e prolongou o discurso até à meia-noite” (Atos
20:7,8). Nem o incidente que aconteceu com o jovem Êutico lhe arrefeceu o
entusiasmo e o ardor doutrinário – “Subindo de novo, partiu o pão, e comeu, e
ainda lhes falou largamente até ao romper da alva” (Atos 20:11). O ardor pelo
ensino também aconteceu em Antioquia - “todo um ano se reuniram naquela Igreja
e ensinaram muita gente” (Atos 11:26). Também em Corinto Paulo permaneceu “um
ano e seis meses, ensinando entre eles a Palavra de Deus” (Atos 18:11b).
Pedro também
era persistente e insistente no ensino - “Pelo que não deixarei de exortar-vos
sempre acerca destas coisas, ainda que bem as saibais e estejais confirmados na
presente verdade” (2Pd.1:12). Ele sabia que os crentes aos quais a sua Carta foi
enviada já possuíam certeza dos ensinos fundamentais, porém dava instrução
contínua. Pedro sabia que em breve partiria para a glória (2Pd.1:14), e seu
desejo era que, após a sua partida para estar com o Senhor, o ensino bíblico
estivesse na mente de todos (2Pd.1:15).
A Bíblia
diz que o conhecimento é vital. O Israel do Antigo Testamento se apostatou da
fé em Deus porque deixou os caminhos do Senhor, porque deixou de conhecer a
Jeová. Por causa disso o Senhor destruiu Israel espalhando-o por todo o mundo.
O Senhor lamentou essa situação: “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o
conhecimento” (Oseias 4:6). E conhecimento não se adquire sem um ensino
persistente e inspirado pelo Espírito Santo. Vivemos dias em que este
ministério nunca foi tão necessário.
III. A IMPORTÂNCIA DO DOM MINISTERIAL DE MESTRE
Ensinar
é um Ministério espiritual por ser o manejar da Verdade revelada pelo Espírito
Santo. O propósito divino deste Ministério é o desenvolvimento espiritual de
cada crente, até Cristo ser formado em cada coração (Gl.4:19). Paulo considerou
o Ministério de Mestre como algo destacado e importante nos planos de Deus. Ele
afirmou ser “constituído pregador, apóstolo e mestre” (2Tm.1:11). Frequentemente
tem sido dito: “Se você não puder ser pastor, evangelista ou missionário, seja
um professor!”. Tal conceito não tem apoio na Bíblia, pois o Mestre é
classificado com o pastor e o evangelista, como sendo um dom à Igreja.
1. Uma
necessidade urgente da Igreja
Sem
dúvida, o Dom Ministerial de Mestre é necessidade urgente e essencial, pois o
ensino da Palavra de Deus é uma necessidade urgente, necessidade esta que a Igreja
Local deve estar sempre consciente. Entretanto, é com tristeza que vemos que,
assim como a Igreja está dispersa com respeito à evangelização, também o está,
e até com maior intensidade ainda, com respeito ao ensino persistente e
sistemático da Palavra de Deus.
Mas, para
cumprir a tarefa do ensino da Palavra, é preciso, em primeiro lugar, que a
Igreja se veja dotada de homens e mulheres preparados para ensinar. Um dos grandes problemas que temos visto nas Igrejas
Locais da atualidade é o despreparo das pessoas para ensinarem a Palavra de
Deus. Quando falamos em preparo, não estamos nos referindo a escolaridade ou a
conhecimento secular de alguém, mas, sobretudo, a seu conhecimento bíblico, a
sua capacidade de manejar bem a Palavra da Verdade (1Tm.2:15).
Atualmente
temos visto que, à medida que a escolaridade secular nas igrejas evangélicas
tem subido, o conhecimento bíblico tem decrescido. Não temos medo de errar ao
dizer que, se em décadas passadas, grande parte dos obreiros das Assembleias de
Deus era composta de pessoas iletradas, semialfabetizados, mas que tinham
profundo conhecimento bíblico, hoje em dia estamos repletos de obreiros dotados
de diplomas universitários, mas que, biblicamente, são completamente analfabetos.
O que é isto? Falta de estudo contínuo da Palavra de Deus.
Para que
o povo de Deus adquira maturidade espiritual é indispensável que demos o devido
valor à Palavra de Deus, Palavra esta que o próprio Deus engrandeceu a tal
ponto de a pôr acima de Si mesmo (Sl.138:2).
Sem esta
atitude, de nada adiantará desenvolver “cursos teológicos”, “cursos bíblicos”,
“cursos de preparação de obreiros”, e tantas outras coisas que têm sido
inventadas e postas em prática na atualidade. Se as pessoas não se conscientizarem
de que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que procede da boca
de Deus (Mt.4:4), um discipulado (crente novo ou antigo na fé) não terá êxito
em qualquer Igreja Local. Foi isto que os apóstolos sempre fizeram, a ponto de
terem arrogado para si esta tarefa e tê-la posto como prioridade absoluta no
princípio da Igreja.
A
ausência de ensino nas Igrejas Locais é um dos fatores primordiais pelos quais
se dá o esfriamento do amor da esmagadora maioria das pessoas que se disseram
serem cristãs (Mt.24:12). Precisamos pertencer ao grupo minoritário, ao grupo
daqueles que, por terem fome e sede de justiça, serão fartos (Mt.5:6); aqueles
que, mesmo tendo a multidão sido despedida, mantém-se aos pés do Senhor com
interesse em dEle aprender (Mt.13:36); aqueles que não se acham autossuficientes,
como a Igreja de Laodicéia (Ap.3:17), mas que, como o salmista, se acha pobre e
necessitado (Sl.40:17a), carente do aprendizado de Cristo.
2. A
responsabilidade de um discipulado contínuo
É
importante dizer que o discipulado cristão nunca termina quando o novo
convertido é batizado nas águas. Ninguém deixa de ser discípulo pela idade ou
por tempo de serviço. O discipulado cristão é para toda a vida!
Na Igreja
do primeiro século o exercício deste ministério era contínuo; diz o texto
bíblico: "E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de
ensinar..." (Atos 5:42). Sem o ensino, os crentes ficam sem o conhecimento
indispensável ao seu crescimento na graça e no conhecimento de Nosso Senhor
Jesus Cristo (cf. 2Pd.3:18).
Notadamente
nos dias de apostasia em que vivemos, muitas Igrejas Locais não têm sido mais
“luzes do mundo” nem tampouco “sal da terra”. Em vez de iluminarem o mundo,
estão se envolvendo com as trevas; em vez de conservarem a pureza, o sabor e o
fervor espiritual, estão elas completamente comprometidas com o pecado, não
mais se distinguem dos incrédulos, sendo verdadeiros “icebergs” espirituais.
Por que isto está acontecendo? Porque muitas Igrejas Locais estão, a exemplo das
dez tribos do reino do norte (o reino de Israel), sendo destruídas por falta de
conhecimento das Escrituras, por falta de conhecimento para confrontar os
falsos mestres. A Palavra de Deus não é mais ensinada nessas Igrejas; nelas, a
Bíblia foi substituída por outros livros, por outros ensinamentos. Discursos de
teólogos, psicólogos, filósofos, cantores e compositores tomaram o lugar da
Palavra. Os poucos que realmente se convertem a Cristo nestes lugares ficam
desamparados, sem instrução nem nutrição espiritual e, por causa disso, crescem
sem raiz, sem firmeza e, como Jesus ensinou na parábola do semeador, não
resistem à angústia e perseguição (Mt.13:21).
A falta
de Palavra de Deus, a falta de ensino faz, também, com que muitos, embora
tenham algum crescimento, ante o sufocamento de doutrinas falsas, deixam-se
levar pelas riquezas ou pelos cuidados deste mundo e, por causa disto, também morrem
espiritualmente (Mt.13:22).
3.
Requisitos necessários ao Mestre
Em
linhas gerais, aquele que aspira o Ministério de Mestre precisa ser um crente
fiel, vocacionado por Jesus para esta nobre função (2Tm.2:10-13), espiritual e
seguro conhecedor das doutrinas bíblicas, além de ter comprovada capacidade
para ensinar. Os vocacionados têm esmero (dedicação) - “... se é ensinar, haja
dedicação ao ensino" (Rm.12:7b). Esmero ou dedicação significa
integralidade de tempo no Ministério - estar com a mente, o coração e a vida
nesse Ministério. É bom ressaltar que ser Mestre é diferente de ocupar o cargo
de mestre.
Apresentamos
alguns requisitos importantes para a Igreja reconhecer pessoas com o Dom Ministerial
de Mestre
a) Um salvo em Cristo.
Sem
dúvida, aquele que é detentor do Dom de Mestre, antes de tudo, é uma pessoa
salva em Cristo Jesus. Essa pessoa tem um relacionamento vital e real com Jesus
Cristo. Cristo é seu Salvador Pessoal - salvou-o de todo o pecado, e é também
Senhor e dono da sua vida. Além disso, vive na dependência do Espírito Santo. Jesus,
o Mestre divino, não realizou este trabalho sem está cheio do Espírito Santo
(Is.61:1). Em todas as coisas, Jesus dependia do Espírito Santo. Os discípulos
foram impulsionados pelo Espírito Santo (João 14:17; At.5:42). O Apóstolo Paulo
teve uma vida cheia do Espírito. O Espírito pensava através da mente de Paulo,
sentia através do coração de Paulo, olhava através dos olhos de Paulo, falava
através da voz de Paulo e operava através das mãos de Paulo (1Co.2:4-5; 2Co.1:21-22).
b) O hábito de ler. Como ensinaremos se
não lermos, se não estudarmos dedicadamente? O apostolo Paulo levava muito a sério
o hábito da leitura (cf. 1Tm.4:13; 2Tm.4:13). Em Romanos 2:21 está escrito: “Tu,
pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo?”. De acordo com Myer
Pearlman, o professor não pode compartilhar o que não compreende, nem pode
falar com autoridade se não tiver um conhecimento completo da matéria que
ensinará. Se você tem a intenção de entregar-se à dura tarefa de ensinar, leia
e estude sem cessar, leia com diligência acerca de tudo o que a Palavra de Deus
ensina em diversos níveis, e faça um estudo sistemático das Escrituras.
c) Preparo
intelectual. Em
2Timóteo 2:15 está escrito que devemos procurar, isto é, nos esforçarmos ao
máximo para nos apresentarmos a Deus aprovados, como obreiros que não têm de
que se envergonhar, que maneja bem a Palavra da Verdade. “Maneja”, aqui, denota
“saber dividir”, como um profissional que, com perícia, utiliza a sua
ferramenta de trabalho. Além de compreender o mundo da Bíblia (suas questões
culturais, linguísticas, exegéticas etc.), o mestre deve estar inteirado com o
conhecimento secular. O avanço das ciências, das tecnologias, as mudanças
rápidas no comportamento social, provocam questões que exigem, não só o
conhecimento bíblico e teológico, mas também secular.
d) Um coração em
chamas. Aquele
que é vocacionado ao Ministério do ensino, precisa ter um coração em chamas, ou
seja, um coração fervoroso. Para alcançarmos as mentes e os corações das
pessoas em nossos dias é indispensável que tenhamos uma mente preparada e um
coração de grande fervor espiritual.
Jesus, em Carta dirigida à Igreja de Éfeso,
disse: “tenho uma coisa contra ti, é que tu abandonaste o teu primeiro amor”
(Ap,2:4). E aqui há um grande risco, é que às vezes na defesa da verdade, a Igreja
pode perder a piedade. Conserva-se a ortodoxia, mas perde o seu fervor. Conserva-se
a sã doutrina, mas perde o seu entusiasmo. É ortodoxa de cabeça, mas herege de
conduta. Tem fogo, tem luz na mente, mas não tem fogo no coração. Isto é dramático!
Em nossas Igrejas, é raro ver heresia, mas falta fervor. Como dizia Joao Wesley
aos seus alunos: “meus filhos, ponham fogo no seu sermão ou ponham o seu sermão
no fogo”. Martin Loyd-Jones dizia que a verdadeira pregação era teologia em fogo.
Hoje nas Igrejas, falta fervor, falta corações em chama!
e) Uma vida exemplar. “Assim falai, assim procedei”
(Tg.2:12). Na escola secular, o professor pode ser um mero transmissor de
conhecimentos. Na igreja é diferente: o professor tem que ser didático e
exemplar. Ensinar não é passar conhecimento simplesmente por meio de uma aula expositiva;
é muito mais do que isso. Uma Aula fica completa quando existe coerência entre
o que é “falado” e o que é “vivido”. Pense nisso! Amém?
CONCLUSÃO
Diante
do que foi exposto, conclui-se que, na Igreja, o Dom ministerial de ensino é sobremodo
importante, pois visa o aperfeiçoamento da fé e edificação dos crentes, quer
seja novos convertidos ou não. Ser Mestre não é sinal de superioridade diante
dos que não possuem este Dom, significa mais responsabilidade diante de Deus.
Tiago exorta que se a pessoa deseja ser Mestre precisa tomar um grande cuidado:
“meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais
duro juízo" (Tg.3:1). Não que seja ilegítimo aspirar este Dom, principalmente
se Deus lhe deu essa capacidade, mas saiba de uma coisa, o Mestre terá um juízo
maior. Pelas nossas palavras seremos inocentados, ou pelas nossas palavras
seremos condenados.
Considerando
que o mestre é compelido a falar e que a língua é o último membro a ser dominado
(Tg.3:2), deve-se ter muito cuidado, ao aspirar tal responsabilidade. Quanto
mais conhecimento e experiência você tiver, mais responsável você se torna
diante de Deus e dos homens. O critério do juízo vai ser mais rigoroso. E aí
Tiago começa a colocar a questão da língua num aspecto muito interessante, que
é a questão do tropeço. Nós tropeçamos em muitas coisas, aquele que não tropeça
no falar é perfeito varão, é capaz de manter o controle de todo seu corpo (Tg.3:2).
Lembre-se: uma palavra falada é como uma flecha lançada, não tem jeito de
retorná-la, é como um saco de penas soltas do alto de uma montanha, não podemos
mais recolhê-las. Que o Espírito Santo nos conceda a Sua graça!
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Luciano de Paula Lourenço –
EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD
William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Novo e Antigo Testamento).
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Elinaldo Renovato de Lima. DONS ESPIRITUAIS & DONS MINISTERIAIS:
servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. CPAD.2014.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Efésios (Igreja, noiva gloriosa). Hagnos.
Carlos Alberto R. de Araújo. A Igreja dos Apóstolos. CPAD.
Wayne Grudem - Teologia Sistemática. Vida Nova.
Carlos Alberto R. de Araújo – A Igreja dos Apóstolos. CPAD
Rev. Hernandes Dias Lopes – De: Pastor A: Pastor. HAGNOS.
Rev. Hernandes Dias Lopes. 1Timóteo – o pastor, sua vida e sua obra.
Rev. Hernandes Dais Lopes. Mateus – Jesus, o Rei dos reis.
Excelente comentario,gloria a Jesus.
ResponderExcluirA muito tempo ministro em seus comentários Deus te abençoe
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