1º Trimestre/2019
Texto Base: 1Pedro 5:5-9
"Vigiai e orai, para que não entreis em
tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mt.26:41).
1Pedro 5:5-9
5. Semelhantemente vós, jovens, sede sujeitos
aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros e revesti-vos de humildade,
porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.
6. Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão
de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte,
7. lançando sobre ele toda a vossa ansiedade,
porque ele tem cuidado de vós.
8. Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso
adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar;
9. ao qual resisti firmes na fé, sabendo que
as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo.
Estamos iniciando mais um trimestre letivo. Ao longo dos três primeiros
meses do ano de 2019, estudaremos a respeito da "Batalha Espiritual".
Este tema será tratado estritamente sob o ponto de vista bíblico, alertando a
Igreja para o perigo do moderno movimento de “batalha espiritual”, com seus
excessos e que cresceu muito a partir da década de 90, trazendo confusão para a
vida dos crentes, e chamando a atenção para a verdadeira batalha espiritual à
luz da Bíblia. Por meio das Escrituras, veremos que o assunto não pode ser
ignorado, pois há uma batalha espiritual real, mas também devemos ser
cuidadosos quanto à superstição religiosa muito viva em nosso país. Precisamos
de uma visão bíblica e equilibrada.
I. A BATALHA ESPIRITUAL
“A autêntica batalha espiritual tem fundamentos bíblicos, mas nem tudo o
que se diz ser batalha espiritual tem sustentação nas Escrituras Sagradas”.
1. Conceito de Batalha Espiritual. Em linhas gerais, o conceito de Batalha Espiritual na Bíblia ressalta
que “todo o mundo está no maligno” (1João 5:19), que existem seres malignos e
espirituais que desde o princípio conspiram contra Deus e contra os seres
humanos para a destruição e o caos no mundo, e que os cristãos se opõem a essas
forças malignas pela pregação do Evangelho, pela oração e pelo poder da Palavra
de Deus. Os demônios existem, eles são reais e manifestam-se de várias
maneiras, principalmente nas pessoas possessas, e tais espíritos precisam ser
expulsos. A essa oposição dos crentes chamamos “batalha espiritual”, assunto
que todos devemos tratar com seriedade e muita responsabilidade.
2. Uma realidade bíblica. A batalha espiritual tem várias facetas, e ela começou lá no Éden,
quando, pela primeira vez o ser humano se viu frente a frente com o inimigo.
Desde então, batalhas são enfrentadas a cada dia, até que venha o grande Dia do
Senhor, quando Ele mesmo destruirá, para sempre, os principados e as potestades
malignas.
Conscientizemo-nos de que estamos numa guerra espiritual. Satanás mantém os
sistemas deste mundo em servidão a ele mesmo e não desiste com facilidade desse
seu domínio. Na realidade, ele resistirá a nós diante de cada passo que dermos
ao longo do caminho.
A evangelização do mundo envolve uma guerra espiritual. Quando procuramos
evangelizar, Satanás oferece-nos resistência (cf. 1Ts.2:18). Ele procura arrebatar
a Palavra que fora semeada nos corações humanos (cf. Mt.13:19), e ele semeia o
joio no meio do trigo (cf. Mt.13:24); esse joio são “os filhos do maligno”,
conforme ensinou o Senhor Jesus.
Uma coisa é certa: Jesus está edificando a Sua Igreja, e as próprias
portas do inferno não são suficientemente poderosas para impedir o avanço dela
(cf.Mt.16:18).
Quando entramos em batalha espiritual, temos a certeza da vitória final.
Satanás e todas as suas hostes foram derrotados de forma decisiva na cruz do
Calvário. Ali, Jesus, “tendo despojado os principados e potestades, os exibiu
publicamente” (Cl.2:15). Por meio de sua morte e ressurreição, Jesus “está à
destra de Deus, tendo subido ao Céu; havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as
autoridades, e as potestades” (1Pd.3:22).
O apóstolo Pedro, em sua primeira Epístola, retrata o sofrimento do
crente por causa do nome de Jesus Cristo. Esse sofrimento resulta da nossa
continua luta espiritual contra o pecado e contra a mornidão espiritual no meio
das igrejas locais.
Deve a igreja ser vigilante, atentar para todas as artimanhas do
adversário de nossas almas, que anda ao derredor buscando a quem possa tragar
(1Pd.5:8). Quando não vigiamos, quando não estamos alerta, o inimigo facilmente
se introduz na nossa vida e, o que é mais grave, acaba tendo acesso ao nosso
coração, como ocorreu com Judas Iscariotes (João 13:2). A igreja deve estar
sempre atenta e alerta, a fim de não permitir que o adversário venha a nos
enganar. Paulo exorta:
“No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no
Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para
que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; porque não temos
que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as
potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes
espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef.6:10-12).
3. O que não é Batalha Espiritual. Depois de tantos modismos a respeito de “batalha espiritual” nos últimos
anos, alguns devem ainda se perguntar: “afinal, a batalha espiritual é um erro
ou há suporte para essa doutrina na Bíblia?”. A Batalha Espiritual tem, sim,
fundamentação bíblica. No entanto, não chamaria o assunto “batalha espiritual”
de doutrina, tanto que não há na Declaração de Fé das Assembleias de Deus um
capítulo dedicado a isso.
Batalha Espiritual faz parte da vida cristã, porque os crentes vivem uma
constante luta contra o pecado. O problema surge quando são criados métodos e
práticas que não tem sustentação bíblica e são impostos como se o tivessem. Os
atuais modismos relacionados a isso são: maldição hereditária, mapeamento
espiritual, espíritos territoriais e a expulsão de demônios dos próprios
crentes. Estas são práticas que acompanham o ensino da falsa batalha
espiritual. São práticas relacionadas a crendices populares e que confundem o
discernimento do que seriam realmente os desafios da vida cristã; são práticas
que atrapalham o relacionamento do crente com Deus, a comunhão dos irmãos e
irmãs dentro da igreja, e o envolvimento da igreja com as pessoas de fora; são
práticas que, ao invés de transformarem vidas e produzirem novas criaturas que
glorifiquem o nome de Jesus, geram confusão e valorizam as obras malignas que
já foram vencidas na cruz.
Os divulgadores da suposta batalha espiritual desenvolveram teorias
estranhas à Bíblia sobre a composição do ser humano para explicarem a possessão
demoníaca dos centres. Interpretam corpo, alma e espírito do ser humano como
dependências isoladas entre si, contrariando toda a antropologia bíblica. Além
disso, eles pinçam textos da Bíblia aqui e ali, fora do contexto, para
ajustá-la às suas ideias. É bom enfatizar que a pessoa, quando liberta pelo
Senhor Jesus, passa a ser propriedade exclusiva de Jesus, passando a estar
debaixo da proteção divina.
É válido dizer que uns
ignoram a existência de uma batalha espiritual, enquanto outros a
supervalorizam a ponto de cair no fanatismo. Qual o ponto de equilíbrio quando
o assunto é batalha espiritual? Devemos tomar cuidado para não levar o povo ao
ceticismo e ao mesmo tempo conscientizá-lo da realidade da batalha espiritual
conforme a Bíblia.
II. PRINCIPAIS CRENÇAS DA PSEUDOBATALHA ESPIRITUAL
As principais
“crenças" da falsa batalha espiritual são o Mapeamento Espiritual, a
Maldição Hereditária e a ideia de que um salvo pode ser possuído pelos
demônios.
1. Mapeamento espiritual. Esta doutrina consiste na crença de que
Satanás designou seus sectários para cada país, região ou cidade. Isso é um
ensinamento herético. Os adeptos dessa heresia tomam como base a passagem de
Daniel 10:12,13, que trata da grande batalha travada entre o arcanjo Miguel e
as potestades com relação à resposta da oração de Daniel. Mas, esse
acontecimento nada tem a ver com espaço territorial dos demônios. Daniel estava
aspirando ao cumprimento da profecia de Jeremias a respeito do retorno do seu
povo à Terra de Israel; jamais pensou em “amarrar” o “espírito territorial” da
Pérsia, nem o anjo o instruiu para empreender tal “batalha”.
O príncipe da Pérsia (isto é, um anjo maligno) estava impedindo que
Daniel recebesse do anjo do Senhor a mensagem de Deus. Por causa desse
conflito, Daniel teve que esperar vinte um dias para receber a revelação. Esse
“príncipe da Pérsia” não era um potentado humano, mas um anjo satânico. Só foi
derrotado quando Miguel, o príncipe de Israel (Dn.10:21), chegou para ajudar o
anjo mensageiro. Os poderes satânicos queriam impedir o recebimento da
revelação, mas o príncipe angelical de Israel (Dn.12:1) demonstrou
superioridade (cf.Ap.12:7-12). Esse incidente nos dá um vislumbre das batalhas
invisíveis que são travadas na esfera espiritual a nosso favor. Note que Deus
já tinha respondido a oração de Daniel, mas que a ação satânica retardou a
resposta da mensagem por vinte e um dias. Visto que o crente sabe que Satanás
sempre quer impedir nossas orações (2Co.2:11), deve perseverar na oração
(cf.Lc.18:1-8).
Outra passagem bíblica que usam para propagarem este absurdo doutrinário
é Marcos 5:1-20, onde é tratado acerca do endemoninhado gadareno. Os demônios
que estavam no gadareno rogavam a Jesus que os não enviasse para fora daquela
província (cf.Mc.5:10), porque Jesus havia mandado os tais espíritos para o
abismo: “E rogavam-lhe que não os mandasse para o abismo" (Lc.8:31). Essa
é a razão de pedirem para ficar na região; não se refere, portanto, a espíritos
territoriais. Assim, fica claro que se trata de uma doutrina baseada numa
interpretação equivocada.
2. A maldição hereditária. Muitos, dizendo-se crentes, concordam que Jesus tenha vertido Seu
sangue, morrido e ressuscitado, mas negam que este sacrifício tenha o poder de
expiar o pecado do povo. Com a falsa doutrina da “maldição hereditária”,
defendem que os crentes, mesmo tendo aceitado a Jesus, não estão totalmente
livres do pecado, como se o sangue de Jesus fosse insuficiente, tendo de, mesmo
depois de aceitarem a Cristo (e, portanto, já estarem lavados no sangue de
Jesus), ter de quebrar maldições em “encontros” e outras atividades, para
complementar a sua purificação e salvação, algo que nada mais é que uma versão
moderna do pensamento gnóstico que não crê no poder do sangue de Jesus. No
entanto, a Bíblia nos diz que “… o sangue de Jesus nos purifica de todo pecado”
(1João 1:7), e que
“…fomos resgatados da nossa vã maneira de viver que por tradição recebemos de
nossos pais pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e
incontaminado” (1Pd.1:18b,19).
A doutrina da maldição hereditária resume-se nisso: se uma pessoa tem
problemas com adultério, pornografia, divórcio, alcoolismo ou tendências
suicidas é porque, no passado, alguém de sua família, não importa se avós,
bisavós ou tataravós, teve esse problema. Desse modo, a pessoa afetada pela
maldição hereditária deve, em primeiro lugar, descobrir em que geração seus
ancestrais deram lugar ao Diabo. Uma vez descoberta a tal geração, pede-se
perdão por ela, e, dessa forma, a maldição de família será desfeita. É uma
espécie de perdão por procuração, muito parecido com o batismo pelos mortos
praticado pelos mórmons.
Os que defendem essa doutrina torcem as Escrituras em busca de
sustentação bíblica. Eles têm como base Êx.20:5; 34:7 e Dt.5:9.
“Não te encurvarás a elas nem as servirás;
porque eu, o SENHOR, teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos
pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem”
(Êx.20:5).
Na verdade, os pais devem saber que seus pecados, negligência espiritual,
inclusive a de não se apartarem da impiedade do mundo podem levar a
consequências trágicas quanto a seus filhos. Os filhos sofrem por causa dos
pecados dos pais, no sentido de geralmente seguirem seus passos no caminho da
tentação ou da conivência espiritual, e daí adotam maus hábitos e atitudes que
os afastarão para longe de Deus, levando-os à destruição. Êxodo 34:6
diz:
“Passando, pois, o SENHOR perante a sua face,
clamou: JEOVÁ, o SENHOR, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande
em beneficência e verdade”.
Este texto afirma que o Senhor é um Deus cuja compaixão, bondade e perdão
se unem com a verdade, a santidade e a justiça. Pelo fato de Deus ser
misericordioso e compassivo, Ele não castigará ninguém, a não ser que, e até
que, rejeitem e desprezem o seu amor compassivo e longânimo.
Na cruz, todas as nossas ofensas foram perdoadas e que nada ficou para
ser pago ou resolvido entre nós e Deus (cf. Cl.2:14), de modo que o sacrifício
de Cristo é suficiente, sendo mentira satânica qualquer ensinamento contrário.
Não é preciso quebrar qualquer maldição hereditária depois que aceitamos a
Cristo, pois, como diz o apóstolo Paulo, fomos vivificados juntamente com Ele e
fomos perdoados de todas as ofensas, não restando coisa alguma, tudo foi
cravado na cruz (Cl.2:14). Havendo o perdão dos pecados, somos vivificados e o
nosso espírito passa a ter, novamente, ligação com o Espírito Santo e este
derrama em nós o amor divino. Este amor produz, na vida do justificado, boas
obras, o fruto do Espírito Santo (Gl.5:22).
3. "Crentes endemoninhados". Alguns pregadores neopentecostais, tendo como
base falsos conceitos teológicos, afirmam que o corpo, alma e espírito do ser
humano são elementos isolados entre si - tendo como gancho principal o ensino
herético de Kenneth Hagin, o qual ensina que o homem é um espírito que tem alma
e habita num corpo". Esses pregadores têm costumeiramente verberado em
suas igrejas que o crente em Cristo pode ficar endemoninhado. Não há respaldo
bíblico para tal afirmação. Do ponto de vista bíblico é impossível uma pessoa
regenerada pelo Espírito Santo e salva pela graça de Deus em Cristo Jesus, ter
em seu corpo a manifestação de um demônio, mesmo porque, as Escrituras afirmam
que, se somos de Cristo, o maligno não pode nos tocar (1João 5:18). Satanás não
possui poder para violar o templo do Espírito Santo. Somos de Deus, pertencemos
a Deus e o Espirito Santo é a garantia da nossa salvação. Caso alguém, que
se “diz cristão”, estiver endemoninhado, este com certeza nunca conheceu a
graça da Salvação, até porque, caso tivesse conhecido, Satanás jamais o
possuiria.
Reafirmo: O inimigo das nossas almas não pode em hipótese alguma possuir
o crente genuíno. O Crente cujos pecados foram perdoados por Cristo não pode
ficar endemoninhado. O crente nominal sim, mas o regenerado e habitado pelo
Espírito Santo, nunca!
III. VAMOS À BÍBLIA
Todos os cristãos genuínos reconhecem que a Bíblia é a Palavra de Deus
porque ela mesma, diversas vezes, o afirma. O cumprimento exato de tudo quanto
nela está desde os primórdios da história da humanidade é a prova irrefutável
de que ela é, sem sombra de dúvida, a Palavra de Deus, a revelação de Deus aos
homens. Muitos têm tentado, ao longo dos séculos, levantar-se contra o divino
Livro, mas todos têm fracassado em seu intento de calá-la ou desacreditá-la,
precisamente porque não se trata de uma obra feita pela mente, vontade ou
imaginação humana, mas tem sua origem, sua concepção e o zelo pelo seu
cumprimento diretamente em Deus. Portanto, ninguém tem o direito de fazer o que
quiser com a Bíblia.
Não há base bíblica para sustentar o Mapeamento Espiritual, a Maldição
Hereditária e a Possessão Demoníaca do Cristão. Vejamos o que Bíblia ensina nas
passagens reivindicadas pelos adeptos destas teorias.
1. Sobre o Mapeamento Espiritual. Estamos vivemos numa época em que o destaque sobre a batalha espiritual
se faz presente nos mais diversos segmentos evangélicos. A maioria das
pregações nos púlpitos tem sido rasas, sem substância, empobrecidas
teologicamente, cheia de modismos, unções e profetadas. Tem sido dada muita
evidência à batalha espiritual como se fosse uma doutrina essencial na igreja.
Infelizmente, as ênfases distorcidas sobre batalhas espirituais têm levado
crentes sinceros a viverem uma vida onde o pânico e o medo se fazem presentes.
Um método muito comum usado pelos adeptos da batalha espiritual é o
Mapeamento Espiritual de uma cidade. Segundo os pregadores desse movimento, a
igreja precisa conhecer a região onde está plantada. Para tanto, torna-se
necessário estudar a história do lugar onde se deseja evangelizar e discernir a
entidade espiritual que atua na região. Em outras palavras, isso significa
aprender a história da cidade, bem como as características econômicas,
políticas, sociais e morais que lhe são próprias. Feito isso, faz-se uma
identificação com o demônio que poderia lhe atribuir estas qualidades, “amarrando-o”
em nome de Jesus.
Que Cristianismo é esse? Que evangelho é esse? Que doutrinas são estas?
Ora, esse não é e nunca foi o evangelho anunciado pelos apóstolos. Antes pelo
contrário, este é um evangelho fabricado por alguns evangélicos que não tem a
Bíblia Sagrada como regra de fé e prática. O apóstolo Paulo é enfático quando
diz que “ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho
além do que já vos tenho anunciado, seja anátema” (Gl.1:8).
Infelizmente, muitas igrejas deixaram de ser a comunidade da Palavra de
Deus, cuja fé se fundamenta nas Escrituras Sagradas, para ser a comunidade da
pseudo-experiência e do misticismo.
Portanto, em lugar algum da Bíblia sugere-se a ideia de que certos
demônios tenham autoridade específica sobre certas cidades ou territórios e que
devam ser “amarrados”. Por acaso o Senhor Jesus nos ensina no sermão do monte a
descobrirmos os nomes dos demônios que oprimem uma nação, a fim de que os
amarremos? Por acaso a Bíblia nos relata o apóstolo Paulo escrevendo aos
crentes da igreja primitiva a fim de exortá-los a fazer um mapeamento
espiritual das cidades onde moravam? O apóstolo Paulo nunca tentou “amarrar
espíritos territoriais” para ensinar o evangelho ao mundo de sua época; portanto,
por que deveríamos fazê-lo?”. Por acaso você Pedro em suas epístolas exortando
os cristãos a descobrirem os pontos nevrálgicos de uma cidade a fim de que
vençamos Satanás?
A verdade é que em momento algum as Escrituras Sagradas nos concede
respaldo teológico para o ensino do mapeamento espiritual. Além disso, o Senhor
Jesus Cristo, em nenhum episódio, nos orienta a mapear regiões, ou descobrir
nomes de demônios e amarrá-los. O que nos cabe fazer é obedecer integralmente
suas ordens pregando o evangelho integral do Senhor Jesus Cristo a toda
criatura, crendo que ele é poderoso para a salvação de todo aquele que nele
crê, como também para expulsar da vida das pessoas toda sorte de espíritos
malignos.
2. Sobre a maldição hereditária. Como eu disse anteriormente, os adeptos da “maldição hereditária”, tomam
como sustentação dessa doutrina herética, o segundo mandamento do Decálogo,
onde diz que Deus visita "a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta
geração daqueles que me aborrecem" (Êx.20.5; Dt.5:9).
“... que visito a maldade dos pais nos filhos
até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem” (Êx.20:5).
Os expositores dessa falaciosa doutrina costumam usar este texto para
fundamentar a sua teoria. Afirmam que, se alguém tem problemas com adultério,
pornografia, divórcio, alcoolismo ou tendências suicidas, é porque alguém de
sua família, no passado - não importa se avós, bisavós ou tataravós -, teve
esse problema. Nesse caso, a pessoa afetada pela maldição hereditária deve, em
primeiro lugar, descobrir em que geração seus ancestrais deram lugar ao diabo.
Uma vez descoberta tal geração, pede-se perdão por ela, e, dessa forma, a
maldição de família é desfeita. Uma espécie de perdão por procuração, muito
parecido com o batismo pelos mortos, praticado pelos mórmons. Tal pensamento
não se sustenta biblicamente; é um erro crasso. A maldição está sobre quem
continuar no pecado dos pais - sobre “aqueles que me aborrecem” -, pontua com
clareza o mandamento. Não é o que acontece com o cristão que ama a Deus, e que
foi alvejado pela graça salvadora de Deus.
“Mas Deus prova o seu amor para conosco em que
Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo
justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque, se nós,
sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito
mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida” (Rm.5:8-10).
Quando alguém se converte a Cristo, torna-se nova criatura - "as coisas velhas já passaram; eis que tudo
se fez novo" (2Co.5:17). O apóstolo Paulo é mais claro ainda: “Nenhuma condenação há para os que estão em
Cristo Jesus” (Rm.8:1). Este versículo é a chave para nos livrar dessa
doutrina herética, a “maldição hereditária”, pregada em muitas igrejas. Quando
aceitamos a Jesus, todo o nosso passado de pecado é apagado por Deus, que não
se lembrará mais dele (Hb.10:17).
Portanto, as ameaças sobre as gerações daqueles que aborrecem o Senhor
Deus Jeová são para os descendentes que continuam envolvidos no pecado dos
pais, as sucessivas gerações que aprenderam os pecados dos seus ancestrais e
vivem ainda neles. Este princípio aparece outras vezes no Antigo Testamento
além das duas passagens do Decálogo: Êx.34:7; Nm.14:18; Jr.32:18.
Portanto, Deus não castiga os filhos pelos pecados de seus pais, a não
ser nos casos em que os filhos continuem nos pecados dos pais. Castiga os que o
"aborrecem" e não os arrependidos. Está escrito: "A alma que
pecar, essa morrerá"; "o filho não levará a maldade do pai, nem o pai
levará a maldade do filho" (Ez.18:20). Em vez disso, a maldade passa de
geração a geração pela influência dos pais e quando chega a seu ponto
culminante, Deus traz castigo sobre os pecadores (Gn.15:16; 2Reis 17:6-23;
Mt.23:32-36). Veja na íntegra o que diz Ezequiel 18:19-28:
19. Mas dizeis: Por que não levará o filho a
maldade do pai? Porque o filho fez juízo e justiça, e guardou todos os meus
estatutos, e os praticou, por isso, certamente viverá.
20. A alma que pecar, essa morrerá; o filho
não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho; a justiça do
justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele.
21. Mas, se o ímpio se converter de todos os
seus pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e fizer juízo e
justiça, certamente viverá; não morrerá.
22. De todas as suas transgressões que cometeu
não haverá lembrança contra ele; pela sua justiça que praticou, viverá.
23. Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte
do ímpio? Diz o Senhor JEOVÁ; não desejo, antes, que se converta dos seus
caminhos e viva?
24. Mas, desviando-se o justo da sua justiça,
e cometendo a iniquidade, e fazendo conforme todas as abominações que faz o
ímpio, porventura viverá? De todas as suas justiças que tiver feito não se fará
memória; na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que
pecou, neles morrerá.
25. Dizeis, porém: O caminho do Senhor não é
direito. Ouvi, agora, ó casa de Israel: Não é o meu caminho direito? Não são os
vossos caminhos torcidos?
26. Desviando-se o justo da sua justiça e
cometendo iniquidade, morrerá por ela; na sua iniquidade que cometeu, morrerá.
27. Mas, convertendo-se o ímpio da sua
impiedade que cometeu e praticando o juízo e a justiça, conservará este a sua
alma em vida.
28. Pois quem reconsidera e se converte de
todas as suas transgressões que cometeu, certamente viverá, não morrerá.
Portanto, se alguém de sua família pecou e não se arrependeu, ele pagará
por seu pecado, pois, “cada um dará conta de si mesmo a Deus” (Rm.14:12).
Alertamos, pois, a todos os crentes em Cristo Jesus para que não se
deixem seduzir pelos falsos ensinos a respeito da “maldição hereditária”, que
têm invadido as nossas igrejas, pois o apóstolo Paulo é bem claro ao dizer que,
na cruz, todas as nossas ofensas foram perdoadas e que nada ficou para ser pago
ou resolvido entre nós e Deus, de modo que o sacrifício de Cristo é suficiente,
sendo mentira satânica qualquer ensinamento em contrário.
Portanto, não se faz preciso quebrar qualquer maldição depois que
aceitamos a Cristo, pois, como diz o apóstolo, fomos vivificados juntamente com
Ele e fomos perdoados de todas as ofensas, não restando coisa alguma, tudo
tendo sido cravado na cruz. Aleluia!
3. Sobre a possibilidade de o cristão ser possesso. Alguns pregadores e ensinadores afirmam que o
cristão pode ser acometido de possessão demoníaca, e tomam como base bíblica o
caso de Saul, em 1Samuel 16:14, que diz: “E
o Espírito do SENHOR se retirou de Saul, e o assombrava um espírito mau, da
parte do SENHOR". É bom lembrar que Saul já estava desviado nessa
época. Está escrito: “... Porquanto tu
rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas
rei” (1Sm.15:23). Além disso, a Bíblia não fala de demônio, mas que “um
espírito o assombrava”.
Era triste a condição de Saul. O Espírito do Senhor se havia retirado
dele e ele estava possuído por demônios. Saul distanciara-se tanto de Deus,
que não mais podia retornar a Ele. Em ato deliberado de rebelião contra Deus,
ele chegou a consultar uma feiticeira para tratar de assuntos de seu interesse.
Saul sabia que, ao consultar uma feiticeira, estava agindo contra a vontade de
Deus. Ele sabia que estava consultando demônios. No seu orgulho deve ter
falado assim: "Se Deus não me ouve nem me responde, então procuro o
Diabo". De fato, ainda há pessoas assim em nossos dias. Isso está em moda.
Existem pessoas que odeiam a Deus e amam o Diabo, que desobedecem a Deus
conscientemente, e obedecem ao Diabo. Existem até "igrejas" que
adoram o Diabo.
Volto a dizer, portanto, que as Escrituras Sagradas são absolutamente
claras em afirmar que aquele que está em Cristo, o maligno não o toca (1João
5:18). Satanás não possui poder para violar o templo do Espírito Santo.
Somos de Deus, pertencemos a Deus e o Espirito Santo é o penhor da nossa
salvação.
Outro texto que os divulgadores dessa falaciosa teoria de que o cristão
pode ser possuído por demônios é o texto de João 6:70,71, que fala de Judas
Iscariotes:
“Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os
doze? E um de vós é um diabo. E isso dizia ele de Judas Iscariotes, filho de
Simão, porque este o havia de entregar, sendo um dos doze".
Depois de ver a multidão de discípulos bater em retirada, Jesus diz que,
no pequeno círculo dos Doze, um deles era um diabo e iria traí-lo. Jesus
demonstra aqui que conhece os corações, esquadrinha os escaninhos do futuro e
desmascara a falsa confissão religiosa. Jesus quis dizer claramente que Judas
não era crente, era, sim, um instrumento de Satanás. Portanto, o referido texto
não oferece nenhuma fundamentação plausível para justificar a teoria em
comento.
4. O homem segundo a Bíblia. Segundo a Bíblia Sagrada, o homem foi criado a partir do pó da terra
para demonstrar que é parte da natureza. Ele é a síntese da criação terrena.
Recebeu o fôlego de vida diretamente de Deus. A Bíblia declara que Deus formou
"o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o
homem foi feito alma vivente" (Gn.2:7). Isso mostra que o ser humano é uma
combinação do pó da terra com o sopro de Deus. O ser humano é um ser
tricotômico, possui corpo, alma e espírito (1Ts.5:23). O homem interior (alma e
espírito), considerada a parte imaterial do homem é sinal da sua relação
especial e peculiar para com o seu Criador. A alma é considerada a sede dos
sentimentos, do entendimento e vontade – é a marca da individualidade de cada
ser humano. Já o espírito é a sede da consciência da existência de uma relação
de dependência do homem em relação a Deus – é a ligação do homem com o seu
Criador. Portanto, a interpretação de que o corpo, alma e espírito do ser
humano possuem dependências isoladas entre si, contraria toda a antropologia
bíblica. Além do mais, o homem não é um espírito. Jesus disse que "um
espírito não tem carne nem ossos" (Lc.24:39).
CONCLUSÃO
É válido dizer que uns
ignoram a existência de uma batalha espiritual, enquanto outros a
supervalorizam a ponto de cair no fanatismo. Qual o ponto de equilíbrio quando
o assunto é batalha espiritual? Devemos tomar cuidado para não levar o povo ao
ceticismo e ao mesmo tempo conscientizá-lo da realidade da batalha espiritual
conforme a Bíblia. Devemos ter maturidade suficiente para não entrarmos no
fanatismo, mas discernirmos entre o que é verdadeiramente espiritual e o que é
manipulação esotérica.
Deve a igreja ser vigilante, deve estar
sempre atenta e alerta, a fim de não permitir que o adversário venha a nos
enganar. Conscientizemo-nos de que estamos numa guerra espiritual. Satanás mantém
todos os sistemas em servidão a ele mesmo e não desiste com facilidade desse
seu domínio. Na realidade, ele resistirá a nós diante de cada passo que dermos
ao longo de nossa jornada rumo à Pátria celestial.
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) -
William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 77. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação
Pessoal. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. João – as glórias
do Filho de Deus.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Como ser um
vencedor na batalha espiritual.
Rev. Augustus Nicodemus Lopes. Quatro
Princípios Bíblicos para se Entender a Batalha Espiritual.
Pr. Dr. Caramuru Afonso Francisco. O cuidado
com as falsas doutrinas. PortalEBD.
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